REFLEXÃO DOMINICAL III
"VÓS SEREIS MINHAS
TESTEMUNHAS!"
Certa
vez um amigo solicitou minha ajuda para atuar como testemunha a seu favor em um
processo trabalhista, antes tive de passar pelo advogado, que sendo um ótimo
profissional quis saber em detalhes tudo o que eu iria dizer diante do juiz,
caso fosse necessário. Um bom testemunho é feito com firmeza, convicção e
clareza de ideia, pois naquele momento a palavra é dele, e o advogado,
promotor, juiz, júri, e as partes envolvidas, apenas o ouvem, uma palavra
errada ou mal colocada, poderá por a perder todo o processo.
O
papel de uma testemunha é convencer quem não presenciou o fato, de que o
ocorrido é verdadeiro e não há nenhuma outra interpretação, por isso, se Jesus
fosse como um advogado altamente profissional e rigoroso, nem os discípulos e
muito menos nós, seríamos constituídos suas testemunhas.
No
evangelho desse terceiro domingo de páscoa, para início de conversa o
confundiram com um fantasma, e olhe que já era praticamente a terceira aparição
do Senhor, à comunidade. Os dois que iam para Emaús o confundiram com um
forasteiro, na comunidade, as duas primeiras reuniões foram com as portas
fechadas, por medo dos judeus, e ele já tinha aparecido uma vez, no evangelho
de hoje, mesmo ouvindo o depoimento dos discípulos de Emaús, e vendo Jesus
aparecer diante deles, ficaram assustados e cheios de medo. Jesus falou com
eles, mostrou as mãos e os pés, deixou-se tocar, ainda assim não acreditaram, a
ponto do próprio Senhor lhes censurar porque estavam preocupados e tinham
dúvidas no coração.
Em
uma audiência diante de um tribunal, essas testemunhas seriam no mínimo
desastrosas, dá até para imaginar o diálogo “Vocês viram Jesus ou não?”. “Não
sabemos Meritíssimo, se realmente era ele, parecia um fantasma, a gente o viu e
o tocou, ele até comeu um peixe assado, pode ser que seja ele mesmo”. Que “belo
testemunho”, não afirma e nem confirma...
No
final do evangelho, Lucas afirma que Jesus abriu a inteligência dos discípulos,
para entenderem as escrituras. O pensamento humano tem uma tampa, um limite
aonde chega a lógica humana depois de investigar e estudar muito alguma
questão; dali para frente, há um mistério que só pode ser compreendido por
aquele que crê, ou seja, ler as escrituras apenas com a nossa inteligência,
fechada no horizonte humano, não vamos entender coisa alguma. Mas se as lermos
na perspectiva de Jesus de Nazaré, sua vida, sua história, sua morte e
ressurreição, iremos compreender o sentido da vida, porque nele encontramos o
nosso verdadeiro DNA, a nossa origem e o nosso fim, em Cristo mergulhamos ao
encontro daquele que é a Vida em toda sua plenitude, pois nele fomos recriados,
mudou-se a referência.
Herdamos
sim, o pecado original de Adão e Eva, mas agora já sabemos a verdade, não há
possibilidade de a serpente nos enganar, pois conhecemos aquele que é mais
Poderoso e Sábio do que a serpente, nós conhecemos aquele que esmagou o mal com
a sua morte e ressurreição, não há duas alternativas, só uma e apenas uma, para
quem desejar a Salvação: Jesus Cristo, o Filho de Deus!
Adão
e Eva não sabiam o que iria lhes acontecer, não tinham ainda uma referência.
Nós temos: Jesus é alguém da Trindade que se fez homem, que se faz ouvir, que
se deixa tocar, que senta conosco em uma mesa e faz uma refeição, coloca todas
as cartas na mesa, abre o jogo, nada esconde como o tentador e enganador. Joga
às claras, ele é a luz do mundo, o único caminho e a única verdade, Ele só não
pode decidir por nós, por isso o seu reino e o seu projeto de vida nos são
apresentados como uma proposta, cabendo a nós usarmos o livre arbítrio para
aceitá-lo ou recusá-lo.
É
esse Jesus Cristo Alfa e Ômega, princípio e fim, Senhor absoluto da História e
Salvador do Homem, que nos congrega como Igreja, que nos lava de nossas culpas
e nos redime dos nossos pecados, que faz de nossas comunidades um pedacinho do
céu prometido, mais ainda, conhecendo nossas fraquezas e limites, sabendo que
temos muitas dúvidas no coração, nos alimenta com a eucaristia, fala em sua
santa palavra, abrindo a nossa inteligência com o seu espírito que vem do alto.
Embora
não sejamos confiáveis para serem suas testemunhas, ele mesmo nos qualifica:
nossas palavras nunca caem no vazio, pois é ele próprio que fala, e nós,
tocados pela graça da eucaristia, conseguimos superar os limites na nossa
relação com o próximo, e se quisermos, o nosso amor será sem limites como o de
Jesus, basta aceitar e querer. Isso se chama santidade de vida, que permite o
entrelaçamento em nós, do humano e divino, aquele que é santo, aceita
participar da nossa vida, mesmo com os seus limites e fragilidades.
Uma
vez encarnado em Maria de Nazaré, Jesus se encarna de novo em cada homem, e em
cada mulher, que esteja disposto a acolhê-lo, para fazê-lo nascer nos corações
de outros homens e mulheres, que ainda não o conhecem, é aí que acontece o
testemunho, onde o amor é imprescindível!
“Nisso
reconhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Qualquer
outro testemunho ou revelação, que não trouxer a exigência do amor a Deus e ao
próximo, é falso e não será digno sequer de atenção.
José da Cruz é
Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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