VI-REFLEXÃO DOMINICAL II:
"SERVIR E ACOLHER"
No mundo de hoje são servidas e acolhidas apenas as pessoas
muito importantes, que detêm algum poder no âmbito social, econômico –
político, e até religioso. Jesus inverte este quadro quando coloca no meio dos
seus discípulos uma criança que é por ele acolhida e abraçada, para
exemplificar o ensinamento de que “quem quiser ser o primeiro, que seja o
último e o servo de todos”.
Essa lição, precedida de um exemplo, foi necessária porque os
discípulos não compreendem o ensinamento da lógica do Reino, que se fundamenta
em uma relação diferente das demais e pelo caminho se questionam quem será
entre eles o maior, pensando em uma relação a partir do poder e domínio sobre o
grupo.
Podemos nos relacionar com as pessoas segundo a lei, as normas
ou o formalismo, tratando-as como cada uma merece ser tratada, mas não é este o
modo do justo se relacionar, porque ele pauta suas relações a partir da justiça
de Deus, que nunca nos tratou segundo nossas faltas, pois a sua misericórdia e
o seu amor são sempre sem medida.
Essa relação justa que sempre compreende e aceita o outro em
suas necessidades, desmascara o amor da mediocridade, que não é gratuito e nem
incondicional, põe em evidência a frieza das relações formais, marcadas pela
aparência e farisaísmo. É um modo de viver que acaba pondo a descoberto toda a
maldade que o ímpio traz escondido dentro de si “Eis que este menino foi posto
para se revelar os pensamentos íntimos de muitos corações” – dirá o velho
Simeão aos pais de Jesus, na apresentação no templo.
Por isso vemos, na primeira leitura, que a presença do justo
incomoda porque o seu modo de viver e de se relacionar com as pessoas não segue
os padrões normais estabelecidos pelo interesse e conveniência, mas sim segundo
a Justiça de Deus. O justo não precisa de nenhuma garantia prévia para agir
assim, ele confia totalmente em Deus, que o libertará das mãos dos seus
inimigos. Enquanto os homens constroem seus projetos a partir da firmeza das
relações com os outros, o justo só precisa e tem necessidade de uma coisa:
Deus!
O tema do sofrimento, no segundo anúncio da paixão nos introduz
no evangelho desse domingo onde os discípulos não compreendem e têm medo de
perguntar.
Jesus, o Mestre de Israel, só fez o bem a todos que o buscaram.
Os discípulos esperam talvez por um reconhecimento público o que poderia então
dar início a uma “virada” na história. Mas as palavras de Jesus causam um certo
desconforto e mal estar entre eles.
A Fé coerente com o evangelho, diante da qual precisamos mudar nossa
mentalidade e nosso agir, não é de fácil compreensão. Temos medo de pensar no
sofrimento e no transtorno que isso nos irá trazer. Podemos ser alvo de
perseguições e incompreensões. A conversão não é um bom negócio para quem
colocou sua expectativa de felicidade nos valores do mundo, na fama, no
prestígio e no poder.
No tempo de Jesus crianças e mulheres nem eram contados no
censo, e ao abraçar uma criança, Jesus está mostrando que os pequenos e sem
valor, sem vez e nem voz, são os mais importantes diante de Deus, invertendo a
ordem estabelecida, pois estes que nunca são lembrados, que nunca são servidos
e acolhidos, são sempre os primeiros no Reino de Deus e quem quiser ser
discípulo fiel do Senhor deverá adotar a linha do serviço aos pequenos, para
que o seu seguimento seja autêntico.
Para isso temos de contar com a sabedoria que vem de cima que é
pura, pacífica, condescendente, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem
parcialidade ou fingimento, como nos ensina Tiago na segunda leitura. Que a
nossa Igreja – Assembléia dos que crêem – seja para toda essa massa de
excluídos de nossa sociedade, uma porta aberta para acolher e os servir. Assim
seja!
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0292.htm#msg02
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