sexta-feira, 6 de setembro de 2024

VIII-REFLEXÃO DOMINICAL IV FEZ OUVIR OS SURDOS E FALAR OS MUDOS

 

 

VIII-REFLEXÃO DOMINICAL IV

FEZ OUVIR OS SURDOS E FALAR OS MUDOS

A liturgia da Missa deste domingo é um apelo à esperança, à plena confiança no Senhor. Num momento de tribulação, o profeta Isaías levanta-se para reconfortar o Povo eleito que vive no desterro e anuncia o alegre retorno à pátria e os prodígios que terão o seu pleno cumprimento com a chegada do Messias. Descerrar-se- -ão os olhos dos cegos e abrir-se-ão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como os cervos, e desatar-se-á a língua dos mudos; as águas jorrarão no deserto e as torrentes na estepe. Com Cristo, todos os homens são curados, e as fontes da graça, sempre inesgotáveis, convertem o mundo numa nova criação. O Evangelho da Missa narra a cura de um surdo-mudo. O Senhor levou- -o a um lugar à parte, pôs os dedos nos seus ouvidos e tocou-lhe a língua com saliva. Depois olhou para o céu e disse: “Effatha”, que quer dizer, “abre- -te”. E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e falava claramente. Os dedos significam a poderosa ação divina, e a saliva evoca a eficácia que lhe era atribuída para aliviar as feridas. Ainda que a cura tenha resultado das palavras de Cristo, o Senhor quis utilizar nesta ocasião, como aliás em outras, elementos materiais visíveis, para dar a entender de alguma maneira a ação mais profunda que os sacramentos iriam efetuar nas almas. Desde os primeiros séculos e durante muitas gerações, a Igreja serviu-se desses mesmos gestos do Senhor para administrar o Batismo, enquanto orava sobre a criança que era batizada: "O Senhor Jesus, que fez ouvir os surdos e falar os mudos, te conceda que a seu tempo possas escutar a sua Palavra e proclamar a fé" (cf. Ritual do Batismo, Batismo das crianças). Nesta cura que o Senhor realizou, podemos ver uma imagem da sua ação nas almas: ela livra o homem do pecado, abre-lhe os ouvidos para escutar a Palavra de Deus e solta-lhe a língua para que louve e proclame as maravilhas divinas. É uma ação que tem início no momento do Batismo e se prolonga pelo resto da nossa vida. Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do Evangelho, diz que a língua de quem está unido a Deus “falará do bem, porá de acordo os que estão desavindos, consolará os que choram... Deus será louvado, Cristo será anunciado” (Sermão 311, 11). É o que nós faremos se tivermos o ouvido atento às contínuas moções do Espírito Santo e a língua preparada para falar de Deus sem respeitos humanos. Não podemos ficar mudos quando devemos falar de Deus e da sua mensagem sem constrangimento algum, antes vendo nisso um título de glória: os pais aos seus filhos, desde a primeira infância e continuando depois, com dom de línguas, na puberdade e na juventude; o amigo ao amigo, com sentido de oportunidade, mas sem receios; o colega de escritório aos que trabalham ao seu lado, com o seu comportamento exemplar e alegre, e com a palavra que estimula a sair da apatia; o estudante aos colegas de Universidade com quem convive tantas horas por dia... Os motivos para falar da beleza da fé, da alegria incomparável de possuir a verdade de Cristo são muitos. Mas dentre eles destaca-se a responsabilidade recebida no Batismo de não deixar que ninguém perca a fé ante a avalanche de ideias e de erros doutrinais e morais que inundam o mundo e perante os quais muitos se sentem indefesos (cfr. Francisco Carvajal, Falar com Deus, Vol. 4). Deveríamos perguntar-nos todos os domingos: “a quem eu falei de Deus nesta semana?” Ou também: “a quem eu falarei de Deus na próxima semana?”

Dom Carlos Lema Garcia Bispo Auxiliar de São Paulo

https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-46b-50-23-domingo-tempo-comum.pdf

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