VII-REFLEXÃO DOMINICAL III: 25º Domingo do Tempo Comum – Ano B
– HOMILIA- Evangelho: Marcos 9,30-37
Alberto
Maggi *
Quem mais serve, mais próximo de
Cristo está
Jesus anuncia três vezes
a sua paixão aos discípulos e cada vez é uma ocasião de conflito, de
incompreensão, como vemos neste segundo anúncio, no capítulo 9 do Evangelho de
Marcos, versículos 30-37. Diz o Evangelho: «Jesus e seus discípulos
atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso», eles
têm uma ideia errada do messias, acham que o messias vai a Jerusalém
para tomar o poder. Então Jesus não quer que as pessoas conheçam esse
conceito errado.
Prossegue dizendo o
Evangelho: «estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho
do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão”». De
fato, é a segunda vez que Jesus “ensina” sobre sua paixão. O “Filho
do Homem” é o homem que tem a condição divina, ou seja, o homem com o Espírito
que atinge a plenitude de sua humanidade. Em contraste com o Filho do Homem,
que é o homem em plenitude, há homens que não têm o Espírito, que
não atingiram a maturidade de vida, e eles vão matar Jesus, eles não
podem suportar o plano de Deus para a humanidade.
O Evangelho nos diz,
ainda: «“Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”. Os
discípulos, porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar».
O número 3 indica que Jesus ressuscitará completamente, totalmente.
Jesus falou muito claramente, não falava por parábolas. Não é que seus
discípulos não entendessem suas palavras, eles as entendiam bem, mas eles
não querem que Jesus explique o que eles realmente tinham compreendido, ou
seja, que Jesus enfrentará o desastre em Jerusalém. E aqui se dá,
novamente, a reprovação que Jesus já havia feito aos discípulos que têm
ouvidos, mas não entendem.
Prossegue o Evangelho: «Eles
chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “O que discutíeis
pelo caminho?”» Jesus os questionou, eles têm medo de questioná-lo,
mas Jesus não! Ele pergunta o que eles vinham falando pelo caminho. Recordando,
quando o evangelista Marcos coloca a indicação do “caminho”, ele
sempre se refere à parábola dos quatro terrenos, onde a semente lançada pelo
caminho é a semente imediatamente comida pelos pássaros, que eram a imagem de
Satanás e Satanás é o poder.
Aqueles que nutrem sentimentos de
ambição acima dos outros e de sucesso são refratários à palavra do Senhor.
O Evangelho nos diz: «Eles,
porém, ficaram calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior.
Jesus sentou-se, chamou os Doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro,
que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”» Os discípulos
continuam com essa ideia de hierarquia, posição, superioridade e não
entendem a mensagem de Jesus. Jesus se coloca na posição de mestre,
sentado. O evangelista afirma que Jesus “chamou os Doze”, é estranho, ele está
em uma casa palestina, uma casinha, porque é que Jesus teve que
chamá-los? Porque estão longe, sim, estão fisicamente próximos, mas
estão distantes, seus discípulos o acompanham, mas na realidade não o seguem.
E, quando Jesus começa dizendo “Se alguém”, o evangelista constrói a expressão
como o convite que Jesus fez sobre a cruz: “se alguém quer vir atrás de mim”,
então é uma questão de seguimento.
Não, na comunidade de Jesus não
há pessoas superiores, mas pode haver o primeiro, ou seja, aquele mais próximo
dele.
Nesse caso, quanto mais a
pessoa se fizer a última, a serva de todos, mais estará próxima a Jesus! Aqui
o evangelista usa o termo grego “diaconos”: enquanto servo (doulos)
é aquele que é obrigado a servir, “diaconos” é aquele que, livre
e voluntariamente, por amor, se põe a serviço dos outros.
O evangelista continua: «pegou
uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: “Quem acolher em meu
nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está
acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”». Enquanto que, os Doze
tiveram que ser chamados, aqui, Jesus pega uma criança, toma alguém que está
perto dele. O termo usado pelo evangelista indica um rapazinho, o
qual, devido à sua idade e importância, é o último na sociedade judaica,
estando a serviço de todos. O Evangelho diz que Jesus “o colocou no
meio”, indicando que o rapazinho ocupa o lugar dele. Portanto,
Jesus coloca no meio, em destaque, aquele que serve. Ao abraçar o rapazinho, o
servidor de todos, Jesus se identifica plenamente com ele. E diz que devemos
nos identificar, também, com aqueles rapazinhos, os quais, com a sua atitude de
serviço, são a imagem do verdadeiro discípulo de Jesus! Porque
é disso que se trata, quem acolhe esses pequenos “em nome” dele, é a ele que
está acolhendo, e quem o acolhe, acolhe o Pai, que o enviou. Jesus assegura que
o serviço voluntariamente exercido é aquele que identifica o indivíduo com ele
e que é o acolhimento dos menores da sociedade que permite a presença
contínua do Pai na comunidade.
(*)Frade
da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano
* Traduzido e editado do italiano por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
Reflexão
Pessoal(**)
Impressiona
constatarmos o contraste que havia entre Jesus e seus discípulos, aqueles que
andavam mais próximos ao mestre. É, ainda mais, impressionante percebermos como
o evangelista não esconde a covardia, o medo e incoerências que os discípulos
manifestam a todo momento! E eles eram reconhecidos como as testemunhas
oficiais da ressurreição de Cristo (cf. 1Cor 15,5), representavam as doze
tribos do “novo Israel” que era a Igreja (cf. Mt 19,28; Lc 22,30; At 26,7; Ap
21,12). A sua forma de vida e trabalho era conhecida (cf. 1Cor 9,4-5).
Portanto,
a esses homens a quem a Igreja nascente tanto devia, não se tratou de modo
privilegiado! O Evangelho é bem honesto em deixar transparecer todos os seus
limites e imperfeições! Com isso, o Evangelho está nos dizendo, que:
“... o
melhor para a Igreja não é a boa imagem de seus dirigentes,
mas a verdade e a transparência do que cada qual vive no
seguimento de Jesus” (José María Castillo).
Na Igreja
primitiva, e isso é bom saber, a liberdade de falar com clareza, sem nada
ocultar (em grego: parresía) teve uma importância singular na
vivência da fé. Pena que, nos tempos que correm, em várias ocasiões, a Igreja
se preocupe mais em “ocultar”, em preservar a “boa imagem” de si mesma e de sua
hierarquia, ao invés de viver de modo transparente, obtendo, assim, mais
credibilidade!
Podemos
tentar fazer uma paródia do que o Evangelho deste domingo nos narra. Se, nos
tempos de Jesus, os discípulos perdiam tempo, energia e foco discutindo e
disputando entre si, a fim de ver quer seria o mais importante, o mais poderoso,
o mais influente; nos dias atuais, há muitos membros da hierarquia católica que
desperdiçam tempo precioso, energias, inteligência e foco com questões
secundárias, enquanto o nosso povo, está faminto de pão e da Palavra de
Deus!
Hoje, o
nosso povo, também, se parece com “ovelhas sem pastor”, como Jesus constatou em
sua época. No Brasil, voltou com força total e incrível velocidade: a fome, a
miséria, o desemprego, a inflação, a fuga da escola, a fuga de talentos do
nosso país, a ignorância, a superstição, a falsa fé cristã etc. etc. etc.
E nós,
vamos ficar assistindo a tudo isso sem tomarmos iniciativas, sem nos
envolvermos, sem nos sensibilizarmos? Jesus está nos exortando, tal como fez
aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37 e paralelos).
(**)Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo
https://padretelmojosefigueiredo.blogspot.com/2021/09/25-domingo-do-tempo-comum-ano-b-homilia.html
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