XIII- "INDAGAÇÕES..."
Lindolivo
Soares Moura (*) ( **)
"O coração tem razões
que a própria razão desconhece" (René Pascal)
O
que é, por favor me digam, essa tal de felicidade? Alguém que a tenha
encontrado, pode acalmar minha alma!? Terá ela a ver com idade, menor ou
maioridade, recordar ou esquecer!? Ou com chegada ou partida, o melhor ou pior
desta vida, com o que a vida pode ser? Terá algo a ver com o medo, vazio ou
desilusão, com aquilo que a paixão pode enfim oferecer? Ou terá a ver quem
sabe, com a falta ou a fartura, o desapego ou a usura, um certo modo de ser?
Ou
será talvez quem sabe, que essa tal de felicidade, tem a ver na verdade, com o
que chamamos simplicidade? Com a leveza de um semblante, de um sorriso
contagiante, que não conhece a maldade?Pergunto agora a você, que viveu um
pouco mais: terá a felicidade, algo a ver com a esperança, com recordar as
lembranças, do que não volta jamais!? Em reviver o passado, com tanta
imaginação, com tanto amor e paixão, que a mente descansa em paz!?
Que
me diga quem for adulto - redobro minha atenção - se tem valido de fato, tanta
preocupação. Se todo o tempo investido, o esforço redobrado, o coração
dividido, têm sido compensados.
Se
quem você pensa que ama, que por você chama e reclama, se sente de fato amado.
Poderia me responder, sem que se sinta culpado?
Com
a palavra os mais jovens, para sua contribuição: por favor, vamos me ajudem, a
formar opinião. Em que consiste, afinal, essa tal de felicidade? Sejam francos
e sinceros, pois preciso da verdade. Um deles então me disse, que essa tal
felicidade, poderia estar - quem sabe - em conhecer a verdade. Contou- me então
que ouvira, de certo sábio um dia, em forma de cantoria, uma estranha
afirmação: "que prazer e alegria, deveriam ser como irmãos. 'Irmãos
gêmeos', repetia, e que é preciso certa magia, pra fazer a distinção: que o
prazer alimenta o corpo, a alegria o coração. Juntos produzem benção, separados
desilusão.
Foi-se
o jovem muito triste, sem saber eu a razão; só mais tarde compreendi, por que a
decepção: seu coração inquieto, aprendera a lição, sem porém haver ainda,
alcançado essa união.
Finalmente
resolvi, procurar pelas crianças: queria saber também delas, o que seria
afinal, essa tal de "bem-aventurança". Nenhuma porém se deteve, para
me dar atenção. Gritos sim, altos se ouviam, correria muito mais! Tudo parecia
magia, a preencher suas almas. Decidi voltar pra casa, e acalmar meu coração, e
quem sabe retornar, em melhor ocasião.
Foi
então que me dei conta, de que a tal de felicidade, sem que eu me apercebesse,
ao meu lado se encontrava. E que outra coisa não era, senão viver o presente,
mas não viver por viver, e sim viver intensamente! Se há um tempo prá cada
coisa, por que saltar de estação!? Se a hora é prá sorrir, por que tanta preocupação!?
Se a tristeza bate forte, por que não lhe dar atenção!? Se o luto vem à porta,
por que não dar-lhe vazão!? Mas se a alegria habita a alma, e a felicidade pede
passagem, por que fechar-lhes o coração!? As crianças, dei-me conta, sem saber
me ensinaram, que quem sabe "faz a hora", e que a hora "é
agora". E que viver só vale a pena, se se vive com paixão!
E
assim minha pergunta, pela tal felicidade, continuou ecoando, sem encontrar
"a" verdade.
A
cada alguém que eu indagava, em cada porta que eu batia, diferentes respostas
me davam, outra lição aprendia.
Resolvi
então abrir mão, de querer tudo entender, ouvir e obedecer, as exigências da
razão. Ando menos preocupado, mais leve e mais ocupado, com as coisas do
coração. Aos poucos vou descobrindo, que mistério e fantasia, sugerem
contemplação. Técnica e tecnologia!? - Nada contra! Mas o que não posso e não
quero, e disso não abro mão, é que diante do mistério, me exijam explicação. E
que a vida foi toda feita, pra alegria e diversão, e que ação e trabalho, só
mesmo como exceção.
Vez
por outra eu confesso, elevo aos céus uma prece, pois como dizia Pascal, e
nisso não sem razão, "o coração tem razões, que a própria razão
desconhece"!
(*)
Reflexão enviada por whatsapp, de Vitória(ES)
(**)(**)Psicólogo e Professor Universitário
no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.
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