XV-SANTO AGOSTINHO
ENSINAMENTOS
AGOSTINIANOS
Os ensinamentos de Agostinho abrangem
praticamente todos os aspectos da vida, com conselhos práticos, éticos,
espirituais e morais, visando o crescimento do homem em sua plenitude. Alguns
desses ensinamentos são destacados a seguir por Aquino (2008).
– Ainda não alcançamos a Deus, mas temos o
próximo perto de nós. Suporta aquele com o qual andas e alcançarás Aquele junto
do qual queres permanecer eternamente.
– Deus é tudo para ti. Quando tens fome, é
pão; quando tens sede, é água; quando estás no escuro, é luz.
– Aquele que veio ao mundo na humildade
tornará a vir na glória. Aquele que veio para ser julgado voltará como juiz.
Reconhece-o em sua humildade para que não tenhas de temê-lo em sua glória.
Busca-o sem cessar em sua humildade para que o deseje em sua glória. Virá
propício aos que lhe desejam.
– Deus precisou de apenas uma palavra para
criar-nos, mas de seu sangue para redimir-nos. Se às vezes te sentes frustrado
por tuas misérias, recorda quanto custaste.
– Quem ama a Deus nunca envelhece. Leva em
si Aquele que é mais jovem que todos os outros.
– Se Ele nos fosse compreensível, não seria
Deus.
– Deus te oferece seus dons. Unicamente
pede que estendas tuas mãos para recebê-los. Como podes receber o que te
oferece se tens a mão ocupada e não queres soltar o que estás segurando?
– O amor é como a mão da alma. Enquanto
segura uma coisa não pode pegar outra. Por isso, quem ama o mundo não pode amar
a Deus. Está com a mão ocupada.
– É mais importante falar com Deus do que
falar de Deus.
– Se queres que Deus te ouça, ouve-O tu
primeiro.
– A Igreja é o mundo reconciliado.
– A Igreja avança em sua peregrinação
através das perseguições do mundo e das consolações de Deus.
– O pecado é uma palavra, um ato ou um
desejo contrários à lei eterna.
– Ser fiel no mínimo é algo de grande.
Queres ser grande? Começa com o mínimo.
– No essencial, a unidade; na dúvida, a
liberdade; em tudo, a caridade.
– Nossa perfeição consiste em saber que não
somos perfeitos.
– Aceita tua imperfeição. É o primeiro
passo para alcançares tua perfeição.
– Ama aquele que habita em ti desde o
batismo. Porque, habitando mais perfeitamente em ti, te fará cada dia mais
perfeito.
– Um começo sem a devida planificação leva
necessariamente ao fracasso.
– Não basta fazer coisas boas. É preciso
fazê-las bem.
– As boas obras não se definem pela
quantidade, mas pela qualidade. Não por seu peso, mas por sua delicadeza. Não
por si mesmas, mas por suas motivações.
– Quem são os verdadeiros pobres de
espírito? Os que, quando fazem alguma boa obra, dão graças a Deus, e quando
agem mal, assumem a responsabilidade.
– O nome de cristão traz em si a conotação
de justiça, bondade, integridade, paciência, castidade, prudência, amabilidade,
inocência e piedade. Como podes explicar a apropriação de tal nome se tua
conduta mostra tão poucas dessas muitas virtudes?
– Tu, Senhor, permanece junto à obra que um
dia começaste. Completa também a minha imperfeição.
– Eu não seria nada, meu Deus,
absolutamente nada, se não estivesses em mim.
– Não é o nome que faz a dignidade do
cristão.
– De nada adianta ter o título de cristão
se não o provarmos pelas obras.
– Quando te afastas do fogo, o fogo
continua aquecendo, mas tu esfrias. Quando te afastas da luz, a luz continua
brilhando, mas as sombras te envolvem. O mesmo acontece quando te afastas de
Deus.
– Quando um homem começa a renovar-se
espiritualmente começa também a ser vítima das más línguas de seus difamadores.
Quem não sofreu esta prova não começou ainda a progredir. E quem não está
disposto a sofrê-la, é porque não está decidido a converter-se.
– Ou destróis o pecado que há em ti ou ele
te destruirá.
– Se o homem não se assemelha a Deus, será
semelhante ao demônio.
– Não culpes o demônio por tudo que vai
mal. Muitas vezes, o homem é seu próprio demônio.
– A justiça e a paz são amigas, elas se
mantém intimamente unidas.
– Devemos amar o nosso próximo, ou porque
ele é bom, ou para que ele se torne bom.
– O maior castigo do homem é não amar a
Deus.
– Para quem ama a Jesus, a própria dor
consola.
– Entrega-te a Deus, não temas, porque, se
Ele te coloca na luta, certamente não te deixará sozinho para que caias.
– Ele, nossa vida, desceu até nós, suportou
a nossa morte e a destruiu com a superabundância da sua vida.
– Até os nossos pecados cooperam para o
nosso bem.
– A cruz é uma escola.
– Que cada um aprenda humildemente de outra
pessoa o que deve aprender. E o que ensina, a outros, que comunique a seus
discípulos o que recebeu, sem orgulho nem inveja.
– A melhor forma de ensinar é aquela pela
qual quem escuta não só ouve a verdade, mas a entende.
– Não há lição mais desleal do que falar
bem e viver mal.
– É melhor ser vítima de injustiça do que
causá-la aos outros.
– Se alguém julga ter entendido as
Escrituras divinas ou parte delas, mas se com esse entendimento não edifica a
dupla caridade – a de Deus e a do próximo – é preciso reconhecer que nada
entendeu.
– Antes de toda e qualquer coisa, é preciso
converter-se pelo temor de Deus para conhecer-lhe a vontade, para saber o que
ele vos ordena buscar ou rejeitar.
– Sem a oração não se pode conservar a vida
da alma.
– Adão caiu porque não se recomendou a Deus
na hora da tentação.
– Deus manda-nos algumas coisas superiores
às nossas forças para que saibamos o que lhe devemos pedir.
– A lei foi dada para que se procure a
graça. A graça é dada para que se cumpra a lei.
– Pela oração afugentamos todos os males.
– Se Vós, ao cabo de vossas obras
excelentes … repousastes no sétimo dia, foi para nos dizer de antemão, pela voz
do vosso livro que, ao cabo das nossas obras, também nós, no sábado da vida
eterna, em Vós repousaremos.
– O homem é um mendigo de Deus.
– Não podem os homens fazer bem algum, quer
por pensamentos, quer por palavras ou obras, sem a graça.
– Eis a grande ciência do cristão: conhecer
que nada e nada pode!
– A oração é uma chave que nos abre as
portas do céu.
– Deus escreveu nas tábuas da lei aquilo que
os homens não conseguiam ler em seus corações.
– Só cumpre a Lei aquele que recebeu o dom
do Espírito Santo.
– Cristo veio principalmente a fim de que o
homem soubesse o quanto Deus o ama.
– Também a mim me desagrada quase sempre o
meu sermão […] entristeço-me de que minha língua não baste ao meu coração.
– Os homens saem para fazer turismo, para
admirar o pico das montanhas, o barulho das ondas dos mares, o fácil e copioso
curso dos rios, as revoluções e giros dos astros. Entretanto não olham para si
mesmos.
– A ignorância mais refinada é a ignorância
da própria ignorância.
– Quanto menos atenção o homem presta aos
seus próprios pecados, tanto mais curioso ele se torna em relação aos alheios.
Não podendo desculpar-se a si mesmo, trata de salvar a pele acusando os outros.
– Nem sempre o que é indulgente conosco é
nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. São melhores as feridas
causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor andar com
severidade a enganar com suavidade.
– Dize-me quais são teus amigos e dir-te-ei
quem és. Todo homem se une com sua própria imagem, e se aparta dos que não se
lhe assemelham.
– O trabalho de amor não cansa nunca.
– O amor não se gasta como o dinheiro. O
dinheiro se esgota quando é usado, enquanto o amor cresce com o uso.
– Ao louvar o que é bom nos demais,
fazemo-nos melhores a nós mesmos.
– O primeiro passo na busca da verdade é a
humildade. O segundo, a humildade. O terceiro, a humildade. E o último, a
humildade.
– Se és capaz de aceitar o louvor sem
vaidade, o serás também de aceitar a correção sem ofender-te.
– Não há lugar para a sabedoria onde não há
paciência.
– Enquanto formos homens não poderemos
evitar as quedas.
– Se não podes fazer todo o bem que queres,
isso não é motivo para que te negues a fazer tudo o que podes.
– Se és ouro, a tribulação te purifica de
tua escória. Se és palha, a tribulação te reduz a cinzas.
– Todo aquele que, ocupando uma posição de
autoridade, aproveita para divertir-se, para aumentar seu patrimônio, ou para
conseguir lucros pessoais, não é um servidor dos demais, mas um escravo de si
mesmo.
– Ao atuar como juiz, cumpre a função de
pai. Irrita-se com a malícia e a perversidade, mas não te esqueças do homem nem
te deixes levar por desejos de vingança. Pelo contrário, empenha-te em curar as
feridas do réu.
– Eis aqui uma lista das obrigações do bom
superior: repreender os inquietos, confortar os pusilânimes, defender os
fracos, dobrar os teimosos, estar alerta contra os intrigantes, ensinar os
incultos, motivar os indolentes, baixar a crista dos arrogantes, pacificar os
briguentos, ajudar os pobres, libertar os oprimidos, animar os bons, suportar
os maus e amar a todos.
– Não evangelizes para viver. Viva para
evangelizar.
– Da mesma forma que escolhes com cuidado o
que comes, deves selecionar cuidadosamente o que dizes. O que dizes é o
alimento de quem te ouve.
– Fomos chamados por Deus para ser santos.
Somos santos por ter sido chamados por Deus.
– Louva e bendiz ao Senhor todos e em cada
um de teus dias para que quando venha esse dia sem fim possas passar de um
louvor a outro sem esforço.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agostinho foi considerado um dos homens
mais importantes da era Patrística, tendo influenciado a Igreja cristã, tanto
católica como protestante, até os dias atuais. Suas obras filosóficas,
teológicas e exegéticas influíram de forma decisiva no desenvolvimento cultural
do mundo ocidental, sendo chamado de “doutor da Graça” pois, como expõe Aquino
(2008, p. 16), “como ninguém soube compreender os seus efeitos”.
Sua inclusão entre os grandes teólogos da
era Patrística se deve ao seu árduo trabalho em interpretar as Escrituras,
argumentar em favor de Deus e promover o cristianismo. Contudo, embora tenha
sido um grande conhecedor das Escrituras, muitas de suas conclusões sobre
determinadas questões doutrinárias foram consideradas errôneas ao longo do
tempo.
Apesar disso, seu exemplo e estudo pode ser
considerado de grande valia para a teologia atual. Especialmente porque a
teologia é produto de estudos zelosos e meticulosos que foram empreendidos por
homens dedicados ao estudo da Palavra de Deus, ao longo da história, tendo na
figura de Agostinho um representante digno da teologia cristã dos primeiros
séculos, cujas obras serviram para enriquecer a história cristã e a doutrina
ensinada pela Igreja no decorrer da era Patrística.
Conquanto tenhamos que analisar seus
estudos à luz da Palavra de Deus buscando a verdadeira doutrina ensinada por
Cristo, sem afastar-nos dos ensinamentos de Cristo, muitos dos ensinos
agostinianos orientam para a salvação e a Graça, firmados na fé em Deus e em
Sua Palavra. Assim sendo, a teologia de Agostinho possibilita ao estudioso da
história cristã as bases para a compreensão de muitos aspectos que nortearam a
igreja nos seus primórdios.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Na escola dos santos doutores.
6. ed. Lorena: Cléofas, 2008.
CHAMPLIN, Russel Norman; BENTES, João
Marques. Enciclopédia
de Bíblia teologia e filosofia. v. 1, A-C. 3. ed. São Paulo:
Candeia, 1995.
ELWELL, Walter A. Enciclopédia histórico-teológica da
igreja cristã. v. I, A-D. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida
Nova, 1988.
GONZÁLES, Justo L. (ed.). Dicionário ilustrado dos intérpretes
da fé. Trad. Reginaldo Gomes de Araújo. Santo André-SP:
Academia Cristã Ltda, 2005.
HAMMAN, Adalbert-G. Para ler os padres da igreja.
Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1995.
KELLY, John N. D. Patrística: origem e
desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. Trad. Márcio Loureiro
Redondo. São Paulo: Vida Nova, 1994.
[1] Pós-doutor em Teologia Sistemática pela FAJE –
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte (2014). Doutor em
Filosofia e Teologia pela SATS – South African Theological Seminary (2011).
Doutor em Ciências da Religião pela AIU – Atlantic International University de
Honolulu, Hawaii.
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/teologia/agostinho-de-hipona
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