Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
Diante da
realidade brasileira, de um país com aproximados quatorze milhões de
desempregados, fica até difícil falar do valor e da importância do trabalho.
Ele é um dos instrumentos que dignifica a pessoa e a dá condição de vida digna.
Constitui uma das formas de sustentação econômica dos cidadãos. Estando sem trabalho,
eles ficam fragilizados, inclusive psicologicamente e até perdem o rumo.
Trabalhar
significa cuidar da vida e possibilitar a elevação da autoestima do trabalhador
e o progresso da vida humana. Não é saudável uma sociedade que explora o
trabalhador e endeusa a riqueza de forma desonesta. Os frutos do trabalho devem
ser socializados, dando oportunidade de vida para todos, superando uma
realidade em que grande parte da população passa fome.
O
Evangelho fala da vinha do Senhor, para onde vão os trabalhadores, com o
objetivo de fazê-la produzir frutos bons (Mt 21,33s). O cultivo da vinha exige
muito esforço e dedicação. Isso deve ser a prática de todo trabalhador, porque
precisa trabalhar de forma honesta, para merecer a recompensa por aquilo que
faz. A exploração não ajuda, seja do patrão ou do trabalhador.
A
importância do trabalho deve coincidir com a justiça e o direito que o
acompanham. Baseado na doutrina da justiça social, todo bem próprio e acumulado
deve ser socializado, isto é, ter função social, disponibilizando trabalho para
quem dele necessita. É uma questão até de direito dentro de uma sociedade bem
organizada e preocupada com a prosperidade de sua população.
O
trabalho tem sido sacrificado com a forma de gestão do nosso país. O
enfraquecimento da economia familiar, a concentração econômica das atividades
do agronegócio, o crescente e constante desaquecimento da indústria têm
ocasionado forte crescimento do desemprego. Enxergamos um momento de sofrimento
da população, formando uma cultura de desespero e refletindo na violência.
O desânimo causa comodismo endêmico e vida subumana, engrossando as fileiras daqueles que não conseguem produzir nem o necessário para sua sobrevivência e vivem subjugados no mundo do sofrimento. Sem trabalho o país caminha naufragado e refém de todo tipo de conflito interno e sem paz. Ainda é tempo de recomeçar e “avançar para águas mais profundas” (cf. Lc 5,4), no dizer de Jesus.
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