Rosto
da Misericórdia: “Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do
homem” (EA, 67)*
Na Liturgia deste II Domingo da Páscoa,
veremos, na 1a Leitura(At 5, 12-16), que a Comunidade Cristã é
um espaço privilegiado para o encontro com Jesus ressuscitado. O texto mostra o
retrato da comunidade continuadora da missão de Jesus. Jesus, agora, está vivo
nas ações da comunidade e as pessoas aderem a esse novo projeto que traz em si
algumas novidades frente à sociedade da época. Essas novidades são:
A partilha: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma
só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles
era comum... Nem havia entre eles nenhum necessitado” (At 4, 32s).
A igualdade: “Não há judeu nem grego, escravo ou livre,
homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
A oração: “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na
comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações... Diariamente, todos juntos
frequentavam o Templo... Louvavam a Deus e eram estimados por todo o povo. E a
cada dia o Senhor acrescentava à comunidade outras pessoas que iam aceitando a
salvação” (At 2, 42ss).
A salvação: É para todos. A vontade do Pai é
que todos, sem exceção, tenham a vida eterna.
A 2ª Leitura (Ap 1, 9-11a. 12-13. 17-19) mostra que
os cristãos, por darem testemunho, sofrem perseguição, mas já participam da
vitória do Ressuscitado, por isso são perseverantes na fé.
No Evangelho (Jo 20, 19-31), Jesus se revela na
Comunidade, num contexto de ‘domingo’ (novo mundo):“Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana... Jesus veio
e pôs-se no meio deles... Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra
vez reunidos...” (Jo 20, 19; 26).
Jesus está vivo, para todos (oculares x
outros), na Comunidade, e é na Comunidade que Tomé faz a experiência de Deus.
Inicialmente, Tomé não estava na Comunidade. Por quê? Porque Jesus estava
morto, ele estava abalado, não era rejeição a Deus, mas buscava a certeza da
fé. Depois de ouvir, ele crê, professa, entrega sua vida, foi mártir. A fé
brota da dor, das provas de amor, não só das evidências sobre Jesus e das
grandes liturgias. Antes, na fraqueza da fé, ele dependia de sinais, de
milagres, depois ele entende que os sinais nos são dados “para que o mundo creia em Jesus”.
Hoje, também, celebramos o domingo da ‘Divina
Misericórdia’.
A palavra misericórdia, em latim, vem da
expressão ‘miser cordis’, ou
coração de pobre. O Antigo Testamento, ao falar de misericórdia, não usa a
palavra 'coração', mas útero (rahamim).
O misericordioso é aquele que tem espaço interior para acolher a vida, as
pessoas, isto é, quem tem bondade, piedade, compaixão, perdão e clemência,
enfim, um coração bondoso e repleto de amor voltado para as misérias alheias.
Ser misericordioso é ter um coração piedoso voltado para as misérias e
desgraças de outrem; na pratica, é lutar, fazer tudo que estiver ao alcance
para resgatar alguém de seu estado miserável.
A Festa da Divina Misericórdia é uma
herança espiritual do Papa João Paulo II, “Apóstolo
da Divina Misericórdia”. O núcleo central de seu longo pontificado
foi consagrado a apresentar o rosto de Jesus misericordioso. Toda sua missão a
serviço da verdade sobre Deus e sobre o homem e da paz no mundo se resume a
este anúncio, como ele mesmo disse em Cracóvia Lagiewniki, em 2002, ao
inaugurar o grande Santuário da Divina Misericórdia: “Fora da misericórdia de Deus não há outra
fonte de esperança para os seres humanos”.
O Papa Karol Wojtyla faleceu na noite de
dois de abril de 2005, quando a liturgia já estava celebrando o segundo domingo
da Páscoa, declarado, por ele mesmo, em trinta de abril do ano 2000, como Domingo da Divina Misericórdia. O
Papa polonês havia anunciado essa decisão na canonização de Faustina Kowalska
(1905-1938), religiosa de sua terra, definida pelo Papa Joseph Ratzinger
como “Mensageira de Jesus
Misericordioso”.
Sua mensagem, como a de Santa Faustina,
apresenta o rosto de Cristo, revelação suprema da Misericórdia de Deus.
Contemplar constantemente esse rosto: esta é a herança que nos deixou, que
acolhemos com alegria e fazemos nossa.
“A misericórdia é na realidade o núcleo
central da mensagem evangélica, é o próprio nome de Deus, o rosto com o qual
Ele se revelou na antiga Aliança e plenamente em Jesus Cristo, encarnação do
Amor criador e redentor. Este amor de misericórdia ilumina também o rosto da
Igreja e se manifesta, seja através dos sacramentos, em particular o da
Reconciliação, seja com obras de caridade, comunitárias e individuais. Da
misericórdia divina, que pacifica os corações, surge, também, a autêntica paz
no mundo, a paz entre os povos, culturas e religiões. Como Irmã Faustina, João
Paulo II se converteu por sua vez em Apóstolo da Divina Misericórdia” (Bento XVI, 30/03/08).
*Exortação Apostólica Ecclesia in América, 67.
Boa reflexão e que possamos produzir
muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe. Leomar Antonio Montagna
Maringá – PR
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