A santidade no mundo de hoje: das distorções ao autêntico
chamado de Deus
Por
Lino Batista de Oliveira
A santidade exige de
cada um mais que conhecimento e vontade, pois, antes de tudo, é um chamado
gratuito de Deus a, pela ação do seu Espírito, conformar nossa vida à de
Cristo, que nos convida ao amor incondicional a Deus e ao próximo,
especialmente aos sofredores: “tive fome e me destes de comer…” (Mt 25,35-36).
Introdução
Na
solenidade de São José, em 19 de março de 2018, o papa Francisco publicou a
Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai – cf. Mt 5,12),
uma reflexão a respeito da santidade nos tempos hodiernos. O objetivo do papa,
segundo ele, é humilde: “[…] fazer ressoar mais uma vez o chamado à santidade,
procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e
oportunidades […]” (FRANCISCO, 2018, n. 2).
Para enfrentar a
discussão sobre a possibilidade da santidade no mundo de hoje e para ajudar na
reflexão sobre o modelo de santidade em nossa sociedade, o papa inicia seu
pensamento falando sobre o chamado à santidade. Destaca o papel dos que já são
santos, que aparecem como encorajadores de novos santos e santas, e lembra que
santos não são somente os dos altares, pois a santidade é uma graça concedida a
todos por iniciativa de Deus.
O papa faz referência
a dois inimigos sutis da santidade em nosso tempo: o gnosticismo e o pelagianismo.
O gnosticismo liga-se ao conhecimento como autossuficiência, isto é, à ideia de
que é pelo conhecimento que o ser humano deve buscar a sua salvação. A pessoa
se resume na imanência da sua subjetividade e dos seus sentimentos, tornando-se
autorreferencial. Quanto ao pelagianismo, associa-se à ideia de atribuir à
vontade do ser humano a causa de sua salvação, esquecendo que, antes de tudo,
não há “eu me salvo”, mas sim “Deus me salva” – afinal, a salvação é de pura
iniciativa divina.
O objetivo desta
reflexão é retomar o primeiro e segundo capítulos da exortação papal e
responder às inquietações sobre a concepção de santidade no mundo
contemporâneo, principalmente no que diz respeito ao lugar que o ser humano e
Deus ocupam na construção do ser santo. Qual é o papel de Deus e qual é o papel
do ser humano?É com o fito de responder a essa questão que se refletirá sobre
as distorções gnóstico-pelagianas e sobre a santidade como um chamado de Deus.
1. O chamado à santidade e suas distorções
O papa não mede esforços
ao refletir sobre as concepções equivocadas acerca da santidade presentes em
nosso mundo. Concepções que não nasceram em nossos dias, mas já são conhecidas,
ganhando apenas nova linguagem: gnosticismo e pelagianismo. “São duas heresias
que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo, mas continuam a ser de
alarmante atualidade. Ainda hoje os corações de muitos cristãos, talvez
inconscientemente, deixam-se seduzir por estas propostas enganadoras”
(FRANCISCO, 2018, n. 35).
1.1. A distorção gnóstica
Gnósticas
eram algumas correntes filosóficas que se difundiram, nos primeiros séculos
depois de Cristo, no Oriente e no Ocidente. O gnosticismo foi uma primeira
tentativa de filosofia cristã, feita sem rigor sistemático, com a mistura de
elementos cristãos míticos, neoplatônicos e orientais. Em geral, para os
gnósticos, o conhecimento era condição para a salvação. Os principais gnósticos
dos quais temos notícia foram Basílides, Carpócrates, Valentim e Bardesane,
cujas doutrinas eram conhecidas pelas refutações feitas por Clemente de
Alexandria, Irineu e Hipólito (ABBAGNANO, 2000, p. 485). O gnosticismo foi
combatido por uma série de Padres gregos e latinos, desde Santo Irineu, no
século II, e seus contemporâneos até Agostinho de Hipona, na obra A verdadeira religião (389).
O papa, no segundo
capítulo da exortação, estigmatiza o gnosticismo como um dos inimigos da
santidade no mundo atual. Segundo ele, o gnosticismo é a autocelebração de “[…]
uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos
outros, engessada numa enciclopédia de abstrações” (FRANCISCO, 2018, n. 37).
Trata-se de vaidosa superficialidade, que pretende reduzir o ensinamento de
Jesus a uma lógica fria e dura que procura dominar tudo. Ao desencarnar o
mistério, prefere “[…] um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem
povo” (FRANCISCO, 2016, n. 11).
Além de alertar sobre
um tipo de santidade baseada numa mente sem Deus e fria, o papa afirma ser o
gnosticismo uma ideologia que quer convencer o ser humano de que a sua visão
sobre o mundo é plena e perfeita. O gnóstico, “[…] ao mesmo tempo que exalta
indevidamente o conhecimento ou uma determinada experiência, considera que a
sua própria visão da realidade seja a perfeição” (FRANCISCO, 2018, n. 40).
Trata-se da pessoa que, pela via do conhecimento, quer esgotar tudo e todos ao
seu eu pensante, aprisionando a realidade aos conceitos. Como nos lembra
Lévinas (1906-1995), em sua filosofia da alteridade, trata-se do pensamento do
idêntico, que nega a diferença, o diferente, que quer dar ao todo uma única
identidade, transformar toda realidade numa “mesmeidade”.
Assim como busca a
redução do real ao racional no que se refere ao mundo das coisas, também o
pretende fazer em relação ao mundo de Deus. Com efeito, o gnosticismo, “[…] por
sua natureza, quer domesticar o mistério” (FRANCISCO, 2015, n. 11), tanto o do
mundo como o do outro e o de Deus. No entanto, “Deus supera-nos
infinitamente, é sempre uma surpresa, e não somos nós que determinamos a
circunstância histórica em que o encontramos, já que não dependem de nós o
tempo, nem o lugar, nem a modalidade do encontro” (FRANCISCO, 2018, n. 41).
Segundo o papa,
alguém que arvore ter as respostas para todas as perguntas que a realidade
apresenta, também as sobre Deus, “[…] é possível que seja um falso profeta, que
usa a religião para seu benefício, a serviço das próprias lucubrações
psicológicas e mentais” (FRANCISCO, 2018, n. 41). A consequência direta, por se
colocar como aquele que conhece e pode explicar Deus com lógica, é pensar que
por isso já se é santo, perfeito e melhor do que a massa ignorante. Lembra-nos
o papa que São Francisco preocupava-se com a ideia de que saber de Deus
significava necessariamente ser de Deus – portanto, santo. Ensinou São
Boaventura, diz-nos o pontífice, que “[…] a verdadeira sabedoria cristã não se
deve desligar da misericórdia para com o próximo” (FRANCISCO, 2018, n. 46). Não
é sendo somente intelectuais de Deus que seremos os seus santos. Esse é o maior
equívoco do gnosticismo de ontem e de hoje.
1.2. A distorção pelagiana
Estágio importante na
história do cristianismo, sobretudo no tratado da teologia da graça, foi a
controvérsia pelagiana, resolvida com o Concílio de Cartago em 418
(BAUMGARTNER, 1982, p. 101-105). Pelágio, monge de origem irlandesa, asceta e
diretor espiritual em Roma, ensinava que o ser humano podia cumprir os
mandamentos de Deus por suas próprias forças, sem que para isso tivesse
necessidade de um auxílio divino interior (AGOSTINHO, 1999, p. 199-317).
No século V,
Pelágio havia debatido com Santo Agostinho sobre esse assunto.
Agostinho sustentava que o pecado original de Adão fora herdado por toda a
humanidade e que, mesmo que o homem caído retenha a habilidade para buscar a
Deus por si mesmo, ele está escravizado ao pecado e não pode não pecar. Por sua
vez, Pelágio insistia que a queda de Adão afetara apenas a Adão e que, se Deus
exige das pessoas que vivam vidas perfeitas, ele também dá a habilidade moral
para que possam fazê-lo. Ademais, na concepção dos pelagianos, embora Adão
fosse um mau exemplo para a sua descendência, suas ações não trariam
consequências para ela, tendo Jesus o papel de dar um bom exemplo fixo para o
resto da humanidade (contrariando assim o mau exemplo de Adão), bem como
proporcionar a expiação dos seus pecados, e tendo a humanidade, em suma, total
controle das suas ações.
As sentenças
pronunciadas pelo papa Inocêncio I contra tal tese acabaram por classificá-la
como heresia. Heresia que sustentava basicamente a ideia de que todo ser humano
é totalmente responsável pela própria salvação e, portanto, não necessita da
graça divina. Segundo os pelagianos, toda pessoa nasce moralmente neutra, sendo
capaz, por si mesma, sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim
o desejar.
No
pelagianismo está presente a ideia de que tudo se pode pela vontade humana,
como se esta fosse algo puro, perfeito, onipotente, a que se acrescenta a
graça. A graça aparece como acréscimo à vontade humana. No fundo, como nos faz
refletir a Gaudete
et Exsultate,
“a falta dum reconhecimento sincero, pesaroso e orante dos nossos limites é que
impede a graça de atuar melhor em nós, pois não lhe deixa espaço para provocar
aquele bem possível que se integra num caminho sincero e real de crescimento”
(FRANCISCO, 2018, n. 50).
O que há é uma
vontade sem humildade: “Com efeito, se não reconhecemos a nossa realidade
concreta e limitada, não poderemos ver os passos reais e possíveis que o Senhor
nos pede em cada momento, depois de nos ter atraído e tornado idôneos com o seu
dom” (FRANCISCO, 2018, n. 50).
O problema daqueles
que caem no pelagianismo é o esquecimento dos ensinamentos da Igreja a respeito
da justificação e do papel da graça: “A Igreja ensinou repetidamente que não
somos justificados pelas nossas obras ou pelos nossos esforços, mas pela graça
do Senhor que toma a iniciativa. Os Padres da Igreja, já antes de Santo
Agostinho, expressavam com clareza esta convicção primária” (FRANCISCO, 2018,
n. 52).
Os novos pelagianos
que têm se apresentado em nossos dias são cristãos que insistem em trilhar
outros caminhos:
[…] o da justificação
pelas suas próprias forças, o da adoração da vontade humana e da própria
capacidade, que se traduz numa autocomplacência egocêntrica e elitista,
desprovida do verdadeiro amor. Manifesta-se em muitas atitudes aparentemente
diferentes entre si: a obsessão pela lei, o fascínio de exibir conquistas
sociais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da doutrina e do
prestígio da Igreja, a vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a
atração pelas dinâmicas de autoajuda e realização autorreferencial (FRANCISCO,
2018, n. 57).
O pelagianismo assume
hoje características modernas: o individualismo da cultura (“eu sei, eu quero,
eu posso, eu consigo, eu faço!”); a autossuficiência liberal-capitalista; a
ambição do progresso absoluto; a ênfase no sucesso a todo custo; a pretensão do
poder e do controle da mente; o interesse pelos movimentos neognósticos, como o
espiritismo; o planejamento controlado; a ética civil; a idolatria do mercado;
o mercantilismo religioso. No campo eclesial e pastoral, fazem-se presentes: a
moral do legalismo, do ritualismo e do juridicismo; expressões jansenistas de
rigorismo; o carreirismo e o clericalismo eclesiásticos; devocionismos de
tendência mágico-fundamentalista; o apelo fácil aos exorcismos; a satanização
da vida; o apego às tradições e leis do passado; o hiperativismo; a confiança
nos planos e projetos humanos, que fazem crer que a Igreja é resultado da ação
humana (BINGEMER; FELLER, 2003, p. 48-56).
Para evitar isso, o
papa nos lembra a existência de uma hierarquia das virtudes. Nessa hierarquia,
a primazia pertence às virtudes teologais, que têm Deus como objeto e motivo.
E, no centro, está a caridade. Segundo o papa:
[…] no meio da densa
selva de preceitos e prescrições, Jesus abre uma brecha que permite vislumbrar
dois rostos: o do Pai e o do irmão. Não nos dá mais duas fórmulas ou dois
preceitos; entrega-nos dois rostos, ou melhor, um só: o de Deus que se reflete
em muitos, porque em cada irmão, especialmente no menor, frágil, inerme e
necessitado, está presente a própria imagem de Deus. De fato, será com os
descartados desta humanidade vulnerável que, no fim dos tempos, o Senhor
plasmará a sua última obra de arte (FRANCISCO, 2018, n. 61).
2. Santidade: antes de tudo, um chamado de Deus
Quando se toma a
Palavra de Deus, do Antigo ao Novo Testamento, ecoa de maneira constante o
convite à santidade. No Antigo Testamento, no livro do Levítico, fala-nos Deus:
“Pois eu sou o Senhor, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu
sou santo. Não se tornem impuros com qualquer animal que se move rente ao chão.
Eu sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso,
sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44-45). No Novo Testamento, em 1 Pedro,
recorda-se o chamado a ser santo porque Deus é santo: “Mas, assim como é santo
aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois
está escrito: ‘Sejam santos, porque eu sou santo’” (1Pd 1,15-16).
Quando se volta para
a tradição da Igreja, já no século IV se verifica uma preocupação teológica em
estabelecer o real lugar dos santos e santas de Deus. Teólogos como Santo
Agostinho rejeitam a ideia de os santos poderem ser vistos como sucessores dos
deuses ou como deuses independentes:
Eles [mártires] não
são deuses: o Deus deles é o nosso Deus. É certo que veneramos as suas
“memórias” como santos homens de Deus, que até a morte combateram pela verdade
para fazerem conhecer a verdadeira religião, provando a falsidade, a mentira do
paganismo (AGOSTINHO, 1991, p. 788).
Decorre do pensamento
de Santo Agostinho a definição de quem são os santos e de qual o papel e a
importância deles no serviço da Igreja.
É tratando os santos
não como deuses, mas reservando-lhes um lugar bem definido na história da
humanidade, que o Magistério eclesiástico afirma ser a santidade uma
vocação universal dos batizados, conforme nos fala o Concílio Vaticano II, ao
versar sobre a Igreja: “Todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia quer por
ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo:
‘esta é a vontade de Deus, a vossa santificação’ (1Ts 4,3; cf. Ef 1,4)” (LG
39).
É na esteira da
história da salvação e da Igreja que o papa Francisco reflete sobre quem é
chamado à santidade nos dias atuais. Em sua exortação apostólica sobre a
santidade, no capítulo primeiro, sobre o chamado à santidade, o papa lembra o
importante papel dos que já chegaram aos altares; daqueles que, já sendo
santos, encorajam os que ainda estão a caminho. São os que já chegaram à
presença de Deus e mantêm conosco laços de amor e comunhão (FRAN-CISCO, 2018,
n. 4).
A santidade não se
esgota naqueles que já foram beatificados e canonizados, pois o Espírito Santo
de Deus sopra sem cessar e para todos os lados, derramando a graça da
santidade. Sem barreiras, o Espírito vai suscitando os santos e santas de hoje,
que se encontram, segundo o papa, não necessariamente em pessoas que vivem
longe, mas naquelas que estão perto e são um reflexo da presença de Deus.
Muitos são santos, e o são perto de nós, vivendo, trabalhando e partilhando a
vida.
A santidade é um
chamado do Senhor feito a cada um de maneira particular. Muitos são os caminhos
através dos quais somos convidados a vivê-la. “Todos estamos chamados a ser
testemunhas, mas há muitas formas existenciais de testemunho” (LG 11).
Lembra-nos o papa:
[…] uma pessoa não
deve desanimar, quando contempla modelos de santidade que lhe parecem
inatingíveis. Há testemunhos que são úteis para nos estimular e motivar, mas
não para procurarmos copiá-los, porque isso poderia até afastar-nos do caminho,
único e específico, que o Senhor predispôs para nós. Importante é que cada
crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo […]
(FRANCISCO, 2018, n. 11).
O que não se pode
desconsiderar é o fundamento da santidade, seja ela em qual modo de vida for
escolhida para ser vivida. A raiz de toda santidade está em Cristo, pois a
missão do santo e da santa de Deus é a missão de Cristo. No fundo, a santidade
decorre da profunda união com Cristo e com o mistério da sua vida;
[…] consiste em
associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em
morrer e ressuscitar continuamente com ele. Mas pode também envolver a
reprodução na própria existência de diferentes aspectos da vida terrena de
Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza
e outras manifestações da sua doação por amor (FRANCISCO, 2018, n. 20).
O ser santo com
Cristo, por Cristo e em Cristo remete-nos a uma vida de serviço que santifica.
No entanto, um serviço movido pela ansiedade, pelo orgulho, pela necessidade de
aparecer e dominar certamente não será santificador. Sendo assim, o desafio é
viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham um sentido evangélico
e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo. Afirma o papa: “Não é
saudável amar o silêncio e esquivar-se do encontro com o outro, desejar o
repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e menosprezar o serviço”
(FRANCISCO, 2018, n. 26).
Os santos de hoje
nascem no mundo, pertencem a Cristo, vivem no mundo, não são do mundo, mas nele
estão para a santificação do mundo. Assim nos instrui o sucessor de Pedro:
“Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o
mundo” (FRANCISCO, 2018, n. 33).
Conclusão
A santidade que o
papa propõe vai na contracorrente do intimismo gnosiológico e pelagiano.
Segundo Francisco (2018, n. 63), ela parte de Jesus, que
[…] explicou, com
toda a simplicidade, o que é ser santo; fê-lo quando nos deixou as
bem-aventuranças (cf. Mt 5,3-12; Lc 6,20-23). Estas são como que
o bilhete de identidade do cristão. Assim, se um de nós se questionar sobre
“como fazer para chegar a ser um bom cristão”, a resposta é simples: é
necessário fazer – cada qual a seu modo – aquilo que Jesus disse no sermão das
bem-aventuranças. Nelas está delineado o rosto do Mestre, que somos
chamados a deixar transparecer no dia a dia da nossa vida.
O rosto do Mestre,
que devemos deixar transparecer no dia a dia da vida para alcançar a santidade,
passa pelo comportamento. Para ser santo, há uma regra de comportamento, como
lembra o evangelho: “Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de
beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci
e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo” (Mt 25,35-36; cf.
FRANCISCO, 2018, n. 95). Ser santo não significa revirar os olhos num suposto
êxtase. Se partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-lo sobretudo no
rosto daqueles com quem ele mesmo se quis identificar. Reconhecer Cristo nos
pobres e atribulados revela-se o próprio coração de Cristo, os seus sentimentos
e as suas opções mais profundas, aos quais se procura conformar todo santo.
Referências bibliográficas
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário
de Filosofia.
Tradução de Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
AGOSTINHO. A graça de Cristo e o pecado
original.
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Calouste Gulbenkian, 1991. v. 1.
BAUMGARTNER,
Ch. La
gracia de Cristo.
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BINGEMER,
M. C. L.; FELLER, V. G. Deus-Amor: a graça que habita em nós. Valência:
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CONCÍLIO
VATICANO II. Constituição Dogmática sobre a Igreja Lumen Gentium. Disponível em:
<http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html>.
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FRANCISCO.
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______. Evangelii Gaudium: a alegria do
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______. Gaudete et Exsultate. Sobre o chamado à
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______.
Homilia da Missa na Casa de Santa Marta (11 nov. 2016). L’Osservatore Romano, ed. portuguesa, 17
nov. 2016.
Lino Batista
de Oliveira
Lino
Batista de Oliveira é padre da Diocese de Apucarana, doutor em Filosofia
(Ética) pela Universidade Santo Tomás (Roma, Itália); professor da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná e do Seminário de Filosofia da Diocese de
Apucarana (IFA); avaliador do MEC. E-mail: lino.batista326@gmail.com
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