sábado, 26 de novembro de 2022

VAMOS ESTUDAR O EVANGELHO DE MATEUS?

 

VAMOS ESTUDAR O EVANGELHO DE MATEUS?

 

ESTUDO DO EVANGELHO DE SÃO MATEUS

 

(*Todas as citações onde não aparece o nome do livro são do Evangelho de Mateus.)

Autor: Mateus significa "dom de Deus" (Matatias, no hebraico) é um dos Doze Apóstolos. Foi chamado enquanto estava sentado na sua banca, pois era cobrador de impostos (9,9) *. Depois do chamado ofereceu um almoço para Jesus e seu grupo (9,10-13). É o mesmo Levi de Lc 5,27 e era filho de Alfeu (Mc 2,14).

Local e data: Na Bíblia, é o primeiro Livro do NT (é o mais longo dos quatro Evangelhos). A maioria dos autores hoje concorda que foi escrito no norte da Galileia; outros afirmam que foi na Síria (Antioquia). Foi escrito primeiro em hebraico ou aramaico. Não temos mais o original. A data deve ter sido por volta dos anos 80-90 dC. Seguramente depois que os romanos destruíram o Templo no ano 70, e quando os cristãos já não podiam mais frequentar as sinagogas dos judeus.

Objetivo: O objetivo principal deste Evangelho é que Mateus quer responder a duas perguntas, que com certeza os cristãos se colocavam depois da vida, morte e ressurreição de Jesus:

Quem é Jesus? (Conhecer). Jesus é o Emanuel, o Deus conosco, o Filho de Deus!;

Como seguir Jesus Cristo? (Fazer o que Ele mandou). Mateus mesmo dá o exemplo. Jesus o chama: Segue-me! E ele, levantando-se, o seguiu! (Cf. 9,9).

Destinatários: Mateus escreve para os judeus que se converteram ao cristianismo, por isso utiliza muito o AT e usa muitos termos hebraicos. Mas a mensagem de Jesus é universal e por isso o Evangelho termina afirmando: "fazei que todas as nações se tomem discípulos meus...” (28,19).

CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS:

1. A certeza que Jesus é Deus presente no meio de nós: no início, meio e final:

- 1,23: “Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco”;

- 18,20: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio de deles”;

- 28,20: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.

2. É o Evangelho do Pai:

Enquanto que em Marcos Jesus aparece mais e é mais cristológico; em Lucas é o Espírito Santo que tem uma função especial; em Mateus é a primeira pessoa da Santíssima Trindade que tem destaque. Numerosas são as vezes em que Jesus fala de Deus como do Pai nosso (21 vezes contra 5 de Lucas); o seu Pai (18 vezes, contra 6 de Lc e 3 de Mc). Passagens interessantes são: 10,29 (cf. Lc 12,6); 10,20 (cf. Lc 12,12); 20,23 (cf. Mc 10,40).

Algumas parábolas, que se encontram exclusivamente em Mateus, são verdadeiras parábolas do "Pai": a parábola do servo infiel (18,23-35, cf. v. 35), a parábola dos trabalhadores na vinha (20,1-12), a parábola das bodas reais (22,1-14; cf. Lc 14,16-24), a parábola dos dois filhos (21,28-31), a parábola do joio e do trigo (13,24-30; cf v.27).

3. É o Evangelho da Justiça (3,15; 5,6; 10,20; 6,1.33; 21,32, etc):

- Jesus nasce no ambiente de um homem justo (1,19);

- As primeiras palavras de Jesus neste Evangelho são: “deixe como está, pois, convém que cumpramos toda a justiça” (3,15);

- A busca fundamental nossa deve ser “o reino dos céus e sua justiça” (6,33);

- O julgamento de Deus será pela justiça e misericórdia que praticamos (25,31-46).

- O tema da “recompensa” aparece muitas vezes.

4. O projeto que Jesus anuncia é uma Boa Notícia, chamado de Reino dos Céus:

- O tema do Reino “dos céus” (ou “de Deus” – 5 vezes) aparece 54 vezes no Evangelho;

- Mateus prefere usar “reino dos céus”, para evitar a expressão “reino de Deus”, pois os judeus, por respeito, evitavam pronunciar o nome de Deus (YHWH - Javé).

5. A valorização da história e do Antigo Testamento:

- Jesus nasce da descendência do povo hebreu. São 14 vezes três gerações (1,17). 14 é a soma das consoantes hebraicas do nome David dwd (4 + 6 + 4 = 14). Jesus é três vezes Davi;

- Várias vezes encontramos “para se cumprir as Escrituras”, ou “o que foi dito pelos Profetas”; ou “também está escrito”; ou “ouviste o que foi dito aos antigos”, etc.

6. Aparecem fortes conflitos com os judeus, principalmente com os fariseus:

O Evangelho foi escrito depois da destruição de Jerusalém e do templo (70 dC). Era um momento de ruptura entre judeus e cristãos. Era o tempo da reestruturação do judaísmo formativo. Os cristãos nesta época eram expulsos das sinagogas, por isso Mateus fala das “suas/vossas sinagogas” ou “sinagogas deles” (4,23; 9,35; 10,17; 12,9; 13,54; 23,34).

7. As mulheres:

- Na genealogia de Jesus aparecem 5 mulheres. Isso era incomum no ambiente judaico. Todas têm problemas: Tamar que perdeu o marido e se fez passar por prostituta (Gn 38); Raab é prostituta (Js 2,1-21); Rute é moabita, isto é, uma estrangeira (Rt 1,4); Betsabeia era mulher de Urias, que Davi mandou matar para ficar com ela (2Sm 11 e 12); e Maria, que ainda não era casada com José;

- É uma mulher que unge Jesus e prepara seu corpo para a sepultura (26,6-13);

- As mulheres são o grupo que é fiel até o fim (27,55-56.61) e são as primeiras as receberem a boa notícia da ressurreição de Jesus e serão as primeiras anunciadoras de que Jesus está vivo (28,1- 10);

- Porém, a infância de Jesus é contada na ótica de José e não de Maria, como em Lucas.

8. Evangelho das Bem-aventuranças (Mt 5,1-12):

- São 7 ou nove, depende de como são contadas;

- A recompensa na primeira (aos pobres) e na sétima (aos perseguidos pela justiça) a promessa é no presente “deles é o reino dos céus”. As demais são no futuro: herdarão a terra; serão saciados...;

- Diferente de Lucas, os “Ai de vós” não vêm em seguida aos “felizes / bem-aventurados vós”. Eles aparecem no capítulo 23;

- Deus quer o povo feliz! E essa felicidade começa logo para quem entra no Reino;

- Pessoas pobres, doentes, endemoninhadas, famintas, cegas, desempregadas, crianças, mulheres, multidões... Este é o povo que Jesus encontra e são as privilegiadas no anúncio do Reino.

9. Mateus utiliza muitos números:

Mateus usa muito os números, sobretudo 3, 5, 7 e 10. Ex.: narra 3 tentações de Jesus; 3 “quando...” (6,2.5.16); 3 súplicas no monte das Oliveiras; temos 3 negações de Pedro; 3 séries de 14 (7 x 2) gerações na genealogia de Jesus. Encontramos 7 discursos de Jesus, 7 parábolas sobre o Reino;

- O Evangelho está organizado em 5 livrinhos (igual ao Pentateuco, no AT);

- Devemos perdoar não 7 vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente;

- Encontramos em Mateus 10 milagres (igual às 10 pragas ou aos 10 Mandamentos no AT).

10. Jesus é o novo Moisés:

- A matança dos meninos (2,13-18) recorda um fato semelhante com Moisés (Ex 1,15-22);

- Jesus é maior que Moisés, pois Ele cumpre toda a Lei (5,17) e lhe dá uma nova interpretação (5,21-48; 19,3-9.16-21);

- Várias vezes Jesus sobe à montanha. Esta era o lugar privilegiado para o encontro com Deus. Jesus sobe à Montanha (5,1), assim como Moisés foi ao Sinai. O sermão na Montanha (5-7) e o envio dos Apóstolos pelo mundo (28,16-20) lembram as tábuas da Lei dadas a Moisés no Monte Sinai.

11. Jesus é o FILHO de Davi: O Novo Davi

- Menciona Davi ligado a Jesus muitas vezes: 1,1.6.17; 9,27; 12,3.23; 15,22; 20,30.31; 21,9.15; 22,42.43.45;

- Jesus é chamado FILHO DE DAVI 7 vezes: - Três vezes pelos dois cegos (9:27; 20,30.31) e mais uma vez pela mulher Cananéia (15:22) todos pedindo compaixão; duas vezes pela multidão que se admira (12,23) e na entrada para Jerusalém (21,9); uma vez pelos meninos (21,15);

- E finalmente à pergunta de Jesus os fariseus também reconhecem que o Cristo é o Filho de Davi (22:42);

- Davi foi o Rei considerado ideal porque conseguiu unir as 12 tribos de Israel tornando-os o Povo de Israel. Jesus é o Novo Davi para unir todos os povos, tornando-os O NOVO POVO DE DEUS.

12. O verbo “ver”:

- Jesus “viu” os primeiros Apóstolos (4,18.21); “viu” Mateus (9,9); “viu” as multidões (5,1; 8,18; 9,36); “viu” a sogra de Pedro de cama (8,14); “viu” a mulher doente (8,22); etc...

13. É o Evangelho da Igreja:

- Duas vezes aparece a palavra ekklesía: Igreja / Assembleia (16,18; 18,17);

- Mateus procura corrigir certos problemas da comunidade: o perdão aos que erram, o bom comportamento (parábola do semeador, todo o capítulo 18, a questão da autoridade, o perdão etc.);

- Ele quer demonstrar que os cristãos são o novo Povo de Deus e a Igreja é o verdadeiro Israel;

- O batismo substitui a circuncisão. É o novo sinal de pertença ao povo de Deus;

- Foi o Evangelho mais usado na Igreja primitiva. Seu estilo é de Catequese.

BIBLIOGRAFIA:

CNBB. Ele está no meio de nós. São Paulo: Paulus, 1998.

MOSCONI, L. O Evangelho de Mateus. São Leopoldo: CEBI, 1990.

STORNIOLO, I. Como ler o Evangelho de Mateus. São Paulo: Paulus, 1990.

* Introdução ao Evangelho de Mateus na Bíblia de Jerusalém, Edição Pastoral e Bíblia do Peregrino.

 

Frei Ildo Perondi

Prof. no curso de Teologia da PUC-PR.

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário