ESCATOLOGIA
A morte, o
Juízo Particular e o Juízo Final
UM
LEITOR ANÔNIMO enviou-nos, no post "Catequese
fundamental: os vivos e os mortos, o Céu e a Terra, a Imaculada Conceição", esta muito singela mensagem:
“Se
os santos estão vivos então pra que a Biblia fala na ressurreição?”
Esta é, sem dúvida, uma daquelas questões bastante simples, mas
que confunde muita gente. O eixo da questão parece estar vinculado à passagem
bíblica de Hebreus (9, 27), que diz que "aos homens está ordenado morrerem
uma vez, vindo depois disso o Juízo". Vamos tentar, então, esclarecê-la, e
para isso partiremos de uma breve reflexão sobre a finitude da vida neste
mundo.
Para meditar sobre o fim de nossas vidas neste mundo é conveniente
lembrar primeiro da sua origem. “Deus criou o homem imortal; fê-lo à sua imagem
e semelhança. Por inveja do demônio, entrou no mundo a morte” (Sb 2, 23-24).
Nós não fomos criados para a morte. Haviam no Paraíso duas árvores: a Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal e a Árvore da Vida. A única proibição de Deus a
Adão e Eva foi comer do fruto da primeira, e mesmo assim eles pecaram,
afastando-se da Graça, perdendo sua condição especial de criaturas próximas de
Deus. Foram, então, expulsos do Paraíso. Um dos significados mais profundos
dessa narrativa é bem claro: a causa da morte é o pecado, que separa de
Deus.
A morte é castigo, porém um castigo de Pai. Deus, sendo
infinitamente Bom e Misericordioso, fez até da justa punição um meio de nos
reconduzir ao Caminho da vida. Mesmo hoje, no estágio atual da história da
humanidade, nem mesmo aos que foram restaurados pelo Sacrifício de Cristo
convém, ainda, a imortalidade. Morreremos todos para este mundo, para
alcançarmos um destino muitíssimo melhor do que esta vida repleta de
limitações, frustração, misérias e dores.
Importa notar que a morte, mesmo sendo o fim natural de todos os
seres vivos, sempre nos causa estranhamento e sofrimento. Ficamos inconformados
quando ela chega. Por quê? Se, como diz o provérbio popular, “a morte é a única
certeza desta vida”, por que não somos capazes de encará-la natural e
tranquilamente?
A resposta católica é: nós não nos conformamos com a morte
porque fomos feitos para a imortalidade. Foi para a vida eterna que
Deus nos fez; por isso não aceitamos o fim de tudo.
Exatamente por isso a fé é necessária. Precisamos da fé para
ganhar a vida plena e eterna após a morte. O mais grave é que a maioria de nós
prefere simplesmente ignorar este assunto, não pensar nisso agora: é como
fingir que a realidade inevitável da morte não existe. Muito mais prudente
e sensato seria pensar no assunto, e muito, desde agora, porque nossa
alma é imortal, e quando deixarmos este mundo, a nossa história estará
apenas começando...
O pó voltará a ser pó, mas a alma é incorruptível. E cada um de
nós será julgado conforme suas obras. “A árvore para no lugar onde caiu” (Ecl
11,3). Por isso, é fundamental morrer em estado de Graça, morrer “revestido de
Cristo”, em Comunhão com Deus. Tudo o mais é secundário. “Que adianta ao homem
possuir o mundo inteiro e perder a própria alma?” (Mc 8, 36). Como não sabemos
nem o dia nem a hora de nossa morte, o cristão deve estar sempre preparado para
ela.
Juízo
Particular
“Está destinado aos homens morrer
uma só vez, e depois disso vem o Juízo”
(Hb 9, 27)
“É por isso que, vivos ou mortos,
nos esforçamos por agradar-Lhe. Porque teremos de comparecer diante do Tribunal
de Cristo. Ali, cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que
tiver feito enquanto estava no corpo”
(2Cor 5,9-10)
Todos serão julgados logo após a morte: este é o Juízo Particular, o
julgamento individual de cada um. Entrando na Eternidade, todos se apresentarão
diante do Rei dos reis, e as nossas vestes deverão ser brancas (Mt 22,1s): em
outras palavras, devemos nos purificar espiritualmente, viver bem e na
caridade, buscar praticar sempre a Vontade de Deus, para um dia morrer bem.
Quem vive dessa maneira, e conscientemente, não se apavora com a ideia da
morte. Em vez de tristeza ou medo, há confiança e serenidade. Mesmo nos piores
sofrimentos, no fundo da alma daquele que crê permanece a esperança, que dá paz
e alegria.
Já ao pecador inveterado, podemos perceber claramente que o inverso acontece:
mesmo na saúde e na riqueza, desfrutando dos melhores prazeres do mundo, assim
que para de se entorpecer nas muitas sensações, sente o vazio profundo da sua
vida, na sua alma a ausência de Deus. Só há desespero, insatisfação,
tédio, desânimo, sentimentos depressivos.
A felicidade, em plenitude, só se encontra no Céu, em Deus: está
na contemplação e “posse” de Deus, contemplação e posse da Verdade, da Beleza e
do verdadeiro Amor. Só em Deus seremos plenamente felizes e realizados. E para
chegar ao Céu é preciso levar Deus dentro de si, desde agora, desde já.
O
Juízo Universal
Além do juízo particular, que ocorre logo após a morte de cada um,
há o Juízo Universal, que é o julgamento coletivo, que ocorrerá no fim dos
tempos. O Antigo e o Novo Testamento falam do
assunto. O capítulo 5 do Livro da Sabedoria é inteiramente dedicado ao Juízo
Final.
Já o livro do Profeta Isaías (66, 18) diz:
“Virei recolher as tuas obras e os
teus pensamentos e irei reuni-los com os de todas as gentes e línguas; e eles
comparecerão, todos, e verão a minha Glória.”
Nos Atos dos Apóstolos (1,11) vê-se que, logo após a Ascensão, a volta de Jesus
como Juiz foi anunciada por dois anjos. Os Apóstolos S. Mateus (cap. 24) e S.
Lucas (cap. 21) falam longamente sobre o assunto.
No Juízo Final, o julgamento será definitivo. Depois, haverá o Céu
ou o Inferno. Este mundo físico acabará. Quando e como, exatamente, será o fim
do mundo, não sabemos. Jesus diz que nem os anjos o sabem. No último dia,
haverá a ressurreição da carne: os justos ressuscitarão gloriosos, semelhantes
ao Cristo ressuscitado. Para estes, a morte será o encontro com o melhor de
todos os pais: o Pai do Céu. E tudo o que foi encoberto será conhecido; a
verdade será revelada a todos. Será a hora da perfeita reabilitação dos
caluniados, dos difamados, dos injustiçados, dos sofredores. Os que tem fome e
sede de Justiça serão saciados.
Muitos teólogos entendem que o desdobramento do Julgamento divino
em Juízo Particular e Juízo Final ou Universal deve-se ao fato de nós, seres
humanos, pensarmos em termos de sucessão cronológica: um morre hoje, outro
amanhã. Mas para Deus, isto é, da perspectiva da eternidade, existe um só
momento: a própria eternidade. Sendo Deus eterno, para Ele não há hoje e
amanhã; Deus é o eterno EU SOU. De fato, já a ciência humana igualmente
reconhece e compreende que tudo o que realmente existe é um único momento, que
não tem princípio nem terá fim. O Juízo Particular e o Universal, a partir
desta perspectiva, seriam, de um modo que não podemos agora compreender, uma só
coisa: uma mesma realidade vista a partir da eternidade, e não a partir da
sucessão cronológica das vidas humanas à qual estamos habituados
e presos.
https://www.ofielcatolico.com.br/2004/09/a-morte-o-juizo-particular-e-o-juizo.html
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