REFLEXÃO
DOMINICAL II
Ir ao encontro do Senhor que vem
O Advento, neste ano
B, mostra um certo clímax. No 1º domingo, sugere-se uma atitude de preparação
geral para o encontro final com o Senhor. Nos domingos seguintes, a preparação
se torna sempre mais concreta: a conversão, a consciência de que ele está no
meio de nós, e, finalmente, o “sim” do homem, pronunciado por Maria, para que
sua presença se realize como cumprimento das promessas.
O 1º domingo
transborda de confiança. A vinda do Senhor não é, para o cristão, uma razão de
medo e terror, mas de alegre esperança. O desejo da vinda do Senhor expressa-se
de maneira apaixonada na 1ª leitura: “Se rasgásseis os céus”: com estas
palavras, o profeta desafia Deus para vir em socorro de seu povo humilhado, a
terra de Judá, desarticulada nos anos imediatamente posteriores ao exílio e
esperando a restauração nacional. Chega de castigo. Sabemos que somos fracos,
como um vaso de barro; mas será isso uma razão para o oleiro desprezar a sua
obra?
O encontro definitivo
com Deus, o “Dia”, significa, para o cristão, a plena manifestação daquilo que
Cristo iniciou e, depois de sua elevação na glória, confirmou nos seus fiéis.
Quando Paulo contempla os seus fiéis de Corinto, ele tem que dar graças por
tudo isso, proclamando a fidelidade de Deus à obra iniciada. E faz votos de que
eles sejam “irrepreensíveis”. Mas essa expectativa do encontro definitivo,
muito viva entre os primeiros cristãos, não é um entusiasmo cego. Cristo veio
inaugurar a presença do Reino de Deus, e seus discípulos, iluminados pelo
Espírito de Pentecostes, entenderam que, depois de sua elevação na glória,
ficava para eles a missão de continuar o que ele fundara. Ele é como o dono de
uma empresa, que viajou ao exterior, deixando a seus funcionários o cuidado da
empresa (“e ao porteiro a ordem de vigiar”, acrescenta o texto de Mc 13,34
aludindo, provavelmente, à responsabilidade dos que detêm o “poder das
chaves”).
Enquanto o Senhor
está fora, nós somos os responsáveis do Reino. Cristo veio, a primeira vez,
para nos revelar o sentido verdadeiro do esperado Reino de Deus: revelou que “a
causa de Deus é a causa do homem”, e onde se realiza o amor que Deus tem pelo
ser humano, aí também está presente o Reino (evangelho). Agora, na ausência de
Cristo, podemos inverter a relação: nós devemos assumir como nossa a causa de
Deus (que não deixa de ser a causa do homem). Isto é a “vigilância
escatológica”: estarmos ocupados, diligentemente, com o Reino que Cristo
mostrou presente, enquanto vivemos preparando-nos para o encontro com ele.
Assim, notamos também
a diferença entre a esperança do A.T. e a plenitude do Reino na perspectiva do
N.T. A 1ª leitura descreve ainda a esperança de uma intervenção de Deus para,
de maneira sensacional – rasgando os céus -, resolver os problemas de seu povo.
No N.T., a vinda de Cristo, como “lugar-tenente” de Deus, no fim dos tempos,
não tem em vista assumir as nossas funções (isto já o fez da primeira vez), mas
sim, encontrar-nos ocupados com seu Reino.
Portanto, se a
existência cristã é marcada fundamentalmente pela perspectiva escatológica,
esta não significa que podemos cruzar os braços esperando que Deus venha
resolver nossos problemas, no seu Dia. Significa, antes, o contrário. Significa
que nós nos devemos empenhar em realizar aqui o que ele veio fundar. A parte de
Deus, no “empreendimento escatológico”, já está garantida, Cabe a nós agora
executar a nossa. E o encontro definitivo com Deus, que é a luz decisiva de
nossa existência, ratificará a execução daquilo que nos foi confiado. Ora, não
sabemos quando será esse encontro definitivo, nem sabemos por quanto tempo Deus
nos confiou sua empresa. A única maneira para que possamos entregar-lhe um
relatório que corresponda àquilo que ele espera é: nunca faltar no serviço.
Viver cada dia de nossa existência como se fosse o último. A vinda do Senhor é
hoje!
Assim, este primeiro
domingo do Advento e do ano litúrgico nos coloca na presença permanente de Deus
como sentido último de nossa existência e atuação em cada momento. Ora, como
esta presença é uma alegria, o momento presente do cristão deve ser marcado
pela alegria da presença do Senhor que encontra seu servo empenhado em sua
causa.
A oração final da
presente liturgia o diz muito bem: “amar desde agora as coisas do céu e,
caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam”. Quem não
observa todo o espírito do Evangelho poderia ler isto num sentido alienante:
evitar as coisas deste mundo para só pensar no céu. Porém, as coisas que não
passam encontram-se já aqui, na terra! Devemos amar o céu que já está aqui, na
causa do Reino que Cristo nos confiou, a causa de seu incansável amor para
todos, a começar pelo último.
https://diocesejacarezinho.org/2014/11/homilia-1o-domingo-do-advento/
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