REFLEXÃO
DOMINICAL II
O Messias vai chegar
Primeira leitura: 2Sm
7,1-5.8b-12.14a16
Salmo responsorial: (Sl 89[88],2-3,4-5.27+29)
Segunda leitura: Rm 16,25-27
Alegria: o Senhor está no meio de nós
Com o 4° domingo, o Advento chega ao auge. O
evangelho traz o pleno cumprimento de todos os sinais que anunciam a vinda do
Salvador. A promessa feita a Davi, de que sua descendência teria seu trono
firmado para sempre (2Sm 7; cf. 1ª leitura), realiza-se no filho de Maria,
juridicamente inserida, através de seu noivo José (o noivado tinha força
jurídica), na descendência de Davi (Lc 1,27). A este filho, Deus dará – embora
não do modo que se esperava – o trono de Davi, o governo da casa de Jacó
(Israel) para sempre (cf. 2Sm 7,16). Já aprendemos, por estas últimas palavras,
que as profecias se cumprem de um modo que a inteligência humana desconhece (1).
O modo de Jesus ser o Cristo que reinará para sempre, e o modo em que a casa de
Israel se tomará um povo universal, nenhum contemporâneo de Maria o podia
imaginar, e mesmo Maria só o vislumbrava como Mistério de Deus. As profecias
não são programas a serem executados. São sinais da obra inesperada que Deus
está realizando, sinais que a gente só entende plenamente depois da obra
realizada.
Outro sinal que a gente reconhece ao reler o A.T. à
luz do Evento de Jesus Cristo é a profecia de Is 7,14. Embora o rei Acaz não
gostasse de que Deus se intrometesse nos seus negócios políticos, Deus lhe deu
um sinal: o nascimento de um filho de uma mulher nova (“virgem”, traduz a
versão grega do A.T., usada pelos primeiros cristãos). Esse filho seria chamado
Emanuel, “Deus conosco” (cf. Mt 1,23; 4° dom. Adv. A). No tempo de Is, isso
significava: nos dias de catástrofe que hão de vir (722 a.C.: destruição do
Norte e invasão do Sul pelos assírios), este rapaz de nome Emanuel, nascido
como que por ordem de Deus, lembrará que Deus está com o povo. Mas, para quem
conhece a história de Jesus, esse sinal reveste um sentido novo. Prefigura o
mistério de Deus, a obra de seu “sopro” ou “espírito” vivificador (cf. Gn 2,7;
Ez 37,9; Sl 104[l03],29-30) em Maria, suscitando nela um filho que não é fruto
da geração humana (Lc 1,34; cf. Mt 1,18-24), mas um presente de Deus à
humanidade: sendo obra do Espírito Santo, que veio sobre Maria, este filho é
chamado “Santo” e “filho do Altíssimo” (Lc 1,36; cf. as atribuições do filho
real em Is 9,5-6; 11,1-5), o filho em que Deus investe todo seu bem-querer (Lc
3,22), enviado e ungido com seu Espírito (4,18). É o verdadeiro e definitivo
“Deus conosco”.
Mas o sinal por excelência da realização da
promessa é o próprio nascimento do precursor de Cristo, do seio de Isabel, que
tinha a fama de ser estéril (1,36). João Batista é “sinal” no sentido mais
pleno imaginável: seu nascimento mostra a força do Altíssimo gerando o
Salvador; sua missão prepara o caminho para este Salvador; sua pregação anuncia
o Reino que o Cristo inaugura.
Ora, a obra de Deus através da História, assinalada
pelos referidos sinais, anunciada como plenificando-se na alegre saudação do
Anjo, que proclama a plenitude da graça de Deus em Maria (Lc 1,28-30; cf.
Sf3,14-15; Zc 2,14 etc.), só se toma fecunda para o homem se este o quiser.
Daí, a importância de dizer: “Sim”. Maria, respondendo ao Anjo (representando
Deus mesmo) seu Fiat (“Faça-se em mim segundo a tua palavra”; Lc 1,38),
colocando-se, como serva, a serviço do Senhor, é a primeira de todos os que,
pela adesão da fé, “dão chances” à obra definitiva de Deus em Jesus Cristo. O
Fiat de Maria representa a fé da humanidade e a disponibilidade com que a
Igreja quer assumir o Mistério de Natal (cf. oração final).
Diante de todos esses sinais, na história de Israel
e de Maria, devemos afirmar o que Paulo nos diz na 2ª leitura: em Cristo se
toma manifesto o que, desde séculos, as Escrituras, ao mesmo tempo que o
assinalavam, escondiam: o Mistério de Deus (Rm 1,25-26; cf. Mt 13,35). Os
autores escriturísticos vislumbravam uma presença fiel de Deus nos fatos
provisórios da História. Vistos a partir de Jesus Cristo, estes fatos tornam-se
indícios do que se manifesta, em plena clareza, nele mesmo, e isto, para todos
os povos, ao menos, quando conduzidos pela auscultação da fé (Rm 1,26) Por
isso, podemos louvar e agradecer (1,27).
(1.) 0 “recado” de Natã a Davi, de que sua
descendência estaria firme para sempre (2Sm 7,16), foi entendido,
originariamente, como a certeza de que Israel sempre teria um rei da dinastia
davídica, e o nascimento de um filho real é saudado, em Is 9,6, como sendo a
confirmação desta promessa. Depois que o Exílio (586-535 a.C.) abolira o
reinado, o “para sempre” foi interpretado como significando “de novo”. Israel
(reduzido a um pequeno resto, ou seja, a população de Judá, no sul do pais)
teria um novo rei (davídico), um novo “ungido” (Messias ou Cristo). Mas o que é
anunciado a Maria ultrapassa de longe o que os judeus depois do exílio
esperavam.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings,
SJ, Editora Vozes
Mensagem
Filho de Davi e filho de Deus
Uma história antiga. Por volta do ano 1000ª.C., o
Rei Davi consegue firmar seu “império” e pensa em construir uma “casa”
para Deus, um templo. Mas Deus manda o profeta Natã dizer a Davi que ele não é
de viver em templo: acompanhou o povo de Israel pelo deserto numa tenda, a
Tenda da Aliança. E mais: ele, Deus, vai construir uma casa para Davi – casa no
sentido de família, descendência. E então, Deus será como um pai para o
descendente do rei (1ª leitura).
Mil anos depois, Deus se mostra fiel à sua
promessa. Vive em Nazaré um descendente remoto de Davi. Chama-se José. Tem uma
noiva, Maria. Nesta, ligada à casa de Davi por ser noiva do descendente, Deus
quer suscitar, pela misteriosa ação de seu Espírito, o prometido “filho de
Davi”. Conforme a promessa, Deus será um pai para o prometido, que será para
ele um filho: o “Filho do Altíssimo”, o Messias (Lc 1,32, evangelho). Maria não
consegue imaginar como isso será possível. Ela nem está convivendo com José.
Então, Deus lhe dá um sinal para mostrar que ela pode confiar em sua palavra.
Faz-lhe conhecer a gravidez de sua parenta Isabel, que era estéril. E Maria, confiante
na fidelidade de Deus, dá o seu “sim”: “Aconteça-me segundo a tua palavra”
(1,38).
Deus dá sinais. As profecias, que revelam o modo de
agir de Deus, são sinais de fidelidade de Deus (2ª leitura). Que de Maria nasça
um remoto “filho de Davi” é um sinal de que ele é “Filho de Deus”, obra de Deus
na humanidade. Ora, para realizar seu projeto, Deus se expõe ao “sim” dessa
mocinha do povo. Assim, o “Filho de Deus” será um verdadeiro “filho da
humanidade”, alguém que faça parte de nossa história e nos liberte de verdade.
Só o que é assumido pode ser salvo, diz Sto. Irineu. Se Jesus não fosse
verdadeiro filho da humanidade, nossa salvação nele seria mera ficção.
Não expliquemos. Contemplemos. “Revelação de um
mistério envolvido em silêncio desde os séculos eternos”… (Rm 1,25). Não
peçamos a Deus que ele justifique seu modo de agir para os nossos critérios
“científicos”. Quanto sabemos das coisas da criação… e das do Criador?
Admiremos o modo de Deus se tornar presente. E, sobretudo, não queiramos fazer
da mãe de Jesus uma Maria qualquer. Será que temos medo de reconhecer que, em
algumas pessoas, Deus faz coisas especiais? Estamos com ciúmes? Ora, não acha
cada qual a sua namorada excepcional em comparação com as outras moças? Não
neguemos a Deus esse prazer…
Essa admiração, porém, não é alienação. Só por ser
verdadeiramente humano é que Jesus realiza entre nós uma missão verdadeiramente
divina. Pois se fosse um anjo, nada teria a ver conosco. Jesus é tão humano
como só Deus pode ser. Que ele é descendente de Davi significa que ele resume
em si toda a história humana. Resume, recapitula, reescreve essa história. A
história de Adão, a história de Davi, o “reinado”, da comunidade humana
política e socialmente organizada. Será que desta vez vai dar certo – menos guerra,
adultérios, idolatrias…? Da sua parte, a “qualidade divina” da obra está
garantida. Deus está com ele, “Emanuel”. Mas, e da nossa parte?
Do livro “Liturgia Dominical”, de
Johan Konings, SJ, Editora Vozes
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https://diocesejacarezinho.org/2014/12/homilia-quarto-domingo-do-adventoano-b/
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