REFLEXÃO
DOMINICAL III
3º DOMINGO DO ADVENTO – 17 de dezembro
Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj
I-
Introdução
geral
No passado, assim como hoje, as
pessoas viviam em situação de miséria, violência, guerra e muitos outros
sofrimentos. Por meio de diversas pessoas, Deus garantiu que amava seu povo,
que não o abandonaria nos sofrimentos e dificuldades e que tinha um plano segundo
o qual o mal chegaria ao final. Por isso, as leituras de hoje nos chamam a
atenção para a alegria alicerçada na garantia de que Deus nos ama e nos propõe
ajudá-lo na construção do seu reino de amor e paz. Deus espera nosso
consentimento e nosso empenho nesse empreendimento de edificação da
fraternidade, justiça, amor e paz. Portanto, nossa alegria é real, mesmo quando
passamos por problemas e dificuldades, porque ela se baseia no amor de Deus por
nós e na sua ação na história, sempre presente em nossa vida, assegurando sua
fidelidade e realizando o seu reino, que em breve se plenificará.
II-
Comentários
aos textos bíblicos
- Evangelho (Jo
1,6-8.19-28): Ele está em meio a vós
O evangelho de hoje afirma que João
Batista foi “enviado por Deus”. Esta expressão é frequentemente utilizada no
Antigo Testamento e aqui significa que a missão do precursor não é humana, mas
está alicerçada na vontade de Deus.
Após essa afirmação sobre João
Batista, o evangelho faz clara distinção entre o precursor e Jesus. João veio
como testemunha, o que indica o propósito da missão que Deus conferiu ao
Batista. A afirmação de que João veio para “dar testemunho da luz” define mais
especificamente a missão do precursor. O texto esclarece que a luz era o Verbo,
o Filho de Deus.
“Para que todos cressem por meio dele”
indica que o propósito da missão de João é despertar a fé nas pessoas. Fé que é
muito mais que mero sentimento, pois exige mudança de pensamento e testemunho
de vida.
O relato do evangelho continua com a
vinda de uma delegação oficial dos fariseus enviada de Jerusalém para
investigar o Batista. Os fariseus insistem em saber a identidade de João e a
natureza de sua missão, ou seja, queriam ter certeza de sua ortodoxia, se ele
ensinava ou não de acordo com a doutrina.
Além disso, era dever dos líderes
judeus, perante as autoridades romanas, a manutenção da paz na Judeia, pois,
caso contrário, eles corriam o risco de perder sua posição de autoridade. João
era uma daquelas pessoas que atraíam multidões, o que o tornava suspeito de
provocar uma revolução.
João, ao final, identifica-se,
recorrendo a uma citação do profeta Isaías (Is 40,3). Ele não é o Cristo nem o
profeta, mas apenas uma voz conclamando as pessoas a se prepararem para a vinda
de Cristo. É aqui que a missão de João tem a ver conosco, hoje, ao nos
prepararmos para o Natal e para a segunda vinda de Cristo. É necessário
prepararmos o caminho, isto é, remover todos os obstáculos que impedem a marcha
da ação de Cristo em nossa vida.
Os fariseus também queriam saber com
que autoridade João exigia batismo para os judeus. João responde, marcando
nítido contraste entre ele e seu sucessor: deixa de lado a questão do batismo e
aponta para o Cristo, desconhecido deles. Estabelece a grandeza daquele que
está chegando em comparação à indignidade pessoal do precursor, usando uma
imagem do cotidiano daquela época. O escravo tinha a tarefa de desatar a
sandália de seu dono, mas nem disso João se sente digno. Assim, o Batista
rejeita categoricamente qualquer pretensão de grandeza.
Devemos nos situar na mesma atitude de
João Batista: dar a oportunidade ao mundo atual de acolher e de “conhecer”
Jesus, “aquele” que o Pai enviou. O Cristo é o único que tem uma proposta de
vida plena para a humanidade.
- I leitura (Is
61,1-2a.10-11): Exulto de alegria no Senhor
A primeira leitura anuncia um tempo
novo, de vida plena. No contexto em que foi escrito esse texto, havia muita
desigualdade social, muitos passavam fome, outros eram presos por causa do
empobrecimento derivado de grandes dívidas causadas pelo aumento dos impostos.
É nesse contexto que se levanta a voz do profeta, conclamando à criação de uma
cultura de solidariedade, que se expresse, antes de tudo, em ajuda direcionada
aos mais necessitados.
Contra aquele estado de coisas,
eleva-se a ação libertadora do Servo mencionado pelo profeta:
“O Espírito do Senhor Deus está
sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou:
– para evangelizar os oprimidos;
– para curar os corações quebrados (as
feridas da alma);
– para proclamar a libertação aos
presos e a abertura do cárcere aos prisioneiros;
– para proclamar o Ano da Graça de
Nosso Senhor;
– para confortar o aflito”.
O termo “para” indica o propósito
messiânico da missão do Servo, que não é somente exigir dos outros que o façam,
mas fazê-lo como um delegado de Deus e portador da salvação divina. Porque ele
foi ungido pelo Espírito Criador e Salvador.
O “Ano da Graça” será o tempo
definitivo, a plenitude da liberdade criadora de Deus, a qual, para nós,
cristãos, acontece com Jesus Cristo. Essa missão do Servo foi plenificada por
Jesus; ele nos tirou do cárcere do egoísmo e, portanto, cabe-nos levantar nossa
voz em favor do sofredor para que a vida e a missão de Jesus tenham efeito em
nossa época.
- II leitura (1Ts 5,16-24):
Estai sempre alegres!
Na segunda leitura, Paulo apresenta o
cristianismo não como um conjunto de obrigações, mas como um modo de vida
orientada para Deus na alegria, na oração e na ação de graças. Na vida
orientada para Deus, o discernimento é um passo necessário para lidar com o
inevitável risco de falsos carismas. Por isso, o apóstolo, logo a seguir,
põe-se de guarda contra crenças ingênuas ou manifestações espirituais
fantasiosas. Hoje, tanto quanto no tempo de Paulo, cresce cada vez mais a busca
por supostos carismas extraordinários. Paulo chama a atenção para que se tome
cuidado com certos tipos de profecias.
Em última análise, Deus é o autor de
todos os dons concedidos aos cristãos. E a nossa santificação não é apenas
desejo de Deus, mas é obra divina em nós. E a fidelidade de Deus às suas
próprias promessas garante que ele mesmo plenificará em nós aquilo a que fomos
chamados, a santidade.
Deus está comprometido com a
humanidade e, por grande que seja a fragilidade humana, maior é a fidelidade de
Deus. Então podemos nos perguntar hoje: Que atitude se deve assumir enquanto se
espera pelo Senhor? Que tipo de comunidade vive fervorosamente a espera pelo
Senhor?
III.
Pistas para reflexão
Nossa época é marcada por uma multidão
de seres humanos que vivem numa situação intolerável de carência de bens, de
dignidade, de liberdade, de justiça, que não têm acesso aos bens essenciais
(educação, saúde, trabalho, moradia), que não têm vez nem voz, que são
explorados por sistemas econômicos que geram exclusão, alienação e miséria.
Isso tudo nos causa profunda tristeza.
Mas Deus não abandona essa multidão,
espalhada pelo mundo, à miséria e ao sofrimento. Deus tem um projeto de vida
para cada ser humano esmagado pelo egoísmo, pela violência e pela omissão de
muitos. Deus não é indiferente, não pactua com a exclusão, o racismo, o
terrorismo, o tráfico de drogas, o imperialismo, a prepotência. Deus ama e se
faz próximo de cada sofredor. Sua graça e seu amor dão forças para vencer o
desânimo, o frio da noite, o calor do dia, o estômago vazio e as forças da
morte. Isso nos traz alegria.
Deus conta conosco para
que, através de nós, ele possa demonstrar seu amor e seu cuidado a cada
sofredor. Isso nos dá responsabilidade.
Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj
Aíla L. Pinheiro de Andrade, nj, é
graduada em Filosofia e em Teologia. Cursou mestrado e doutorado em Teologia
Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, FAJE (MG). Atualmente,
leciona na pós-graduação em Teologia na Universidade Católica de Pernambuco,
UNICAP. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia
apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/3o-domingo-do-advento-17-de-dezembro
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