REFLEXÃO DOMINICAL II
Pela Cruz à Glória
Cada ano, o segundo domingo
quaresmal traz o evangelho da Transfiguração, no início da subida de Jesus a
Jerusalém, onde ele levará a termo a vontade do Pai.
Acompanhamos Jesus no seu
caminho. Ora, neste caminho, para não desfalecermos em nossa fé, é bom termos
diante dos olhos – como João, Tiago e Pedro, as testemunhas privilegiadas – a
glória daquele que vai ser aniquilado, o
Filho e Servo de Deus. E escutarmos a voz que sai da nuvem: “Escutai-o”.
Cada ano, também, a 1ª leitura apresenta um dos
grandes momentos da caminhada do antigo povo de Deus; neste ano (A), a vocação
de Abraão. “Sai da tua terra”. Largar o que consideramos adquirido é a condição
para caminhar no rumo que Deus indica. A 2ª leitura é um breve comentário a
isso. Aponta a “vocação santa” que recebemos em virtude do desígnio de Deus e
com a ajuda transformadora de sua graça, dada em Cristo, no qual resplandece a
vitória sobre a morte. Essa vitória final, Pedro, Tiago e João a viram
antecipadamente, e atestada por Moisés (a Lei) e Elias (os Profetas), no monte
da Transfiguração (evangelho; prefácio próprio). A visão desta glória é
acompanhada pela voz: “Escutai-o”, que lembra o “Ouve Israel” de Dt 6,4. É um
prelúdio da ressurreição – por isso as testemunhas devem guardar o silêncio até
que esta se realize.
Jesus revela em si mesmo o termo de nossa vocação,
na medida em que nós nos unimos a ele pela obediência à autoridade de sua
palavra, pela adesão da fé. Assim, nossa vida não é posição adquirida, mas
caminho, dinamizado por uma vocação cujo termo, embora ainda escondido, já é
revelado em Jesus Cristo. Nossa adesão a ele nos move de etapa em etapa. Sua
glória é a luz que ilumina o caminho que nós somos chamados a percorrer. A
seqüência da predição da Paixão (Mt 16,21-23) e da Transfiguração de Jesus
(17,1-9) projeta para nós esse caminho: “pela cruz à glória” (prefácio
próprio). A lógica de Deus entra em choque com o mundo, que só quer conquistar
e dominar, mas é vitoriosa em quem é fiel.
Para essa caminhada – assim reza a oração do dia –
é preciso que sejamos alimentados com a palavra que nos vem através do Filho
Amado (“Escutai-o”). Assim, com o
olhar da fé purificado, participaremos já na terra da realidade eterna de Deus
mesmo (oração final).
Do livro “Liturgia Dominical”, de
Johan Konings, SJ, Editora Vozes
Mensagem
Vocação e Promessa
Viver é ser chamado por Deus a
entregar-se à sua palavra. No Antigo Testamento, Abraão é o exemplo disso. Tem
de deixar toda segurança e confiar-se cegamente à promessa de Deus (1ª
leitura). Jesus, no Novo Testamento, é a plentitude dessa atitude (evangelho).
Antes de iniciar seu caminho rumo a Jerusalém, ele encontra Deus na oração, na
montanha. Aí, Deus o confirma na sua vocação.
E, ao mesmo tempo, dá aos
discípulos segurança para que sigam Jesus: mostra-lhes Jesus transfigurado pela
glória e proclama que este seu Filho é o portador de seu bem-querer, de seu
projeto. Se incluímos em nossa meditação a 2ª leitura de hoje, aprendemos que
nossa “santa vocação” não é um peso, mas uma graça de Deus. Portanto, não deve
nos assustar.
A prática cristã exige conversão permanente, para
largarmos as falsas seguranças que a publicidade da sociedade consumista e as
ideologias do proveito próprio e do egoísmo generalizado nos prometem, para
arriscar uma nova caminhada, unida a Cristo e junto com os irmãos. Somos
convidados a dar ouvidos ao Filho de Deus, como diz o evangelho, e a receber de
Cristo nossa vocação, para caminhar atrás dele – até a glória, passando pela
cruz. Assim como Abraão escutou a voz de Deus e saiu de sua cidade em busca da
terra que Deus lhe prometeu, devemos também nós largar o que nos prende, para
seguir o chamado do Senhor.
Isso é impossível sem renúncia (para usar um termo
que saiu de moda). Renúncia não é algo negativo, mas positivo: é a liberdade
que nos permite escolher um bem maior. Isso vale para ricos e pobres. De fato,
o povo explorado deve descobrir a renúncia libertadora. Não privação, mas renúncia.
O povo precisa renunciar ao medo, ao individualismo e a outros vícios que
aprende dos poderosos. Então saberá assumir sua vocação. E os ricos e
poderosos, se quiserem ser discípulos do Cristo, terão de considerar aquilo que
possuem como um meio, não para dormir, mas para servir mais, colocando-o à
disposição de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
Do livro “Liturgia Dominical”, de
Johan Konings, SJ, Editora Vozes
franciscanos.org.br
https://diocesejacarezinho.org/2020/03/2o-domingo-da-quaresma-ano-a/
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