REFLEXÃO DOMINICAL III
"O AMOR QUE TRANSFIGURA"
Para
quem não conhece, o Monte Tabor onde teria ocorrido a transfiguração de Jesus,
é uma alta colina localizada no Leste do Vale de Jizreel, 17 km a oeste do Mar
da Galiléia e o seu topo está a 575 metros acima do nível do mar. Entretanto,
não se pode afirmar com absoluta certeza, que essa referência geográfica no
episódio da Transfiguração do Senhor, é verdadeira, principalmente quando se
sabe, que o evangelista São Mateus escreveu para os Judeus e sempre há em seus
relatos, uma forte relação entre Jesus Cristo e Moisés. De qualquer forma o
texto nos revela que os discípulos Pedro, Tiago e João, fizeram essa profunda
experiência, onde Jesus lhe revelou a sua Divindade. Não é por acaso que na
narrativa de Mateus, aparecem ao lado de Jesus o Libertador Moisés e Elias, uma
das maiores referências como profeta do Antigo Testamento, é uma catequese que
tem como pano de fundo o Judaísmo, comprovando que Jesus é de fato io Messias,
aquele que havia sido prometido na Escritura Antiga, e até prefigurado em
alguns personagens da História de Israel. A partir de agora, a humanidade não
irá mais precisar da Lei e dos Profetas, Jesus não trouxe uma nova Lei ou
Aliança, Ele próprio é a Nova Aliança, aquele que de modo único e excelente nos
revela o Pai.
Mas
o que esse fato refletido no evangelho pelas comunidades de Mateus, tem a ver
com a realidade das nossas comunidades cristãs? Sabemos que Jesus é Nosso Deus
e Senhor, mas quais as consequências que esta Fé traz em nossa vida? A cada
domingo, Dia do Senhor, Jesus convida todos os cristãos a “subirem a montanha”,
isso é, a fazerem essa “ascese” nas nossas celebrações. Embora humana, com uma
Liturgia que comporta elementos culturais, cada celebração é envolvida pelo
Mistério de Deus, como a nuvem que desceu sobre a montanha.
No
ambiente celebrativo de nossas igrejas cristãs, de muitos modos Jesus manifesta
a glória da sua Divindade, mas de modo excelente na Eucaristia e na Palavra,
onde mediante a Fé, podemos sim contemplar a sua glória, sentir a sua presença
a conduzir, animar e alimentar os seus, em comunhão com Ele em torno de uma
mesa que é a Mesa da Palavra ou da Eucaristia. Moisés e Elias são uma
referência importante para todos nós, não como meros personagens históricos,
mas como homens que fizeram a experiência de Deus, enquanto anunciadores de uma
Libertação que em Jesus atinge a sua plenitude e transcende o meramente
histórico, libertando-nos do mal do pecado. O profetismo de Elias anuncia a
Palavra Libertadora, o homem nasceu para ser livre, mas a sua liberdade está em
Deus, que não permanece impassível diante do sistema opressor que não considera
o dom da Liberdade, por isso, a Palavra libertadora se faz ação em Moisés deus
vê, ouve, desce e liberta o seu povo. Jesus eleva essa liberdade á sua
plenitude, concretizando as promessas de Deus nesse sentido.
O
entusiasmo de pertencer a uma comunidade cristã, o privilégio de poder fazer
essa experiência com os irmãos e irmãs nas celebrações dominicais, pode nos
levar a cometer o mesmo erro de Pedro: o de querermos permanecer apenas na
dimensão celebrativa- contemplativa, acomodar-se na Mística e fazer da
experiência com Cristo algo muito particular, é esse o significado de querer
fazer tendas, e de fato muitos fazem, isolando-se na comunidade ou no seu grupo
ou pastoral, achando que a vivência cristã se resume apenas nessa experiência
religiosa.
Quando
contemplamos a Divindade de Jesus e ficamos só nisso, sentimos medo, porque é
impossível compreender um Deus revestido de glória, encarnado em nossa miséria
humana. O Sagrado sempre e Sagrado sempre exerceu essa ambigüidade sobre o
homem, o encanta, o atrai e fascina, mas também causa medo, quando se está
diante do Mistério. Mas Jesus, que tocou nos discípulos, toca também em cada
membro da comunidade: “Levantai-vos, não tenhais medo”. E ao descer da montanha,
só vêem Jesus caminhando com eles pela encosta da montanha. Eis aqui o grande
desafio, vermos Jesus no irmão ou irmã da comunidade, que caminha com a gente,
perceber esse Deus extremamente humano, percorrendo nossos mesmos caminhos,,
sem nunca deixar de ser o “Outro”, o Transcendente.
E
assim, pela sua encarnação recebemos a Graça Divina, e podemos nos abrir para
que o Espírito Santo nos renove, nos transforme e nos transfigure no dinâmico
processo da conversão, e diferente dos apóstolos Pedro, Tiago e João, ao
término da celebração, quando descemos da “montanha”, somos enviados para
proclamar bem alto as maravilhas de Deus, a darmos testemunho do evangelho,
mostrando que somente na Ressurreição do Senhor encontramos o sentido para a
nossa vida terrena.
Derrubemos,
portanto, as tendas do nosso comodismo, de uma Fé desvinculada da Vida, nesse
segundo domingo da quaresma, e como o Patriarca Abraão, coloquemo-nos á caminho
dessa Terra das Promessas, onde cada homem e cada mulher, vivendo em Deus,
atingirá a felicidade em seu sentido mais pleno, irradiando em si, a mesma luz
fulgurante do Cristo, Homem Deus e Deus Homem, o novo Moisés que nos conduz com
segurança a esta terra, cuja estrada passa exatamente na experiência humana,
estrada que nosso Deus feito homem também percorreu, e que nos conduz á glória
de uma Vida em comunhão definitiva com Ele, que em Cristo nos aceitou também
como “Filhos e Filhas, em quem Ele põe todo o seu agrado”. ( 2º Domingo da
quaresma MT 17, 1-9)
José
da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0331.htm
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