EUCARISTIA,
CEIA MEMORIAL E FESTIVA: DA RITUALIDADE AO
MISTÉRIO
Por Danilo César* e Penha Carpanedo**
O texto, uma
reflexão acerca da Eucaristia como sacramento central da vida eclesial, discute
certas distorções quanto à vivência deste sacramento, o qual, historicamente,
se distanciou de sua compreensão litúrgica, com base em fortes influxos
dogmáticos e canônicos. Graças ao Concílio Vaticano II, a teologia eucarística
pôde voltar às fontes litúrgicas, bíblicas e patrísticas, recuperando seu
sentido comunitário, celebrativo e escriturístico.
Introdução
A
Eucaristia é o sacramento central da vida eclesial. Contudo, essa valorização
decorre de intensa dogmatização de seu significado, processo que acarretou
alguns efeitos, como o devocionismo eucarístico, o clericalismo e o
cerimonialismo, que enquadram a Eucaristia num tipo de compreensão e a
distanciam de seu fundamento: ser ação memorial da Páscoa do Senhor, realizada
em comunidade, na forma de uma ceia festiva. Historicamente, a Eucaristia se
distanciou de sua compreensão litúrgica, o que se deu sob fortes influxos
dogmáticos e canônicos (BOURGEOIS, 2005, p. 55-58). Nesse esquema, a
hipervalorização da tríade “matéria, forma e ministro” enfraqueceu o valor da
assembleia. Bastando o ministro, a assembleia perdeu o acesso ao sacramento, a
ponto de já não comungar, ficando confinada às devoções e à adoração das espécies.
O evento da morte e ressurreição do Senhor, eixo da fé cristã, foi obscurecido
pela teologia da presença real, que obteve notável desenvolvimento após o
período medieval. A teologia sacrifical, posterior ao Concílio de Trento,
recebeu enorme difusão, mas sem as necessárias peias da noção memorial, já
firmada desde Trento.
Graças ao
Concílio Vaticano II, a teologia eucarística pôde voltar às fontes litúrgicas,
bíblicas e patrísticas, recuperando seu sentido comunitário, celebrativo e
escriturístico. A grande intuição da reforma litúrgica a respeito da Eucaristia
foi voltar à simplicidade evangélica: aos gestos e palavras de Jesus na última
ceia, que constituem o memorial. Urge recuperar o sentido celebrativo (festivo)
desse sacramento, devolvendo-lhe as feições originais.
1.
“Façam isto”: os gestos de uma festa
A reforma do rito da missa (Ordo Missae)
dispôs mimeticamente o rito eucarístico em unidades rituais que correspondem
aos gestos e palavras de Cristo na última ceia: o rito de apresentação das
oferendas evoca seu gesto de tomar o pão e o cálice; a oração eucarística
corresponde à sua ação de graças; a fração do pão e a comunhão, ao próprio ato
de partir e repartir entre os discípulos (Instrução Geral do Missal Romano –
IGMR –, n. 72). A Igreja cumpre, assim, o mandamento: “Façam isto como meu
memorial” (Lc 22,19). Essas “unidades rituais” superam séculos de uma visão
focada na narrativa da instituição – considerada exclusivamente como
consagração.1 Recupera-se a noção de memorial, uma visão
mais bíblica, patrística, litúrgica e orgânica da ceia, sem descartar o
elemento dogmático da presença real.
Cinco são as hipóteses que tentam explicar qual
teria sido o rito judaico no qual se deu a última ceia de Jesus (PENNA, 2018,
p. 23-27). A mais aceita é a de que a última ceia tenha sido uma ceia pascal,
como aparece no relato de Lucas: “Desejei ardentemente comer esta Páscoa com
vocês” (Lc 22,15). Trata-se da Páscoa hebraica, que tantas vezes Jesus já havia
celebrado com sua família, com os discípulos, ou em Jerusalém. A ceia remonta a
Ex 12,1-14, que narra o ritual pascal da saída do Egito, da terra da
escravidão. Celebrado de forma solene em família, com traços de intimidade,
fantasia e evocações da história da salvação – diversamente da sinagoga, onde
era celebrado de modo austero e conciso (DI SANTE, 2004, p. 218) –, o rito
incluía o cordeiro, os pães sem fermento e as ervas amargas, sinais
antecipatórios do evento da libertação. A ordem de iteração, ao final da
perícope (v. 14), determina que os judeus das gerações futuras o celebrem
sempre, para que possam participar do evento salvífico. Mas traz um elemento
que faz compreender que a festa é parte da estrutura memorial: “Este dia será
para vós um memorial, e o celebrareis como uma festa [hag (hebraico); heortèn (LXX)]
para o Senhor; nas vossas gerações a festejareis; é um decreto perpétuo”.
A sucessão ritual dessa narrativa é o seder (ordem)
pascal, “o mais sugestivo, alegre e inesquecível de todos os ritos familiares
do judaísmo. […] E consiste na participação de uma refeição simbólica […] na
qual cada elemento lembra um aspecto da noite, na qual Deus […] tirou o povo do
Egito e o introduziu na Terra Prometida” (DI SANTE, 2004, p. 177). O cordeiro
lembra que, no Egito, o anjo exterminador passou adiante das casas dos
israelitas – donde deriva o termo Páscoa –, livrando o povo hebreu da morte dos
primogênitos. Os pães ázimos lembram que os pais, na pressa da saída, não
tiveram tempo de deixar a massa fermentar. As ervas amargas recordam que os
egípcios amarguraram a vida dos pais, no Egito. O vinho lembra o dever de
agradecer àquele que tirou o povo da escravidão do Egito e o fez passar da
submissão à liberdade, da dor à alegria (DI SANTE, 2004, p. 181-182).
Às
vésperas da sua paixão, Jesus realiza com seus amigos uma ceia pascal, com toda
carga de significado que ela tem, incluindo seu caráter pascal festivo (Mc
14,26). Ele se põe no lugar do servo que providencia que seus convidados se
alegrem à mesa. Entre os discípulos, a conversa gira em torno do poder, mas Jesus
ensina o serviço à mesa como sinal do Reino (Lc 22,24-30). Ele a ressignifica,
com suas palavras e seus gestos serviçais, em vista do acontecimento iminente
da sua morte e ressurreição. No pão e no vinho, entrega-se a si mesmo,
antecipando simbolicamente sua doação na cruz. Nas palavras de Pikaza e Haya:
Jesus se
prepara para morrer em um contexto de festa de ação de graças pela vida,
simbolizada no vinho, evocado aqui com uma fórmula solene (“o fruto da
videira”). Com isso, ele coloca seu destino a serviço da vinha de Deus, ou
seja, da vida do povo israelita, e da chegada do Reino para todos os povos (cf.
Mc 12,1-2). Com vinho deste mundo velho, na festa de sua entrega-despedida, ele
promete a seus amigos o vinho novo do Reino, em palavras que evocam o “triunfo
de Deus”, sua vitória definitiva, acima de todos os possíveis fracassos
(PIKAZA; HAYA, 2018, p. 278, tradução nossa).
No
primeiro relato da última ceia, Paulo está centrado nas palavras e gestos de
Jesus e no modo equivocado como a comunidade está celebrando a ceia do Senhor,
evidenciando completa glutoneria e indiferença em relação aos pobres (1Cor
11,23-25). Celebrar a Eucaristia é fazer o que Jesus fez, comer e beber juntos,
servindo uns aos outros e esperando uns pelos outros (1Cor 11,33). São os
gestos e palavras do Senhor na última ceia que estruturam a ceia eucarística
das gerações sucessivas, as quais haverão de participar, por ela, de sua morte
e ressurreição. O alimento espiritual, tomado conjuntamente, fortalece a
relação fraterna da comunidade, no serviço e na unidade que o pão partilhado
evoca (1Cor 10,16-17).
2. Em
memória de mim
A ceia de
Jesus é memorial porque, ao repeti-la, recorda-se o profundo significado que
Jesus conferiu ao gesto de partir o pão e de entregá-lo aos discípulos,
juntamente com o cálice, às vésperas de sua paixão (LENAERS, 2014, p. 240). Não
se trata de um exercício mental ou psicológico, mas de um rito que, por sua
virtude, conecta os participantes ao fato comemorado. Ao celebrar a ceia,
os convidados se tornam presentes, em mistério, ao evento fundador, sendo
transportados pelos sinais à passagem do mar Vermelho, como acontecimento
histórico que já não pode repetir-se. A ceia pascal judaica (Ex 12,14) ilumina
a Eucaristia como a Páscoa cristã. Não há diferença entre comer o cordeiro, o
ázimo e a erva amarga daquela última ceia no Egito e comer os mesmos elementos
da Páscoa atual. De acordo com Taborda (2015, p. 73), essa perspectiva da ceia
judaica esclarece o sentido da Eucaristia como memorial da Páscoa de Jesus. Nas
palavras desse autor:
Nos
sinais do pão e do vinho deixados por Jesus, nós nos tornamos hoje
contemporâneos do evento redentor da morte e ressurreição do Senhor. Em
mistério participamos do acontecimento histórico único e irrepetível que trouxe
a redenção para a humanidade. Por esse pão e esse vinho sobre os quais se
pronunciou o memorial de ação de graças e para os quais se suplicou a vinda do
Espírito Santo, somos realmente transportados na fé ao evento fundador e nos
tornamos participantes dele. Também nós podemos dizer: este pão que agora
partimos é aquele que Jesus partiu significando profeticamente seu corpo
entregue por nós; este vinho que está agora aqui no cálice é aquele vinho que
Jesus bebeu na última ceia anunciando profeticamente o seu sangue derramado
(TABORDA, 2015, p. 74).
Eis por
que, no coração da prece eucarística, foi introduzida pela reforma
pós-conciliar uma aclamação, situada logo depois do relato institucional, a ser
alegremente cantada pela assembleia: “Todas as vezes que comemos deste pão e
bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a
vossa vinda” (cf. 1Cor 11,26). Trata-se aqui de um anúncio
litúrgico-comunitário, não apenas verbal, mas unindo gestos e palavras. Aclamar
significa afirmar, sentenciosa e efusivamente, uma verdade. Os corpos, de pé,
evocam a firmeza e a importância da sentença – esse é um ato solene. Contudo, o
rito foi enfraquecido pelo influxo dogmático e devocional: muitos ainda
permanecem de joelhos – respaldados por normas confusas do Missal (IGMR 42-44).
Há que se perguntar, neste ponto: o que prescrições como essas guardam de
clericalismo? Como resposta, poderíamos dizer: uma ceia íntima e festiva
desnaturada em cerimônia formalista; gestos proféticos e domésticos de serviço,
que denunciam a sedução do poder, transformados em atos sacrificais hieráticos;
convidados ao banquete transformados em abstinentes adoradores; altares
monumentais elevados e distanciados do povo; ministros “sacerdotalizados” e
destacados do corpo eclesial… Que Igreja nasce daí?
O inciso
“(eis o) mistério da fé”, que antecede a aclamação, é tirado de 1Tm 3,9.16:
“Guardem o mistério da fé”; “Grande é o mistério da fé”. O mistério é o evento
da morte e ressurreição do Senhor, evento englobante que abarca toda a vida do
Servo neste mundo e sua glorificação, conforme o demonstra o antiquíssimo hino
onde está inserido esse inciso (BUYST, 2005, p. 25).
2.
Para um dia festivo, uma ceia festiva
O domingo apoia-se na mística do sábado judaico,
o Shabat. Para os judeus, a prescrição sabática envolve o gozo, o
deleite, a beleza e o prazer (HESCHEL, 2000, p. 32-35), elementos próprios da
festa (PEREZ, 2002, p. 15-58). Depois da ressurreição, os discípulos e
discípulas reuniam-se para celebrar, no primeiro dia da semana, em memória do
Crucificado-Ressuscitado. Três passagens do Novo Testamento, citadas na Carta
Apostólica Dies Domini, n. 21 (JOÃO PAULO II, 1998, p. 21), atestam
esse fato.
Os três textos bíblicos citados evocam, de maneira
mais ou menos explícita, a ligação do domingo com o serviço,
a liturgia e o testemunho, como obras da fé
celebradas na Eucaristia. A primeira carta aos Coríntios (16,1-2) trata da
coleta fraterna em favor da comunidade de Jerusalém, evocando o serviço. Os
Atos dos Apóstolos narram uma Eucaristia, celebrada no dia do Senhor, em Trôade
(20,7-12). O Apocalipse fala de uma visão do apóstolo no dia do Senhor, à qual
se segue a ordem de escrever às Igrejas da Ásia Menor (1,10-11). A liturgia é o
lugar originante do serviço e do testemunho: o agir e a vida cristã decorrem da
experiência celebrativa do mistério pascal de Cristo.
A descrição extrabíblica mais antiga da ceia
dominical dos cristãos está na I Apologia de Justino (†165). O
domingo era celebrado como festa pascal semanal, em memória da ressurreição de
Cristo: “É no dia do sol que juntos nos reunimos, porque este dia foi o
primeiro, no qual Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, este
no qual Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos” (JUSTINO, 2006,
p. 310-313, tradução nossa). O apologista conecta a ressurreição com o primeiro
dia da criação, estabelecendo um nexo entre a criação, o evento salvífico
cristão e a celebração da Eucaristia dominical. Celebrar o dia do Senhor remete
ao evento da criação, renovado pela Páscoa de Cristo. Contudo, o mesmo Justino,
após a celebração que descreve (liturgia), evoca a solidariedade da comunidade
para com os necessitados (serviço), bem como o enfrentamento de perseguições,
teor principal de suas apologias (testemunho).
O Vaticano II, já tendo ensinado o lugar central da
liturgia na vida da Igreja (SC 10), recupera o domingo como Páscoa semanal, dia
de festa e de alegria, dia por excelência da Eucaristia, da Palavra e da
memória pascal de Jesus Cristo (SC 106). Reforça o caráter festivo desse dia,
chamando-o de “primordial dia de festa” (primordialis dies festus), a
ser assim proposto à piedade dos fiéis. O caráter festivo do domingo é elemento
irrenunciável para a vivência mais fundamental da Eucaristia: a celebração
dominical.
3.
Do rito ao mistério
Celebrar equivale a festejar como expressão
profunda da vida, distante da lógica utilitarista e sem submissão aos
enquadramentos racionais e pragmáticos da sociedade. A festa é da ordem do
gratuito, do inútil, do não tempo (TABORDA, 2019, p. 63-67). Ela rompe a
espinha dorsal da ideologia da produção, da urgência e dos papéis sociais.
Nela, a verdade mais nuclear da vida humana vem à tona. Sua linguagem é a
poesia, a arte, o rito e o símbolo, capazes de descer às profundezas do ser, ao
contrário do discurso, da racionalidade e da especulação. Ela traz uma profecia
incômoda e, ao mesmo tempo, esperançosa, que se resume nas palavras de Paulo:
“Se é para esta vida que colocamos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre
todas as pessoas, as mais dignas de compaixão” (1Cor 15,19). O rito, como
linguagem própria da festa, antecipa um futuro de gozo e plenitude, diante do
desespero e do limite desta vida. Ele faz a ligação entre o passado e o futuro,
qualificando o presente. Na mesma linha, a Sacrosanctum Concilium (SC)
dá importante chave para a percepção da liturgia e para a compreensão do
mistério pascal de Cristo, quando afirma:
A Igreja
se preocupa vivamente que os fiéis cristãos não assistam como estranhos ou
espectadores mudos a este mistério de fé, mas que, por meio dos ritos e das
preces, alcancem uma boa compreensão dele, participem da ação sagrada
consciente, piedosa e ativamente, sejam instruídos na Palavra de Deus, se
nutram à mesa do corpo do Senhor, rendam graças a Deus oferecendo a vítima
imaculada, não somente pelas mãos do sacerdote, mas juntamente com ele,
aprendam a oferecer a si próprios e dia a dia, por meio de Cristo mediador, se
aperfeiçoem na unidade com Deus e entre eles, de modo que Deus seja finalmente
tudo em todos (SC 48).
Não é a compreensão dos ritos que promove a
participação, mas é a mediação do rito e das orações que viabiliza a
participação ativa e consciente no mistério. Por trás disso está subentendida a
compreensão do axioma lex orandi – lex credendi, isto é, “a norma
da oração (liturgia) determina a norma da fé”. Por conseguinte, é preciso
cuidar do rito e das orações litúrgicas como unidades fundamentais da festa
cristã e, ademais, como elementos memoriais capazes de nos aproximar da boa
compreensão do mistério, elemento que ultrapassa as barreiras temporais. Daí
ser possível aventar a hipótese de memória do futuro (TABORDA, 2015, p. 64-69):
não só o evento da salvação não está preso ao passado, mas, ao mesmo tempo,
também é da natureza da festa (e do rito) remeter ao futuro. A abordagem
litúrgica da Eucaristia, ao se voltar para o rito como lugar teológico, ajuda a
reconhecer que a grandeza do mistério eucarístico não está nas conclusões que
tiramos dele, mas no próprio ato celebrativo e na forma de realizá-lo.
4.
Recuperar o caráter celebrativo
Impressiona
o caráter estático ainda predominante nas assembleias, fruto de uma compreensão
assaz dogmática do sacramento, a qual, por certo, não propicia a celebração,
mas enrijece e “cerimonializa” a ação litúrgica. Os movimentos dos fiéis,
reduzidos à procissão de comunhão, ao levantar-se, ao ajoelhar-se e ao
assentar-se, conotam a concepção eucarística pré-conciliar: um espetáculo a ser
assistido. Certamente, bastante se deve à configuração dos espaços (programa
iconográfico), que muito pouco correspondem aos espaços litúrgicos do período
clássico do rito romano.
Por isso, a reforma da liturgia e do Ordo
Missae requer mais passos para se efetivar. Por exemplo: voltar o
altar para o povo, embora tenha sido um passo importante, não foi suficiente. O
rito supõe que os fiéis circundem o altar para oferecer o sacrifício de louvor
ao Pai, juntamente com aquele que preside (cf. Orações Eucarísticas I e IV). A
expressão omnium circumstantium (literalmente,
“todos [os fiéis] que, de pé, circundam” o altar) não se refere a uma metáfora,
mas à condição sacerdotal do povo, a qual se apoia nesse testemunho antigo da
tradição romana (séculos IV-VII), reafirmado pela SC 48 e pela Lumen
Gentium, n. 11: o povo oferece a oblação juntamente com o presidente e
concorre com ele na ação sagrada.
Outro
dado que sinaliza o baixo índice de recepção da reforma conciliar diz respeito
à “verdade dos sinais” (IGMR 321): que o pão se pareça alimento verdadeiro e se
possa realizar a fração do pão para manifestar mais claramente a importância do
sinal da unidade de todos num só pão e da caridade fraterna. As partículas
podem ser adotadas tão somente quando o número de participantes e outras razões
pastorais o exigirem. Segundo Lenaers:
O pão
partido e distribuído, revelação do modo pelo qual Jesus está presente no
mundo, perde muito do seu sentido quando transformado em puro objeto de
adoração. O encontro com Jesus se restringe, neste caso, a um recordar
meditativo, enquanto as palavras imperativas de Jesus convocam justamente para
comer e beber (LENAERS, 2014, p. 242).
Também de
acordo com o autor: “Eis por que é tão importante que tudo seja verdadeiro,
pois só o que é verdadeiro pode ser simbólico” (LENAERS, 2014, p. 242). Assim,
em grandes assembleias com comunhão sob duas espécies, cuide-se de guardar o
simbolismo do único cálice, usando, para a distribuição, cálices em tamanhos
bem menores, para não se igualarem ao cálice principal. E ainda:
É muito
recomendável que os fiéis, como também o próprio presidente deve fazer, recebam
o corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma missa e participem do cálice
nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a comunhão se
manifeste mais claramente como participação no sacrifício celebrado atualmente
(IGMR 85).
Os dois
breves exemplos não são apresentados como soluções para a questão proposta.
Pretendem, sim, contribuir para a verificação do caminho ritual como
possibilidade de aproximação das fontes da liturgia, da Tradição e das
Escrituras. Permanece a tarefa de recepcionar, promover e aprofundar a reforma
da liturgia da Igreja, partindo sempre do rito, de modo que a ação sacramental
não seja condicionada por uma ideia que fazemos do sacramento, mas, ao
contrário, seguindo a intuição conciliar (SC 48), que a ação ritual e orante da
Igreja promova um bom conhecimento e participação do mistério.
Referências
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uma economia sacramental. In: SESBOÜÉ, Bernard (org.). Os
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BUYST, Ione. Eis o mistério da fé: a Eucaristia
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TABORDA, Francisco. O memorial da Páscoa do
Senhor: ensaios litúrgico-teológicos sobre a Eucaristia 2. ed. São Paulo:
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TABORDA, Francisco. Sacramentos, práxis e
festa. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2019.
Danilo César* e Penha Carpanedo**
Danilo César* e Penha Carpanedo**
*presbítero da arquidiocese de Belo Horizonte, liturgista formado pelo
Instituto Litúrgico Santo Anselmo (Roma) e doutorando pela Faje/Capes (BH).
Professor de Liturgia na PUC Minas, no Ista, na Unisal e na Facasc. Membro do
Secretariado Arquidiocesano de Liturgia. Membro da Rede Celebra de animação
litúrgica. E-mail: danidevictor@gmail.com
**religiosa da Congregação Discípulas do Divino Mestre, mestra em Liturgia,
membro da Rede Celebra de animação litúrgica.
E-mail: penhacarpanedo@hotmail.com
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