ENTENDA
O sentido da Festa da Divina Misericórdia
Dom Alberto
Taveira Corrêa(*)
No segundo Domingo da
Páscoa, a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia. São João Paulo II
soube valorizar a experiência mística de Santa Faustina Kowalska. Aliás, a
Igreja tem sempre a graça de contar com pessoas que se deixam raptar pela
grandeza do amor de Deus, para anunciá-lo aos outros. Continua muito válido
recorrer aos místicos, cuja percepção dos mistérios vai além dos pobres
raciocínios humanos.
Escreve Santa
Faustina: “Ó meu Jesus, vós sabeis que, desde os meus mais tenros anos, eu
desejava tornar-me uma grande santa, isto é, desejava amar-vos com um amor tão
grande com que até então nenhuma alma vos tinha amado” (Diário1372). Sabemos
que o Senhor a escolheu para uma missão especial. Depois de passar pela “noite escura”
das provações físicas, morais e espirituais, a partir de fevereiro de 1931, em
Plock, o próprio Senhor Jesus Cristo começa a se manifestar à Irmã Faustina de
um modo particular, revelando de um modo extraordinário a centralidade do
mistério da misericórdia divina para o mundo e a história, presente em todo o
agir divino, particularmente na Cruz Redentora de Cristo, e novas formas de
culto e apostolado em prol desta sua divina misericórdia. Descreve esta
primeira visão: “Da túnica entreaberta sobre o peito saíam dois grandes raios,
um vermelho e outro pálido. Logo depois, Jesus me disse: Pinta uma Imagem de
acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em vós”
(Diário 47). Ao longo do Diário descobrimos que Jesus a escolhe como secretária,
apóstola, testemunha e dispensadora da divina misericórdia.
Compreenda
como surgiu a Festa da Divina Misericórdia, seu significado e sentido na vida
cristã
São
inúmeros os lugares do mundo que celebram, nestes dias, a Novena da Divina
Misericórdia e se multiplicam, por toda parte, Movimentos e Grupos que
contribuem na divulgação da Espiritualidade da Divina
Misericórdia, todos crescentes em participação e profundidade, com frutos de
intenso apostolado e serviços de caridade que expressam os frutos de uma
espiritualidade autêntica.
E se espalha por toda
parte a oração do Terço da Divina Misericórdia: Ele foi ensinado durante uma
visão que Irmã Faustina teve em 13 de setembro de 1935: “Eu vi um anjo, o
executor da cólera de Deus, a ponto de atingir a terra. Eu comecei a implorar
intensamente a Deus pelo mundo, com palavras que ouvia interiormente. À medida
que assim rezava, vi que o anjo ficava desamparado, e não mais podia executar a
justa punição”.
No
dia seguinte, uma voz interior lhe ensinou essa oração nas contas do rosário.
Nas contas do Pai-Nosso, reza-se: Eterno Pai, eu vos ofereço o Corpo e Sangue, a
Alma e Divindade de vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em
expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro. Nas contas das Ave-Marias,
reza-se: Pela sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro
(10 vezes). Ao fim do terço, reza-se: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal,
tende piedade de nós e do mundo inteiro. Oração de uma simplicidade
impressionante, e cujos frutos mais ainda tornam estupefatas as pessoas!
Os efeitos da oração
Outra
revelação assim indicava: “Pela recitação desse terço, agrada-me dar tudo que
me pedem. Quando o recitarem os pecadores empedernidos, encherei suas almas de
paz, e a hora da morte deles será feliz. Escreve isso para as almas
atribuladas: Quando a alma vê e reconhece a gravidade dos seus pecados, quando
se desvenda diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou,
que não se desespere, mas se lance com confiança nos braços da minha
misericórdia, como uma criança nos braços da mãe querida. Essas almas têm sobre
meu coração misericordioso um direito de precedência. Dize que nenhuma alma que
tenha recorrido à minha misericórdia se decepcionou nem experimentou vexame.
Quando rezarem esse terço junto
aos agonizantes, eu me colocarei entre o Pai e a alma agonizante, não como
justo Juiz, mas como Salvador misericordioso”.
O significado e
sentido da misericórdia
De
fato, a misericórdia é uma magnífica manifestação do amor do Senhor; é “filha
predileta do amor e irmã da sabedoria, nasce e vive entre o perdão e a ternura”
(Ignacio Larañaga). Só o amor poderia criá-la, e nasce de bondade que liga Deus
aos seres humanos, prescindindo da situação moral e social da humanidade, pois
ela é gratuita na iniciativa do amor. A palavra “misericórdia” tem origem em
dois termos latinos: “Miserere” e “cor”. O primeiro lembra piedade, compaixão
implorada por quem se encontra numa grande tribulação. É difícil permanecer
duros e insensíveis diante de quem grita com lágrimas e suspiros! “Cor” remete
a “coração”, que na compreensão cristã diz respeito ao centro da vida espiritual, sede dos sentimentos de alegria, dor, amor,
serenidade. É aqui, no sentido amplo de coração, que fazemos a avaliação das
escolhas decisivas da vida. E o coração aponta também para o núcleo último do
ser humano e sua personalidade inteira, sua vida interior e seu temperamento.
Coração dado, apaixonado pela miséria, eis a Misericórdia.
Na língua hebraica, a
raiz verbal raham indica em primeiro lugar o ventre materno, a parte mais tenra
e delicada, na qual cada mãe celebra e vive o mistério da vida. A mãe convive e
sente com o ser que traz no ventre. É neste ambiente cheio de ternura que a
criança vive antes de vir à luz. De raham chegamos a rahamim, o sentimento de
misericórdia com que o amor se manifesta concretamente. Quem ama de verdade deseja
tornar este amor visível sobretudo quando a pessoa amada se encontra em grande
dificuldade. Assim entendemos como o salmista, doente e oprimido pelo pecado,
recorre com confiança à misericórdia de Deus: “Senhor, não me recuses tua
misericórdia; tua fidelidade e tua graça me protejam sempre, pois me rodeiam
males sem número, minhas culpas me oprimem e não posso mais ver. São mais que
os cabelos da minha cabeça; meu coração desfalece” (Sl 39, 12-13; Cf. Sl 76,
10; Sl 78, 8; Sl 118, 77; SL 144,9).
Onde se manifesta a
misericórdia de Deus
É
justamente esta profunda e visceral misericórdia que Deus quer oferecer a
todos, sem excluir ninguém. E sua misericórdia se manifesta justamente naquele
que mostra as chagas da crucifixão, abre os braços, sopra o dom do Espírito Santo e dá a missão do perdão e da reconciliação à sua
Igreja: “A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes,
lhes serão retidos” (Jo 20, 23). Por isso damos graças na Festa da Divina
Misericórdia: “Quero lembrar os benefícios do Senhor, celebrar os louvores do
Senhor, por tudo o que fez em nosso favor, pela grande bondade com a casa de
Israel, quando a beneficiou em sua ternura, em sua imensa misericórdia” (Is 63,
7).
Dom
Alberto Taveira Corrêa
Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário
Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de
Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de
Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da
Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No
dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém –
PA.
https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/o-sentido-da-festa-da-divina-misericordia/
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