“Esses
homens a quem chamamos de pais”
Um franciscano menciona algumas das fundamentais
características do pai que exerce com excelência a sua paternidade
“Meus pais foram envelhecendo, foram se
fragilizando, foram precisando mais de mim. E como não precisava tanto deles,
ocupado com meu trabalho e minhas relações, tornei-me ausente. Um ausente
egoísta que empurrava os problemas para os irmãos e não pretendia se incomodar
com a velhice e a saúde de meus guardiões” (Cuide dos pais antes que seja tarde,
Carpinejar, Bertrand Brasil, p.7).
Quando chega o mês de agosto há um convite a que reflitamos sobre
a figura do pai, esse homem ao qual nossa mãe nos apresentou logo após nosso
nascimento. Viemos do seio dela, mas ela e ele “maquinaram” nossa chegada. E,
por detrás, de tudo e antes de tudo o Pai que cria os espaços, colore as
pétalas das flores e ensina os ares a fabricar a neve colocou viço e vida no
amor da mãe e do pai. Viemos do Pai belo dos céus. No amor do pai e da mãe lá
estávamos nós… Quem dera que sempre assim fosse. Duas vocações: ser pai e ser
mãe, duas trilhas que caminham inseparavelmente juntas.
Sim, não se pode falar de pai e paternidade, de mãe e maternidade
separadamente. Paternidade e maternidade constituem tesouros da humanidade, que
vão se transmitindo de geração em geração não somente porque cada um nasce de
um pai e de uma mãe, mas porque devido aos laços que se criam são comunicadas
maneiras de viver, de ser, atitudes e virtudes. Paternidade e maternidade
constituem vocações.
Uma palavra esclarecedora:
“A mãe que ampara o filho com sua ternura
e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é
um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma autoestima que
favorece a capacidade de intimidade e empatia. Por sua vez, a figura do pai
ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela
orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite
a esforçar-se e a lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que
por sua vez combine com a esposa, com o carinho e o acolhimento, é tão
necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis que se
adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem
definida das duas figuras, feminina e masculina, cria o âmbito mais adequado para
o amadurecimento das crianças” (Papa Francisco, A alegria do amor,
§ 175).
Pai, homem companheiro da esposa: A palavra companheiro é
bela. Duas pessoas que comem junto o pão de todos os dias; cum panis… Mulher e homem
se encontram, se estudam, percorrem parte do caminho um ao lado do outro e
entre os dois brota a certeza de que podem se dar as mãos, fazer um pacto de
bem-querer, fazendo a experiência de êxodo e se unindo para viver a ventura do
amor conjugal. Tudo está sempre para ser feito. Mas juntos. Amantes e amigos.
Os pais são bons quando são amigos das mães. Uma das maiores e mais fundas
alegria dos filhos é sentirem ternura, carinho entre o pai e a mãe e um
respeito amoroso nos momentos normais de divergência. O sucesso de ser pai e de
ser mãe depende em boa parte do sucesso conjugal de um homem e de uma mulher. O
filho é sempre um superávit de amor e não um acidente de percurso.
O pai, além de provedor, é presença: Os tempos mudaram. O pai
não é apenas um provedor, mas uma presença forte e indispensável no seio da
família e junto aos filhos. Não adianta somente colocar dinheiro na “firma” que
é a casa. Precisa manifestar alegria de ser marido, de ser pai, de ser pessoa
feliz. Presença na vida escolar dos filhos, nos eventos familiares mais amplos,
no sucesso e nos desafios que a mulher e os filhos vivem. Aliás, hoje muitas
mulheres é que sustentam financeiramente a casa… Pai presente na vida do filho
mesmo quando houve a separação. Pai que não pode se ausentar da vida do filho
que veio dele e uma mulher que escolheu para mãe de seus filhos.
Pai amigo e confidente: Pais que se colocam perto dos filhos,
próximos deles. Pais que conversam com os filhos e filhas meio à maneira de
colegas e confidentes. Entendamo-nos bem: não um “coleguinha” dos filhos, sempre
pai, sempre uma autoridade, mas uma autoridade que sabe ser terna e firme. Pai,
sombra carinhosa se faz presente de modo particular quando os filhos descobrem
a bela virulência de sua sexualidade. Pais que podem ser, na medida do possível
e no respeito ao mistério de cada um, amigos dos filhos.
Pais que auscultam as ânsias mais profundas do filhos: Pai e mãe saberão entrar
para uma “Escola de Pais”, aprender a arte de educar. A escola e a universidade
podem ajudar os filhos a se situarem diante do mundo. Pais e mães, no entanto,
não passam para outros suas intransferíveis responsabilidades de educadores. A
história de cada filho pode ser uma obra de arte. Depende, em parte, da
qualidade humana de um pai e de uma mãe”. O pai não quer que os filhos sejam carbonos
ou copias suas. Na volta do trabalho e em todos os momentos e sempre
auscultando as ânsias verdadeiramente profundas dos filhos. Sobretudo não
deixá-los crescer numa banalidade e superficialidade de vida.
Pais vigilantes: Pais vigilantes, mas também esposos vigilantes. Que seu
casamento não seja uma monótona rotina. Que ele sinta que sua mulher continua
crescendo como mulher. Vigiar para que o amor conjugal não fique estagnado na
mesmice das planuras. Vigiar para que na família e entre os filhos vigorem
valores: ajuda de todos, atenção para com os mais frágeis, cuidado dos avós
velhos e doentes, bondade que seja dom de vida e não apenas um “gestinho
bonitinho”. Os pais terão sempre as antenas ligadas…
Pais de seus filhos e dos filhos que a mulher trouxe: Os homens são pais de
seus filhos biológicos e dos filhos de uma companheira que veio de outro
casamento. Os tempos mudaram. Homens de valor e de garra são pais dos filhos
que outros homens geraram e colocaram no mundo.
Pai cuja vida seja janela para descobrir a Deus: Nada de imposição. O pai
mostra aos filhos que anda buscando a Deus, que tem sede do Absoluto, pai que
não seja intransigente homem dogmático, mero cumpridor de ritos religiosos. Os
filhos sentirão nos pais criaturas normais com falhas, mas se curvam diante de
um sacrário e escutam com avidez a Palavra. Pai e mãe saberão criar em casa um
clima de verdade, de vivência das bem-aventuranças. Os filhos haverão de ficar
orgulhosos do pai que é reto, simples no falar, não se vestindo do ouro do
dinheiro e do prestígio.
Ainda um texto de Carpinejar:
“Há filhos que abortam seus pais dentro
do coração, e os enterram precocemente, antes mesmo do velório. Abandonam os
pais no asilo. Largam os pais para a temeridade violenta da solidão”
(Cuide dos pais…
Carpinejar, op. cit. 7).
_________
Texto do frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM, no site Franciscanos.org.br
https://pt.aleteia.org/2018/08/10/esses-homens-a-quem-chamamos-de-pais/
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