sexta-feira, 25 de agosto de 2023

SANTO AGOSTINHO 1- Santo Agostinho ensina a dar catequese

 

 

SANTO AGOSTINHO

1-    Santo Agostinho ensina a dar catequese

 

Livro e Revista “A Instrução dos Catecúmenos”, de Santo Agostinho, é um clássico, uma obra-prima da catequese, da teologia e da pedagogia.

Por volta de 405, em Cartago (Norte de África), o diácono Deo-gratias tem um problema. É o responsável por ensinar as bases da fé aos candidatos adultos ao catecumenato (percurso de iniciação catequética e litúrgica que conduz ao batismo), tem boa reputação, tem talento para falar, mas sente-se “diminuído e cheio de desgosto”, porque não sabe a verdadeira maneira de catequizar. Por onde começar? Como captar a atenção dos ouvintes? O que fazer para não maçar?

Decide, por isso, escrever ao seu amigo Agostinho, bispo de Hipona. “Confessas e lamentas – escreve Agostinho – o que te sucede com frequência, quando, em sermão longo e monótono, não apenas aquele que instruis pela palavra e os demais ouvintes, mas tu mesmo te sentes diminuído e cheio de desgosto de ti. Obriga-te assim a necessidade a exigir de mim; em nome da caridade que te devo, apesar das minhas ocupações, eu não me recuse a escrever-te algo sobre o assunto”. E o que Agostinho escreve é um livrinho em 27 capítulos, em que revela o seu “gênio teológico” e a sua “aguda penetração psicológica”. O mestre ensina a teoria e dá-se ao trabalho de aplicar o que ensina, fornecendo um exemplo de preleção catequética, no caso, uma catequese bíblica sobre o verdadeiro descanso (isto é, a verdadeira felicidade), que “não deve ser procurado nos bens instáveis, nem nas riquezas nem nas honras”.

Antes disso, Agostinho responde, uma a uma, às “seis causas de enfado” no ato catequético. Uma delas resolve-se com uma linguagem acessível: “Somos obrigados a descer, de alguma forma, das alturas do pensamento e demorar-nos na lentidão das sílabas…”. Outra, com adaptação ao ouvinte e criatividade: “Ora, se realmente nos desagrada repetir muitas vezes estórias comuns e próprias para crianças, adaptemo-las aos nossos ouvintes com amor fraterno, paterno e materno e, unidos a eles pelo coração, também a nós nos parecerão novas”.

O espaço não permite referir cada uma das seis causas, mas não deve ser difícil notar que não há muita diferença entre as causas de aborrecimento (“seca!”) na catequese de há 1500 anos e nas actuais. E a solução continua a ser a mesma: o trabalho e preparação do/a catequista.

Hoje, para aprender a dar catequese, poucos ou nenhuns lêem esta obra de Santo Agostinho, que escreveu a pensar nos adultos, mas a verdade é que está lá tudo. Esta “Instrução” lê-se com imenso agrado. É impressionante como o bispo de Hipona continua a ter capacidade de atrair o leitor actual (a tal penetração psicológica). É notável a modernidade de Agostinho de Hipona.

Se Agostinho escreveu uma teoria e prática da catequese, hoje existem revistas que ajudam nessa tarefa fundamental da Igreja. Vai já no número 16 a “Catequistas”, revista dos salesianos. Para se ter uma ideia do seu conteúdo, vejamos os principais artigos do número 15: “Rute [figura bíblica]: experimentar Deus na fidelidade”; “O grupo leva a Jesus”; “Acompanhamento na catequese”; “Usar o retroprojetor na catequese”; “Educar o coração”; “Preparar (bem) um encontro de catequese”.

Os artigos leves, profusamente ilustrados, com o essencial da informação em destaques, fazem desta revista uma instrumento muito útil para a missão do catequista, que, como muitos dirão, é aliciante, fundamental, mas não sem dificuldades.

https://sites.ecclesia.pt/cv/santo-agostinho-ensina-a-dar-catequese/

 

2-    "Agostinho e a primeira Catequese aos não Cristãos"

Santo Agostinho nos presenteou com uma obra rara, possivelmente única em seu gênero, o De Catechizandis Rudibus, traduzido e publicado no Brasil como Primeira Catequese aos não Cristãos. É o primeiro manual para catequistas que chegou até nós. O nosso interesse por ele é mais que justificado. É uma primeira catequese a quem pensa em se fazer cristão. Anterior, portanto, ao catecumenato, e nos dá uma boa ideia de como se ingressava nele, no século IV, no Norte da África. Pode ser datada entre 399 e 405.

O primeiro desafio desta obra já está na tradução de seu título. Literalmente, poderia ser Catequese aos rudes. Mas isso poderia nos fazer pensar em pessoas ignorantes ou grosseiras. Agostinho usa, no entanto, este termo para indicar aos pagãos que se aproximam pela primeira vez de catequistas cristãos para se informarem sobre o cristianismo, e recebem, assim, os primeiros rudimentos da fé cristã. Em outras palavras, recebem as informações essenciais sobre o cristianismo, para saber se de fato querem se tornar membros da Igreja. Daí a opção por traduzir como primeira catequese, uma espécie de pré-catecumenato.

O termo catequese procede do grego katechein, que comumente indicava fazer ressoar, instruir alguém oralmente sobre alguma coisa. Entre os cristãos, este termo foi aplicado em um contexto religioso e assumiu, muito cedo, um sentido técnico. Já o encontramos em Gal 6,6. Enquanto tal, katechesis (catequese) indica uma instrução feita a quem manifestou a intenção de saber mais sobre o cristianismo e quer receber o batismo, distinguindo-se do Kerigma (primeiro anúncio), apresentado a quem quer que seja, sem mesmo ter pedido.

A ocasião para este escrito foi o pedido de um diácono da Igreja de Cartago, Deogratias, que andava insatisfeito com suas catequeses:

“Deogratias, meu irmão, tu me pediste que escrevesse alguma coisa que te servisse para a primeira catequese a não cristãos. De fato, contaste que, em Cartago, onde exerces o diaconado, muitas vezes, conduzem a ti pessoas a serem iniciadas na fé cristã (...) te questionas sobre a maneira mais fácil de transmitir aquilo que nos torna cristãos pela fé (...) admitiste também já ter acontecido, muitas vezes, que tu mesmo ficaste abatido e entediado com teu discurso longo e sem vida... “ (I,1)

Agostinho irá analisar seis razões que podem causar a insatisfação tanto do catequista quanto do seu ouvinte e para cada uma delas apresenta uma solução. É uma verdadeira pedagogia catequética, mas que não vem ao caso para nós nesse momento.

“Uma coisa é verdade: os outros nos ouvem com muito mais prazer quando nós mesmos estamos contentes com o que fazemos. Pois a nossa alegria afeta a própria qualidade da nossa fala, que sai mais fácil e aceitável. (...) O mais importante é que a pessoa catequize com alegria, seja qual for a maneira que usar (de fato, quanto mais alegre ela for, mais será agradável). O máximo de empenho deve ser colocado nisso. A regra está aí: ‘Deus ama quem dá com alegria’; se isso vale para os bens materiais, mais ainda vale para os bens espirituais” (II,4)

Essa primeira catequese é personalizada e deve partir das expectativas e circunstâncias de quem está sendo instruído. Já estamos distantes daquele clima de perseguição imperial, quando se faziam cristãos os verdadeiramente convertidos. Agora o cristianismo é a religião oficial e única permitida. Muitos querem se fazer cristãos por motivos nem sempre justos: “Se alguém quer ser cristão, visando alcançar vantagens das pessoas que pensa desagradar se não o fizer, ou pretendendo evitar prejuízos daqueles de cuja ofensa ou inimizade têm medo, de fato, não está querendo ser cristão, mas somente fingir ser cristão. Pois a fé não é uma questão de ter uma aparência que agrade aos outros, mas de um coração que crê” (V,9). Daí a importância de uma investigação prévia sobre o candidato. Aparece aqui o papel do “introdutor” que era bem delimitado nos séculos anteriores e que agora nem sempre está presente.

“Na verdade, seria útil, se fosse possível, aqueles que o conhecessem informar-nos antes, em que estado de ânimo ele se encontra ou quais os motivos que o levaram a aceitar a religião. Se não houver ninguém que nos informe, ele mesmo deve ser interrogado, a fim de podermos começar a instrução a partir daquilo que ele responder” (V,9)

Agostinho sabe que se o candidato se apresentou com falsa intenção, buscando vantagens humanas, ele irá mentir. Não deverá, no entanto, ser rejeitado, neste momento, por isso: “... devemos assumir a regra de não rejeitar a mentira como se já fosse coisa certa, mas fazer com que ele goste de ser aquilo que deseja parecer. (...) De tua parte, te esforçarás para que ele acabe por desejar, de própria vontade, aquilo que ainda não estava querendo por engano ou por fingimento” (V,9). Não é demais lembrarmos que este exame prévio é apenas para o ingresso no grupo dos catecúmenos. Para receber os sacramentos da iniciação cristã ainda terá uma longa caminhada e outros exames.

“É verdade que, muitas vezes, a misericórdia de Deus interfere, através do ministério do catequista, fazendo com que, tocada pela palavra, a pessoa queira se tornar aquilo que tinha decidido fingir. Quando, de verdade, começar a querer ser cristão, consideremo-lo como admitido à catequese. Nunca sabemos quando aquele que já vemos presente de corpo, estará deveras de coração; mas devemos tratá-lo de tal maneira que nasça nele essa vontade, se é que ainda não existe” (V,9)

Alegria e persistência! Eis as duas grandes virtudes que, juntas à fé e à prática de vida, animam o/a catequista e o/a ajudam na conversão do catequizando.

Pe. Luiz Antônio Belini
Colunista do Jornal Servindo 

 

http://www.diocesecampomourao.org.br/artigos/1315/agostinho-e-a-primeira-catequese-aos-nao-cristaos-09-02-2021

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