O
perfil das novas vocações à Vida Religiosa Consagrada
Vagner Sanagiotto - publicado em 26/06/22
Quais são as características das novas vocações à
Vida Religiosa? Como organizar um percurso formativo que seja atualizado?
Nos
últimos anos, lemos em vários artigos e livros que estudam sobre a Vida
Religiosa Consagrada um mantra que se repete: estamos vivendo em um contexto
social diferente, em uma mudança de época, marcada pelo frenesi da novidade e
por processos intersubjetivos fragmentados. Além de uma leitura evidente da
realidade, este é o contexto sociocultural no qual “nascem” as novas vocações,
aqueles homens e mulheres que, depois do caminho formativo inicial, continuarão
o anúncio evangélico através dos diversos carismas que estão na base das várias
Congregações Religiosas.
A
formação à Vida Religiosa Consagrada é um assunto muito pesquisado, mas não
deve ser considerado esgotado. Em termos gerais, temos a firme convicção de que
o presente e o futuro de nossa missão, dependem da formação que oferecemos às
novas vocações. De fato, a formação é a chave que abre as portas para uma vida
e uma missão significativas em nossas Congregações. Sem contextos formativos
adequados que correspondam às necessidades atuais, o risco de nos repetir,
parar e perder o senso de quem somos e o que fazemos é mais do que apenas uma
hipótese de pesquisa.
Mas,
quais são as características das novas vocações à Vida Religiosa? Como
organizar um percurso formativo que seja atualizado? Com o objetivo de dar
algumas indicações práticas a estas perguntas, com o apoio da Conferência dos
Religiosos do Brasil (CRB – núcleo Paraná), desenvolvemos uma pesquisa empírica
na qual foram convidados a participar formandos e formadores de diversos
contextos formativos. Participaram da nossa pesquisa 138 formandos e 27
formadores, de todo o ciclo da formação inicial, do postulantado ao juniorato,
daqueles que haviam apenas entrado na formação inicial até aqueles formandos
que estavam prestes a entrar na formação permanente. Isso nos permitiu
compreender e analisar as principais mudanças formativas que ocorrem no arco da
formação inicial.
Ao
longo de dois anos, foram feitas publicações comunicando os resultados, dos
quais consideraremos quatro pontos de reflexão (Sanagiotto, 2022):
(a) a
análise sociodemográficas de onde “nascem” as vocações (Sanagiotto, 2020): as
vocações que batem as portas dos nossos conventos/seminários são jovens/adultos
(64% com até 21 anos de idade), porém a média de idade cresce gradativamente,
sendo que nos contextos formativos temos a presença de vocações com
significativa diferença de idade e etapas do desenvolvimento humano;
(b) o
estudo do perfil psicológico das novas vocações (Sanagiotto & Crea, 2021):
de maneira geral, os formandos se descrevem com um olhar positivo sobre si
mesmos, poderíamos dizer, com um forte idealismo. Isso pode representar um
ponto de fraqueza, no sentido da falta de um conhecimento integral de si mesmo,
principalmente que faça referência à realidade. Pode, também, ser considerado
como um ponto forte, no qual tal idealismo poderá ser usado como um recurso
formativo motivacional;
(c) a
importância da formação a maturidade afetiva (Sanagiotto & Pacciolla,
2020): no que diz respeito a afetividade, os formandos dizem que aceitam o
celibato com naturalidade e se consideram sexualmente equilibrados. Quando
perguntamos sobre os aspectos relacionais da afetividade, uma grande
porcentagem encontra algum tipo de dificuldade. Uma análise mais aprofundada do
argumento nos indicou que falar sobre afetividade e sexualidade não é algo que
flui naturalmente nos contextos formativos, realidade essa que contribui para
uma autopercepção inflada, porque, se tudo está bem, então não precisamos nos
deter nesse assunto
(d) a
proposta de um itinerário para o discernimento vocacional (Crea &
Sanagiotto, 2022): diante dos resultados da nossa pesquisa, nos perguntamos
como discernir a caminhada vocacional das novas gerações. O discernimento
vocacional foi estudado em três perspectivas: a) o interesse do formador pela caminhada
vocacional dos formandos; b) a clareza dos critérios que orientam o discernimento
vocacional; c) a capacidade de tomar decisões sobre
a caminhada vocacional dos formandos.
Bibliografia
CREA,
G.; SANAGIOTTO, V. Aspectos psicológicos do discernimento vocacional:
itinerário formativo para o discernimento das vocações. São Paulo:
Paulinas, 2022.
SANAGIOTTO,
V. Caminhar com determinação e um olhar para o futuro. Uma investigação sobre o
contexto formativo na Vida Religiosa. Convergência, v. 55,
n. 531, p. 104–120, 2020.
SANAGIOTTO,
Vagner. O perfil das novas vocações à Vida Religiosa: entre desafios e
esperanças. Convergência, v. 57,
n. 538, p. 59-72, 2022.
SANAGIOTTO,
V.; CREA, G. Il profilo psicologico dei religiosi in formazione iniziale:
attese e prospettive. Orientamenti Pedagogici, v. 68, n. 3, p. 67–81,
2021.
SANAGIOTTO,
V.; PACCIOLLA, A. Formação à afetividade na vida religiosa consagrada: uma
investigação empírica sobre os contextos formativos. Revista Eclesiástica
Brasileira,
v. 80, n. 317, p. 504–518, 2020.
https://pt.aleteia.org/2022/06/26/o-perfil-das-novas-vocacoes-a-vida-religiosa-consagrada/
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