III- Liturgia do 18.º
Domingo do Tempo Comum– Ano B
- Na primeira leitura, o povo recém libertado prodigiosamente do poderio
egípcio está caminhando pelo deserto. A caminhada já se estende por alguns
meses, e as dificuldades começa-lhe a pesar nos passos: a fome, o cansaço, a
falta de uma moradia etc. Começa a murmurar contra Deus e contra Moisés. É uma
tentação humana começar a murmurar quando uma situação foge ao controle. Nisto,
o povo começa a idealizar o Egito, isto é, a terra da escravidão, da opressão e
da violência, e descrevê-la como terra de fartura. Vê de modo invertido. Olha
para a "vida velha" e sente saudades, apesar de todo o sofrimento que
lá foi vivido: "Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no
Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com
fartura!" (Ex 16,3). Esta saudade representa a tentação que o povo sentiu
e sente, ao longo de sua história, de voltar às antigas seguranças, de viver à
margem de Deus, de seus valores e de seu projeto, e de voltar a viver de acordo
com os comodismos do passado. O Senhor olha para a necessidade do povo. Diante
da fome, é preciso dar de comer! Contudo, o Senhor responde à necessidade de
modo a "por à prova" o seu povo. Ou seja, este não é simplesmente um
ato de atender os desejos do povo, mas um processo educativo. A peregrinação
que o povo faz pelo deserto não é meramente geográfica, de um ponto a outro no
mapa, mas é uma peregrinação existencial, de mentalidade. A distância maior a
se percorrer não é a do Egito para a Terra Prometida, mas a da mentalidade
escrava para a mentalidade de povo livre. Enquanto pensavam apenas na saciedade
material, permaneciam ainda escravos dos seus próprios desejos, de uma
mentalidade antiga e violenta que os oprimiu por longos séculos. O fato de o
maná só poder ser recolhido em quantidade suficiente para um dia é uma lição de
desprendimento e confiança em Deus. O povo deve confiar no Senhor e não viver
para o "ter". É preciso libertar o coração da ganância e do egoísmo,
para se entregar com confiança nas mãos do Senhor que há de dar, a cada dia, o
que lhe for necessário para a vida.
- A vida cristã permanece um constante êxodo,
uma constante passagem, isto é, Páscoa, da antiga para a nova vida. Ao
aderirmos à vida de Cristo, é preciso abandonar à vida antiga, a despojar-se
"do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões
enganadoras" (Ef 4,22). Quem tem a sua vida banhada na vida de Cristo pelo
Batismo, não pode olhar para trás, para as paixões do passado. É preciso olhar
e caminhar para frente! Na direção que aponta o Senhor.
- Assim, entenderemos a ordem do Senhor no
Evangelho: "Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento
que permanece até a vida eterna". Ele fala à multidão que, como ouvimos no
último domingo, teve a sua fome saciada com o pão, que sobre o qual o Senhor
elevou a ação de graças e distribui. Com cinco pães e dois peixes o Senhor
alimentou uma multidão de cinco mil pessoas, ainda sobrando doze cestos cheios.
A busca por Jesus ainda não tem um motivo justo, mas o procura porque quer pão.
Não vê o sinal, mas apenas o milagre do pão que sacia momentaneamente. Eles
precisam mais do que atravessar geograficamente um lago, mas fazer o salto da
fé, e perceber que aquele gesto aponta numa direção importante: a presença de
Deus em Jesus Cristo. De modo correto, o povo pergunta: "Que devemos fazer
para realizar as obras de Deus?" A obra de Deus se dá mediante a fé
naquele que Ele enviou, responde Jesus. A fé continuará sendo o combustível
para que sigamos em nosso caminho de conversão: de homens e mulheres velhos
para homens e mulheres novos. A fé é a força que nos fará vencer as tentações e
as saudades da vida antiga.
- O Senhor, por sua vez, assume a
responsabilidade sobre nós e cuida de nós neste esforço pelo pão que não
perece. Ele está do nosso lado, presente continuamente no meio de nós, no Pão
da Vida, a Eucaristia. "Eu sou o Pão da Vida" diz Jesus. Este é o pão
que alimenta a nossa fé, para que não pereçamos no caminho: "Quem vem a
mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede". O ser
humano sempre terá necessidades físicas e biológicas, mas em Cristo,
descobrimos que a nossa verdadeira fome e sede só poderá ser saciada em Deus.
- Desejar apenas as coisas da
realidade material, mantém os vazios humanos impreenchíveis. Alimentados com o
Pão da Vida, jamais teremos fome novamente, porque Jesus preenche todos os
espaços vazios de nossa humanidade. Quantos ainda não conhecem o Senhor e vivem
vidas vazias e sem sentido? Quantos vivem por aí como que seguindo qualquer
sopro de novidade, modismos, assuntos em alta, que geram curtidas e aceitação
da maioria...? O Pão que dá vida ao mundo, nós o recebemos na Liturgia. Ela é o
espaço privilegiado para a avaliação de nossas vidas, o redirecionamento de
nossas intenções, o amadurecimento na vida de fé e crescimento pessoal em nosso
compromisso batismal, pois nela somos iluminados pela Palavra de Deus e
alimentados com o Pão da Vida. Por isso, como o povo do Evangelho, rezemos:
"Senhor, dá-nos sempre desse pão"
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