sábado, 3 de agosto de 2024

III- Liturgia do 18.º Domingo do Tempo Comum– Ano B

 

 

 

III- Liturgia do 18.º Domingo  do Tempo Comum– Ano B

- Na primeira leitura, o povo recém libertado prodigiosamente do poderio egípcio está caminhando pelo deserto. A caminhada já se estende por alguns meses, e as dificuldades começa-lhe a pesar nos passos: a fome, o cansaço, a falta de uma moradia etc. Começa a murmurar contra Deus e contra Moisés. É uma tentação humana começar a murmurar quando uma situação foge ao controle. Nisto, o povo começa a idealizar o Egito, isto é, a terra da escravidão, da opressão e da violência, e descrevê-la como terra de fartura. Vê de modo invertido. Olha para a "vida velha" e sente saudades, apesar de todo o sofrimento que lá foi vivido: "Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura!" (Ex 16,3). Esta saudade representa a tentação que o povo sentiu e sente, ao longo de sua história, de voltar às antigas seguranças, de viver à margem de Deus, de seus valores e de seu projeto, e de voltar a viver de acordo com os comodismos do passado. O Senhor olha para a necessidade do povo. Diante da fome, é preciso dar de comer! Contudo, o Senhor responde à necessidade de modo a "por à prova" o seu povo. Ou seja, este não é simplesmente um ato de atender os desejos do povo, mas um processo educativo. A peregrinação que o povo faz pelo deserto não é meramente geográfica, de um ponto a outro no mapa, mas é uma peregrinação existencial, de mentalidade. A distância maior a se percorrer não é a do Egito para a Terra Prometida, mas a da mentalidade escrava para a mentalidade de povo livre. Enquanto pensavam apenas na saciedade material, permaneciam ainda escravos dos seus próprios desejos, de uma mentalidade antiga e violenta que os oprimiu por longos séculos. O fato de o maná só poder ser recolhido em quantidade suficiente para um dia é uma lição de desprendimento e confiança em Deus. O povo deve confiar no Senhor e não viver para o "ter". É preciso libertar o coração da ganância e do egoísmo, para se entregar com confiança nas mãos do Senhor que há de dar, a cada dia, o que lhe for necessário para a vida.

 - A vida cristã permanece um constante êxodo, uma constante passagem, isto é, Páscoa, da antiga para a nova vida. Ao aderirmos à vida de Cristo, é preciso abandonar à vida antiga, a despojar-se "do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras" (Ef 4,22). Quem tem a sua vida banhada na vida de Cristo pelo Batismo, não pode olhar para trás, para as paixões do passado. É preciso olhar e caminhar para frente! Na direção que aponta o Senhor.

 - Assim, entenderemos a ordem do Senhor no Evangelho: "Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna". Ele fala à multidão que, como ouvimos no último domingo, teve a sua fome saciada com o pão, que sobre o qual o Senhor elevou a ação de graças e distribui. Com cinco pães e dois peixes o Senhor alimentou uma multidão de cinco mil pessoas, ainda sobrando doze cestos cheios. A busca por Jesus ainda não tem um motivo justo, mas o procura porque quer pão. Não vê o sinal, mas apenas o milagre do pão que sacia momentaneamente. Eles precisam mais do que atravessar geograficamente um lago, mas fazer o salto da fé, e perceber que aquele gesto aponta numa direção importante: a presença de Deus em Jesus Cristo. De modo correto, o povo pergunta: "Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?" A obra de Deus se dá mediante a fé naquele que Ele enviou, responde Jesus. A fé continuará sendo o combustível para que sigamos em nosso caminho de conversão: de homens e mulheres velhos para homens e mulheres novos. A fé é a força que nos fará vencer as tentações e as saudades da vida antiga.

 - O Senhor, por sua vez, assume a responsabilidade sobre nós e cuida de nós neste esforço pelo pão que não perece. Ele está do nosso lado, presente continuamente no meio de nós, no Pão da Vida, a Eucaristia. "Eu sou o Pão da Vida" diz Jesus. Este é o pão que alimenta a nossa fé, para que não pereçamos no caminho: "Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede". O ser humano sempre terá necessidades físicas e biológicas, mas em Cristo, descobrimos que a nossa verdadeira fome e sede só poderá ser saciada em Deus.

- Desejar apenas as coisas da realidade material, mantém os vazios humanos impreenchíveis. Alimentados com o Pão da Vida, jamais teremos fome novamente, porque Jesus preenche todos os espaços vazios de nossa humanidade. Quantos ainda não conhecem o Senhor e vivem vidas vazias e sem sentido? Quantos vivem por aí como que seguindo qualquer sopro de novidade, modismos, assuntos em alta, que geram curtidas e aceitação da maioria...? O Pão que dá vida ao mundo, nós o recebemos na Liturgia. Ela é o espaço privilegiado para a avaliação de nossas vidas, o redirecionamento de nossas intenções, o amadurecimento na vida de fé e crescimento pessoal em nosso compromisso batismal, pois nela somos iluminados pela Palavra de Deus e alimentados com o Pão da Vida. Por isso, como o povo do Evangelho, rezemos: "Senhor, dá-nos sempre desse pão"

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