XI-A MISSA E A COMUNHÃO FREQUENTE
Por Padre Rafael Ibarguren, EP – Conselheiro de
Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja..Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
O CULTO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO E A PRÁTICA DA COMUNHÃO CONHECERAM
MOMENTOS DE ESPLENDOR EM TEMPOS NÃO DISTANTES.
O desejo da Igreja foi, é e
sempre será que os católicos comunguem frequentemente e, se possível,
diariamente, para imunizar as almas, na medida do possível, contra o pecado e
tornar mais íntima a relação com Jesus. É por isso que o inimigo infernal odeia
a Eucaristia e faz tudo o que pode para que as pessoas se distanciem, ignorem ou
até profanem o Pão do Céu.
Os primeiros cristãos
comungavam sempre que assistiam ao Santo Sacrifício. À medida que crescia o
número de batizados, aumentava o número de Missas, embora o número de
comungantes não progredisse proporcionalmente.
À força de exortações,
os Santos Padres conseguiram que a maioria dos fiéis recebesse a Comunhão com
certa regularidade, mas a Igreja não pôde evitar que a assiduidade da Comunhão
fosse relaxando; aliás, não é possível precisar datas exatas que ponham um fim
nesta mudança na frequência eucarística nos diversos lugares.
Ao sopro da graça e
de vários fatores temporais, um saudável anhelo eucarístico se intensificou no
século XVI com o Concílio de Trento. Mais tarde, a Comunhão frequente voltou a
diminuir – assim como a própria Fé – por conta da influência do Jansenismo, da
mentalidade racionalista e do indiferentismo religioso… que ainda padecemos.
De qualquer forma, a
baixa assistência dos católicos à mesa eucarística, mesmo daqueles considerados
fervorosos, na maioria das vezes provinha de uma formação um tanto rigorosa da
consciência. É um erro privar-se da Comunhão por um sentimento exagerado da
própria indignidade. A verdade é que nunca mereceremos a Comunhão, mas sempre
nos será necessária. Claro que só poderemos recebê-la se estivermos em amizade
com Deus, em estado de graça. Quanto às faltas veniais e as imperfeições que se
cometem diariamente – o justo peca sete vezes ao dia – a recepção da Comunhão
as apaga.
O Culto ao Santíssimo
Sacramento e a prática da Comunhão conheceram momentos de esplendor em tempos
não distantes. Pensemos nas obras eucarísticas de São Pedro Julião Eymard na
segunda metade do século XIX e no seu subsequente impacto global, ou no
pontificado de São Pio X no início do século XX, que promoveu a Comunhão
frequente e a Comunhão precoce.
Mais próximo no
tempo, durante o período em que o Papa Wojtyla governou a Igreja, dois
acontecimentos eucarísticos merecem especial menção: a publicação da encíclica
“Ecclesia de Eucharistia”, um magistral compêndio do mistério eucarístico, e a
permissão dada aos fiéis para comungar duas vezes por dia, desde que a segunda
Comunhão seja recebida através da participação na celebração da Missa. Esta
cláusula aparece no Cânon nº 917 do Código de Direito Canônico em vigor,
promulgado em 1983. É uma normativa pouco conhecida, mas seu alcance é imenso,
pois mostra o quanto a Igreja deseja a familiaridade dos batizados com o
Santíssimo Sacramento.
Já em nosso século,
outro documento do magistério pontifício é a Exortação Apostólica “Sacramentum
Caritatis” do Papa Bento XVI, onde expõem com lógica e ardor impecáveis como
a Eucaristia deve ser crida, celebrada e vivida. Ali se diz uma verdade que
gostaríamos de ver muito mais testemunhada: “A melhor catequese sobre a
Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada”. Que grande verdade! Porque a
Fé é expressa em ritual e o ritual fortalece a Fé.
Sabemos que é de
preceito obrigatório que todo católico receba a Comunhão pelo menos uma vez por
ano. Também que a Igreja estipula que a Comunhão seja procurada “in articulo
mortis”, ou seja, quando os fiéis correm grave risco de morte. Com o tato de
uma mãe, a Igreja determina a obrigação da Comunhão anual, aconselha fortemente
a Comunhão frequente e até permite o privilégio de recebê-la duas vezes ao dia
nas condições estipuladas.
Durante a chamada
pandemia de COVID, muitos fiéis foram impedidos de assistir à Missa, de
comungar e de visitar o Santíssimo Sacramento; As igrejas foram fechadas e em
muitos lugares os sacramentos tornaram-se impraticáveis ou quase… justamente
quando se tornaram mais urgentes. Foi doloroso.
A EUCARISTIA NUNCA PODE SER SUPERESTIMADA
Neste contexto, não faltou quem
dissesse que isto não era tão grave, que não era preciso exagerar, que a
Eucaristia estava sendo sobrevalorizada, que sempre tivemos momentos na
história do cristianismo de pessoas que não conseguiam comparecer à celebração
ou receber a comunhão e isso não significa que a Fé tenha desmoronado; em suma,
que não havia necessidade de ficar obcecado pela Eucaristia, porque Jesus
Cristo também tem outras formas de presença: a Bíblia, os pobres, onde dois ou
mais se reúnem em seu nome, etc. Muitos pensaram assim e alguns até disseram
isso. Como se vê, são afirmações simplistas e até chocantes pois implicam uma
subestimação e uma banalização do mistério eucarístico.
No sentido contrário, vejamos o
que pensava e escreveu São Pedro Julião Eymard em sua época: “Eu estava
obcecado com a ideia de que não existia nenhuma congregação consagrada a
glorificar o Santíssimo Sacramento com dedicação total; essa congregação devia
existir. Então prometia a Maria trabalhar para esse fim (…) Amemos
apaixonadamente a Eucaristia. Alguns nos dirão “mas isso é um exagero!” Mas o
que é o amor senão o exagero? Exagerar é ir além. Pois bem, o amor deve
exagerar. Quem se limita a fazer o que é estritamente seu dever não ama. O
nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer a lei das paixões humanas (…) na
ordem da salvação é necessário também ter uma paixão que domine a nossa vida”.
Com relação à Eucaristia, entre a
indiferença e a paixão, um católico sensato, de acordo com a Fé e a razão,
optará naturalmente pela paixão.
A esta verdade sempre válida,
acrescentemos outra, particularmente oportuna: nada é mais benéfico nos dias
críticos em que vivemos do que a proximidade dos altares onde se imola e se dá
como alimento o melhor dos amigos.
https://catolicaconect.com.br/a-missa-e-a-comunhao-frequente/
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