XIII-
REFLEXÃO DE UM PSICÓLOGO QUE É TAMBÉM PAI E AVÔ(*)
Lindolivo Soares
Moura(**)
Oi minha
linda, como você está? Tudo bem? Tem gente que gosta de responder a essa
pergunta dizendo: "tirando o que está mal, sim, está tudo bem". Não
deixa de ser uma boa e curiosa resposta, mas compreender como funcionam nosso
cérebro e nossa mente pode minimizar bastante o nosso sofrimento e ajudar a
otimizar e muito a nossa autoestima e a nossa qualidade de vida. Por exemplo:
você sabia que nosso cérebro é "naturalmente" seletivo, recusando-se
a processar e obedecer ordens e comandos negativos que enviamos para ele? Já
havia reparado nisso antes? Imagine por exemplo uma ordem do tipo: "não
pense numa casa linda com uma piscina maravilhosa!". Consegue cumprir essa
ordem sem pensar na casa que vocês têm? Impossível, não é verdade? Da mesma
forma, imaginemos que você pretenda diminuir o chocolate porque costuma comer
em excesso e isso vem prejudicando sua saúde, e para reforçar sua decisão você
repete com frequência de si para si mesma algo do tipo: "não coma
chocolate! Não coma chocolate! Não coma chocolate!". Seu cérebro, claro,
registrará e repetirá várias vezes essa ordem ou decisão, só que não de forma
negativa mas sim afirmativamente: "coma chocolate! Chocolate! Coma
chocolate!". E isso, claro, além de não resolver o seu problema, poderá
agravá-lo ainda mais. A chamada PNL - Programação Neuro-Linguística - descobriu
que essa é apenas uma entre as tantas ciladas que nosso cérebro e nossa mente,
conjugadamente, nos armam com frequência, mas que é possível se precaver de
forma bastante eficaz contra isso. A "dica" de hoje oferece algumas
sugestões práticas nesse sentido. Vamos lá então? APRENDENDO A FAZER USO DA PALAVRA E DO PENSAMENTO A SEU FAVOR E NÃO
CONTRA VOCÊ E CONTRA NINGUÉM MAIS.
Quando a PNL
surgiu - daqui para frente você já sabe: PNL = Programação Neuro-Linguística -
essa palavrinha "programação" acabou criando um grande reboliço. Os
críticos - especialmente os defensores
da liberdade e da autonomia do ser humano - apoiados por aqueles que alertavam
para os perigos de se "programar" pessoas como se fossem máquinas ou
robôs, subiram imediatamente o tom. Comportamentalistas como Skinner e Pavlov
já haviam levado alguns "puxões de orelha" por motivos semelhantes.
"Programar" seres humanos pareceu a tais críticos ainda mais perigoso
que "condicionar"; juntos então, parecia algo impossível de se
aceitar. É bem verdade que toda "tese" tem sua "antítese",
condição indispensável para que as "sínteses" sejam possíveis, e com
elas o ensinamento e o aprendizado. O perigo, porém, está na absolutização ou
na dogmatização: "as convicções e as crenças são mais inimigas da verdade
do que a própria mentira", afirmava Nietzsche. O certo é que aprender a
conhecer, analisar e fazer uma "triagem" para com nossos pensamentos,
crenças e convicções, é fundamental para nosso crescimento e para o aumento de
nossa autoestima e de nossa qualidade de vida. A isso os orientais dão o nome
de "despertar da consciência" - ou "iluminação", como se
preferir - algo próximo do que nós ocidentais chamamos de
"maturidade" ou "autonomia", porém num estágio bem mais
avançado e profundo de consciência. Como prometido, aí vão algumas sugestões
que espero poder ajudá-la nessa inesgotável busca pela conquista da maturidade
e da autonomia emocional.
PRIMEIRA DICA: PENSE POSITIVO, E
SEMPRE QUE POSSÍVEL TRANSFORME SEU PENSAMENTO NUM "MANTRA". Mantras são palavras ou pensamentos
recitados ou cantados com o objetivo de favorecer a meditação, mas também podem
servir como forma de "controle" ou "programação" da mente,
no melhor sentido desses termos. Cérebro e mente, como bem o sabemos, trabalham
em "sintonia fina" um com o outro, e juntos são imbatíveis quanto ao
poder de influenciar nossos sentimentos, nossos afetos e nossas emoções. O
livro "O poder do pensamento positivo" explorou como poucos essa
verdade, reconhecida cientificamente. Não há, como já foi advertido, nenhuma
mágica nisso; apenas uma relação de causa e efeito: "somos o que pensamos.
Tudo que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos construímos
nosso mundo": Buda já havia se dado conta desse princípio há mais de dois
mil e seiscentos anos atrás; a PNL e a Teoria Cognitivo-Comportamental apenas o
retomaram e o recolocaram em evidência. Do ponto de vista emocional, portanto,
é importante compreender que nutrir nossa mente com pensamentos positivos e
convicções otimistas é condição indispensável para uma vida saudável e um
equilíbrio constante.
SEGUNDA DICA: JAMAIS FAÇA USO DA
PALAVRA CONTRA VOCÊ MESMA. VOCÊ SÓ TERÁ A PERDER COM ISSO. Aqui sim, você pode - como o fez o
Psicanalista francês Jacques Lacan - atribuir à palavra um poder verdadeiramente
mágico. Porém com um detalhe importante: um poder mágico tanto para o bem como
para o mal. O que é solução pode vir a ser também um problema. Se você pensa ou
repete com frequência de si para si mesma afirmações do tipo: "essa tarefa
com certeza eu não consigo realizar!"; "esse elogio, sinceramente não
me cabe!"; "não sou tão inteligente como as pessoas pensam!";
"tenho mais defeitos que qualidades e disso estou consciente!";
"já errei muito na vida e portanto não mereço ser feliz!", dentre
outras, está fazendo uso da palavra "contra" você mesma. Seu cérebro
registrará exatamente o que você diz, sua mente repetirá como um papagaio o que
foi registrado, e pronto: "a profecia do acontecimento acaba favorecendo o
acontecimento da profecia", tal como ensina a Teoria
Cognitivo-Comportamental e a Programação Neuro-Linguística. Lembre-se: como um
computador mental seu cérebro é um exímio leitor e "repetidor de
mensagens". Se você o abastece com palavras, pensamentos e profecias que
depõem contra você mesma, ele repetirá esse conteúdo várias e várias vezes ao
dia, simplesmente corroborando o que você pensa e diz. Depois de certo tempo
isso acaba se transformando num "padrão condicionado e automático" de
pensamentos, percepções e convicções. De repente você se vê surpreendida com
perguntas do tipo: "por que nunca consigo ter sucesso na vida?", ou,
"por que não consigo ser feliz?". Nessa hora seu cérebro e sua mente
responderão de forma automática, porque a isso foram condicionados:
"porque você não merece!", ou então, "porque você não tem
competência". No fundo no fundo, observe bem, é você mesma fazendo a
pergunta e você mesma se dando a resposta. Evite portanto fazer uso de palavras
ou pensamentos que deponham contra você mesma. Seu cérebro e sua mente agradecem,
e a recompensa será o aumentando de sua autoconfiança, de sua autoestima e de
sua qualidade de vida.
TERCEIRA DICA: O EFEITO
"BUMERANGUE" DA FOFOCA E DA PALAVRA PRONUNCIADA CONTRA OS OUTROS. Não é apenas a palavra pronunciada
contra si mesma que pode lhe trazer sérios danos e prejuízos, minha linda;
também aquela pronunciada contra os outros e em desfavor dos demais acabará
produzindo o mesmo efeito mais cedo ou mais tarde. Essa conclusão não é fruto
de uma crença qualquer, como se poderia imaginar, e sim de pesquisa científica
séria. Pesquisadores norte-americanos concluíram que quando uma pessoa -
um político, por exemplo - fala
frequentemente mal de uma outra, quem ouve tende a associar as críticas e
defeitos apontados com a própria pessoa que fala e critica. A isso deram o nome
de "efeito bumerangue", brinquedo que ao ser arremessado retorna
imediatamente às mãos do arremessador. Isso não diz respeito apenas à
"fofoca" - o nome do artigo é: "O efeito bumerangue da
fofoca" - mas a tudo aquilo que pensamos, desejamos e comentamos sobre uma
determinada pessoa. O conteúdo negativo da fala funciona como uma espécie de
joio ou cizânia que semeamos, dos quais acabaremos colhendo os frutos no seu
devido tempo. Buda, novamente ele, ensinava o seguinte: "faça eu o bem ou
o mal, serei sempre herdeiro daquilo que eu fizer". O que a PNL fez foi
apenas ampliar esse conteúdo, ao afirmar que não apenas o fazer e a conduta,
mas também nossos propósitos e intenções - incluindo tudo aquilo que aos outros
desejamos - fazem parte desse legado e dessa herança. Pensa em construir um
patrimônio para si mesma, e em deixar um legado para alguém que você ama? Se a
resposta for sim, não se esqueça: o legado financeiro garante a sobrevivência,
o legado intelectual o reconhecimento e a fama, e o legado moral a reputação e
a honra. Pense bem nisso.
QUARTA E ÚLTIMA DICA: APRENDA A
SUBMETER SEU CORAÇÃO A UMA "DIÁLISE" DOS SENTIMENTOS E DAS EMOÇÕES. Do alto dos seus quinze para
dezesseis anos, minha linda, é certo que você já terá tido que "suportar"
palavras duras que muito machucaram e muita tristeza causaram ao seu coração:
palavras vindas de uma pessoa que pretendia rebaixar ou humilhar você, de um
professor ou professora que queria deixar bem claro quem mandava na aula
naquele dia, de um(a)colega enciumado(a) ou invejoso(a) de uma conquista por
você alcançada, de sua mãe ou de seu "tio" que passavam por um
péssimo momento, e quase puseram tudo a perder naquele dia, sem sequer se darem
conta disso; enfim, só Deus sabe quando e quem de fato, intencionalmente ou
não, terá causado tanta dor e tamanha tristeza ao seu coração. Pois bem, minha
linda: lembre-se sempre do que você vai ouvir agora. Todo ser humano, cada um
de nós, possuímos uma espécie de "máquina de restauração e recuperação dos
afetos", cuja função é realizar a "diálise" - filtração e
purificação - dos nossos sentimentos e emoções. Algo parecido com a máquina de
"hemodiálise" que faz exatamente o mesmo com o nosso sangue, que
depois de purificado continua a correr limpo e saudável pelo nosso corpo. Essa
máquina especial que trazemos conosco é impulsionada pelo nosso
"querer", pela nossa capacidade de "compreensão, pela nossa
"bondade" e acima de tudo pela nossa "disposição ao
perdão". Veja bem: ninguém pode fazer isso por nós; absolutamente ninguém.
Quando muito, pode nos motivar a fazê-lo, pois esse processo é realizado a
partir "de dentro" de nós mesmos, e não "de fora" como
acontece com a "hemodiálise". Nunca, jamais deixe que essa máquina
emperre e fique fora de funcionamento. Se isso vier a acontecer você acabará
sofrendo mais do que deve e mais do que o processo de cura exigirá de você. Se
acredita em um Deus, ou em um Ser Superior, solicite sua ajuda; não há nada de
errado com isso. De acordo com a Escritura considerada Sagrada pelos cristãos,
esse Ser Superior é "Verbo", desde sempre! E "Verbo" é
"Palavra"! E "Palavra" é "Comunicação"! E a isso,
enfim, chamamos de "oração". Não se esqueça portanto de orar sempre,
e de dar um "polimento" de vez em quando, nessa sua máquina de
"diálise dos sentimentos e das emoções"; muitas pessoas se esquecem
disso, e por isso ela acaba enferrujando.
Beijos nesse
coração de ouro! AMO MUITO VOCÊ, A BIA,
O BEN, O FRAN E O ALÊ. Cuidem-se bem!
(*) Reflexão enviada por
whatsapp, de Vitória(ES)
(**)
Lindolivo Soares Moura é )Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de
Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.
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