sexta-feira, 23 de agosto de 2024

V- REFLEXÃO DOMINICAL I: A OPÇÃO PELO AMOR DE CRISTO = 21º DOMINGO DO TEMPO COMUM Por Marcus Mareano

 

V- REFLEXÃO DOMINICAL I: A OPÇÃO PELO AMOR DE CRISTO

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21º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Marcus Mareano

 

I.              INTRODUÇÃO GERAL

 

O Tempo Comum vai avançando, e a Palavra de Deus instiga-nos interiormente para escolhas na vida. Aos poucos, vamos percebendo algo que não condiz com o que ouvimos ou algum caminho que percorremos e não deve ser retomado. Somos seres de escolhas, e Deus nos ilumina para fazermos o melhor.

O texto de Josué conclama o povo de Israel para servir o Senhor. Jesus questiona seus seguidores sobre se querem continuar ou desistir do caminho, pois alguns achavam aqueles ensinamentos duros e difíceis. A carta aos Efésios apresenta o amor de Cristo como opção para as relações humanas. Assim, os textos desta liturgia nos propõem uma reflexão a respeito das opções que fazemos na vida.

Todos nós, servidores da comunidade, tema vocacional deste domingo, podemos ouvir o apelo de Deus em nosso interior. Quais escolhas devemos fazer para melhor servir o Senhor?

II.            COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

 

1.    I leitura (Js 24,1-2a.15-17.18b)

 

O livro de Josué é pouco lido e conhecido por muitos de nós. Ele narra um momento importante da história do povo de Israel: a chegada à Terra Prometida por Deus e a conquista desse espaço. Josué é o sucessor de Moisés e o personagem de destaque do livro.

O trecho da primeira leitura se situa na parte final do enredo, quando o autor da obra elabora uma “despedida” de Josué em forma de discurso. A cena se apresenta como uma assembleia entre os israelitas em Siquém, cidade-santuário das 12 tribos, antes de celebrarem a renovação da aliança com Deus.

Os primeiros versículos (v. 1-2) localizam o leitor no evento. Era uma reunião de todas as tribos, juntamente com os anciãos, chefes, juízes e demais líderes. A liderança de Josué parecia soberana como a de Moisés, seu antecessor, porque ele falava em nome de Deus a todas essas pessoas reunidas. A Palavra de Deus era proclamada a fim de que o povo continuasse no propósito da aliança com o Senhor.

Um dos pecados mais graves do povo era a idolatria, a troca da fé no Deus único de Israel pelos deuses fabricados dos povos vizinhos. Então, Josué propõe uma escolha, perguntando a quem querem servir: aos deuses a quem os antepassados serviram ou ao Senhor Deus. Ele demonstra nitidamente sua opção fundamental: “eu e minha casa serviremos o Senhor” (v. 15).

Movido pelo exemplo de Josué, o povo reage consentaneamente, aderindo à fé em Deus. A resposta do povo recorda os feitos divinos na sua história. Deus livrou os pais da escravidão do Egito, realizou sinais maravilhosos diante das pessoas e guardou o povo com carinho e proteção. A memória de Israel confirma a fidelidade divina. Por conseguinte, o povo adere a Deus e se dispõe a servi-lo.

A todo tempo, somos colocados diante de escolhas na vida. Josué não teme optar pelo serviço a Deus. O povo segue seu exemplo e adere à mesma escolha. Nós, que lemos e ouvimos, somos questionados sobre nossas escolhas e a quem servimos em nossa vida. Renovemos nossa escolha pelo Senhor Deus.

2.    II leitura (Ef 5,21-32)

 

Acompanhamos, nesta liturgia dominical, o último trecho da leitura contínua que fazemos da carta aos Efésios. O tema da perícope são as novas relações em Cristo, principalmente as relações familiares.

O autor se dirige, primeiramente, aos que temem a Cristo (v. 21). Eles devem se submeter uns aos outros. Essa “submissão” pode ser entendida como disposição para servir, e o serviço deve ser a identidade cristã, conforme ensinou Jesus (Mc 8,35). O pressuposto conhecido é a família antiga patriarcal, da qual o homem era o provedor responsável.

Segue-se uma comparação do amor de Cristo pela Igreja com o amor dos esposos. Assim, podemos entender em que sentido as mulheres devem ser submissas aos maridos (v. 22). Não é legitimação do machismo, mas uma comparação com a Igreja, comunidade de fé, que se empenha em servir a Cristo por amor. De igual modo, os maridos devem amar as esposas e se entregar por elas, a exemplo da entrega de amor de Cristo (v. 25). O paralelo que o autor faz é entre Cristo-marido e Igreja-esposa. A relação conjugal se assemelha à ligação de Cristo com a Igreja, uma esclarece a outra.

O amor de Cristo se demonstra em doação de vida, realizada em seu ato salvífico. A terminologia é influenciada pelo ambiente litúrgico e cultual, reminiscências das práticas rituais para o batismo: a purificação com a água, a escuta da Palavra e a apresentação sem mancha e santa (v. 26-27).

Da mesma forma, os maridos devem amar as esposas como a si próprios. Na Antiguidade, as mulheres eram produtos que os homens adquiriam para constituir uma família. As Escrituras propõem nova perspectiva, mais humanizada: a mulher possui a mesma dignidade e deve ser vista como parte do marido, como seu corpo e sua carne (v. 28-29). Percebemos uma interpretação do episódio da criação da mulher em Gn 2,21-24, por isso a citação direta de Gn 2,24 em Ef 5,31.

Eis o grande mistério! O amor de Cristo pela sua Igreja se reflete no amor dos esposos. Com isso, caracteriza-se uma relação de doação e acolhida de um pelo outro. Ambos são chamados ao serviço, mais do que ao domínio. Devem preferir a entrega de vida ao fechamento egoísta.

A opção por amar realiza e gera felicidade. Se, na primeira leitura, era uma escolha por Deus em detrimento dos ídolos, aqui é uma escolha de amor e doação como Cristo fez. Nossas escolhas de vida podem refletir esse mistério de amor.

3.    Evangelho (Jo 6,60-69)

 

Neste domingo também acompanhamos a última parte do discurso do “pão da vida” no Evangelho de João. Os efeitos do que Jesus ensinou refletem em seus ouvintes, principalmente nos discípulos.

Algumas pessoas do público de Jesus acharam suas palavras difíceis demais para serem aceitas. Era uma novidade exigente! Então, Jesus percebe interiormente que eles estão resmungando, como em Jo 6,41, por ter-lhes ensinado a respeito do pão que desce do céu. Mais assustados ficarão quando virem o Filho do Homem subir para onde estava antes, para sua origem em Deus. Como em outros momentos no discurso, os interlocutores não compreendem o que Jesus fala.

O Espírito é quem vivifica e conduz à compreensão das palavras de Jesus (v. 63). No entanto, eles ainda eram carnais, fechados em si mesmos (Jo 3,6-8), precisavam de conversão para assimilar o mistério apresentado por Jesus. As “duras” palavras de Jesus são inspiradas pelo Espírito (sopro divino) e geram vida, porém a carne (os critérios humanos) não serve para interpretar o sinal dos pães e o apelo à conversão embutido nele.

Jesus pensava além da realidade e sabia que nem todos aqueles que se diziam discípulos realmente acreditavam, o caso extremo foi o de Judas. Então, seus discípulos eram conduzidos a fazer uma escolha fundamental: aderir e converter-se ou recusar e continuar da mesma maneira. Por consequência, entre os que se diziam discípulos, muitos viraram as costas a Jesus e seguiram outro rumo (v. 66).

Jesus não se frustra com a desistência de alguns. Ele não precisa de multidão nem de fã-clube. Por conseguinte, corajosamente, dirige-se aos discípulos mais próximos: “Vós também quereis ir embora?” (v. 67). Pedro, porta-voz do grupo como em Mc 8,29, responde, renovando a fé: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (v. 69). A fé é demonstrada e renovada. A escolha de Pedro e dos discípulos é continuar no seguimento de Jesus.

As palavras de Jesus, que instigavam e incomodavam quem as ouvia, agem de igual modo, no nosso tempo. O Evangelho demonstra essa força que interpela e à qual nem todos correspondem. O incômodo é para que escolhamos e descubramos a vida eterna, renovando a cada dia a fé naquele que é o “Santo de Deus”.

III.           PISTAS PARA REFLEXÃO

 

Encontramo-nos sempre diante de escolhas na vida. Seja em coisas simples, como escolher uma roupa, uma refeição ou um lugar para ir, seja em questões mais complexas, como escolher um estado de vida, uma profissão ou tomar uma decisão que compromete a vida de muitos. Qualquer que seja a circunstância, cabe-nos ponderar, refletir e optar pelo melhor.

Josué propõe a fé em Deus em oposição à busca dos deuses dos outros povos. Efésios apresenta o amor de Cristo pela Igreja como modelo de amor entre os esposos e para outras relações humanas. O Evangelho convida os seguidores de Jesus a um discernimento: seguir as palavras duras do Mestre ou abandonar sua proposta. Hoje somos confrontados. Que escolhas precisamos fazer na vida?

Às vezes, precisamos deixar algumas coisas, alguns costumes, algumas atitudes. Outras, precisamos buscar algo, agir em determinada direção ou mudar o rumo da vida. A liturgia aponta como critério a vontade do Senhor, seu amor, suas palavras de vida eterna. Quando encontramos essa beleza, podemos ir adiante.

Marcus Mareano

 

é bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Bacharel e mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje). Doutor em Teologia Bíblica, com dupla diplomação, pela Faje e pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica (KU Leuven). Professor adjunto de Teologia na PUC-MG, também colabora com disciplinas isoladas em diferentes seminários. Desde 2018, é administrador paroquial da Paróquia São João Bosco, em Belo Horizonte-MG. E-mail: marcusmareano@gmail.com

 

https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/21o-domingo-do-tempo-comum-22-de-agosto/

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