VII- REFLEXÃO DOMINICAL III
"O PÃO QUE DÁ A VIDA!"
Coisa bonita é quando uma pessoa, que todos julgam importante,
se apresenta de maneira simples, sem querer um tratamento especial, que a sua
posição ou o cargo lhe conferem.
Certa ocasião, em um encontro em Aparecida, no momento da Santa
Missa, os diáconos permanentes adentraram a sacristia da Basílica em horário
adiantado, para não causarem transtorno aos demais celebrantes, mas quando
começaram a paramentar-se, um funcionário do Santuário informou que o local dos
Diáconos estava reservado no sub-solo, de onde entrariam por outro corredor
para não atrasar a celebração que seria televisionada, foi quando chegou D.
Diógenes, nosso acompanhante do Regional Sul 1, e que iria presidir a
Eucaristia, e estranhando não ver os Diáconos se paramentando, foi informado
que os mesmos estavam no sub-solo; então pegou seus paramentos e desceu para
lá, para descontentamento do cerimoniário que era rigoroso na disciplina com a
equipe celebrativa.
O resultado de tal gesto foi que os diáconos acabaram subindo,
enquanto ele explicava a um redentorista “Eu também sou um Diácono de Cristo,
estou com eles nesse encontro e os quero perto de mim durante a celebração”
Não vai aqui nenhuma crítica à organização e à disciplina, que
deve de fato existir nos grandes eventos litúrgicos de uma Diocese, apenas
pretendo realçar a postura humilde do nosso Bispo acompanhante, fazendo com que
nos sentíssemos um bando de meninos “paparicados” pelo “paizão”.
Jesus gozava de grande estima entre alguns judeus, que viam nele
um poderoso profeta, por causa dos seus milagres e prodígios, sempre feitos no
Poder de Deus, como os grandes profetas que o povo venerava, mesmo depois de
mortos. Mas no momento em que ele afirmou ser o pão vivo descido do céu, a
encrenca começou, pois era uma afronta ao Deus Todo Poderoso, que fizera
aliança com os seus pais, Aquele que através dos patriarcas conduziu o povo,
falou com Moisés, colocando-o como libertador de Israel, derrotou os Faraós do
Egito, abriu as águas do mar vermelho, enfim, era inaceitável que esse Deus
Grandioso, altíssimo e Santo, estivesse em Jesus de Nazaré, pessoa simples do
lugarejo, cuja procedência todos conhecia.
A verdade é que, um Deus na forma humana, era até causa de
acusação e condenação á morte, porque ultrajava a todo Israel.
A história daquele povo, e a história da nossa vida, convergem
para Jesus, Nele Deus nos atrai, provoca em nós um encanto que nos leva ao
desejo de nunca mais nos separar dele, possibilitando a realização da profecia
“Todos serão discípulos de Deus”, obviamente tornando-se discípulos de Cristo,
quem segue a Jesus, segue ao Pai, quem ouve a Jesus, ouve ao Pai, eles estão em
uma comunhão plena, na qual somos inseridos, não por nossos méritos, mas
unicamente pela graça.
Os Judeus não acreditavam que o Deus misterioso escondido nos
“Sete Véus” do Santo dos Santos, aquele diante do qual Moisés teve de cobrir o
rosto, se tornasse assim de repente, alguém comum, que anda com o homem, como
no paraíso, fala com ele e torna-se parceiro. Os que se fazem deuses neste
mundo, na política, na economia e até mesmo no ambiente religioso, exigem
submissão, obediência, adoração e honrarias, ficam sentados nos tronos da
imponência, da prepotência, a espera que seus súditos venham lhes beijar os
pés.
Divino e humano não podem estar no mesmo espaço, na mesma sala,
na mesma mesa, em um mesmo nível. Imagine que o enviado de Deus ia baixar justo
na Judéia, na Vilazinha de Nazaré... Como Filho de um carpinteiro, impossível!
Entretanto, o Deus portador da Vida, realizador de todas as esperanças do povo,
o Libertador por excelência, que tornava eminente o messianismo, estava de fato
em Jesus de Nazaré, ele se apresenta como a única alternativa para se chegar ao
Pai, como o único que viu o Pai e veio dele, o único que dá aos homens muito
mais do que o alimento material, o alimento espiritual que os conduzirá á
plenitude da realização humana, e tudo isso requer apenas um ato que é em sua
pessoa, aceitar que nele Deus nos estende a mão, caminha conosco, sacia nossa
fome, supri todas as nossas necessidades e nos dá a Vida Eterna.
O segundo passo é um pouco mais complicado para a compreensão
dos Judeus e também para nós, temos que nos alimentar do seu corpo, do Pão que
veio do céu, permitindo assim essa convivência pacífica do divino e humano em
nossa vida, acolher a sua carne e sermos uma extensão do seu Ser Divino e
Humano, deixando que o seu Espírito comande todas as nossas ações, sem que nos
transformemos em super-homens, mas continuando a ser pobres mortais simples e pequenos,
porém revestidos da grandeza do Divino, caminhando com ele para uma Vida que é
Eterna, e que ultrapassa a qualquer realização humana nesse mundo.
Se não aceitarmos essa Verdade em nosso coração, nunca iremos
ver esse novo horizonte descortinado por Jesus de Nazaré, e iremos sucumbir
diante da espera inútil, por algo em que não cremos. Que o Senhor sacie nossa
fome de Vida Eterna. Amém! (19º. Domingo do Tempo Comum João 6, 41-51)
José da Cruz é Diácono
da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0288.htm#msg01
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