III-
Liturgia do 15.º
Domingo do Tempo Comum– Ano B
- Domingo passado começamos a meditar sobre a
vocação dos filhos de Deus, partindo da vocação profética, e da nossa missão
profética dentro da Igreja. Hoje continuamos refletindo sobre o tema vocacional
- A primeira leitura narra a vocação de
Amós. No Batismo, recebemos o dom e o convite para sermos colaboradores de
Cristo. Assim como para Amós, Deus também deixou para nós a liberdade de
resposta. Alguns entre os chamados acolhem corajosamente o dom de Deus. Outros,
preferem a tranquilidade do seu pequeno mundo e passam a vida ignorando os apelos
de Deus. Entre estes, certamente encontramos muitos de nós. Sabendo disto, a
Igreja hoje nos coloca diante do exemplo do profeta, homem humilde e sem
grandes recursos para a missão, mas que confiava totalmente no poder daquele
que estava lhe chamando. Exatamente como o profeta, todos nós podemos responder
sem temor ao chamado de Deus, independente de nossas qualidades e limitações.
Desde que acolhamos o chamado e nos coloquemos a serviço de Deus, Ele nos
assistirá, nos dará forças, inteligência, sabedoria, prudência e discernimento
para realizarmos tudo quanto Ele nos pede.
- São
Paulo também nos apresenta uma reflexão sobre o chamado na segunda leitura.
A vocação primordial, o chamado de Deus dirigido a todos nós, é aquela para a
santidade, mas os caminhos que conduzem a esta meta são diversos, segundo o
plano de Deus. Cada um de nós é chamado para um serviço específico, de acordo
com os dons recebidos. Para cada um de nós, Deus mostra um caminho a seguir.
Para alcançar a meta, não importam nem o tamanho ou grandeza do dom recebido. A
única coisa que realmente importa é a fidelidade com a qual respondemos ao
chamado e a humildade com a qual servimos o Senhor.
- O Evangelho mostra Jesus enviando os seus
apóstolos em missão. Jesus os chamou e os enviou dois a dois, conferindo-lhes
os seus poderes para que fossem verdadeiros continuadores da sua obra. É
provável que o envio "dois a dois" tenha a ver com o costume judaico
de viajar acompanhado, para ter ajuda e apoio em caso de necessidade; pode
também pensar-se que esta exigência de partir em missão "dois a dois"
tenha a ver com as exigências da Lei judaica, de acordo com a qual eram
necessárias duas testemunhas para dar credibilidade a qualquer anúncio. Em
qualquer caso, a exigência de partir em missão "dois a dois" sugere
também que a evangelização tem sempre uma dimensão comunitária. Quem anuncia o
Evangelho, anuncia-o em nome da comunidade; e o seu anúncio deve estar em
sintonia com a fé da comunidade. Em seguida, se define a missão que Jesus lhes
confiou: "deu-lhes poder sobre os espíritos impuros". Os espíritos
impuros representam tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de chegar
à vida em plenitude. A missão dos discípulos é, pois, lutar contra tudo aquilo
que destrói a vida e a felicidade do homem. Depois vêm as instruções para a
missão. Na perspectiva de Jesus, os discípulos devem partir para a missão, num
despojamento total de todos os bens e seguranças humanas. Podem levar um
cajado, mas não devem levar nem pão, nem sacola, nem dinheiro, nem duas
túnicas. Os discípulos devem ser totalmente livres e não estar amarrados a bens
materiais; caso contrário, a preocupação com os bens materiais pode roubar-lhes
a liberdade e a disponibilidade para a missão. Por outro lado, essa atitude de
pobreza e de despojamento ajudará também os discípulos a perceber que a
eficácia da missão não depende da abundância dos bens materiais, mas sim da
ação de Deus. Finalmente, a sobriedade e o desapego são sinais de que o
discípulo confia em Deus e contribuem para dar credibilidade ao testemunho.
Outra coisa refere-se ao comportamento dos discípulos diante da hospitalidade
que lhes for oferecida. Quando forem acolhidos numa casa, devem aí permanecer
algum tempo (seguramente para formar uma comunidade) e não devem ir de um lugar
para o outro, ao sabor das amizades, dos interesses próprios ou alheios ou das
suas próprias conveniências pessoais. Quando não forem recebidos num lugar,
devem "sacudir a poeira dos pés" ao abandonar esse lugar: trata-se de
um gesto que os judeus praticavam quando regressavam do território pagão e que
simboliza a renúncia à impureza. Aqui, deve significar o repúdio pelo
fechamento às propostas libertadoras de Deus. Finalmente, o evangelho descreve
a realização da missão dos discípulos: pregavam a conversão, expulsavam
demônios, curavam os doentes. Trata-se de continuar a missão de Jesus: libertar
o ser humano de tudo aquilo que o oprime e lhe rouba a vida, para fazer
aparecer um mundo de pessoas livres e salvas. O anúncio que é confiado aos
discípulos é o anúncio que Jesus fazia; os gestos que os discípulos são
convidados a fazer para anunciar o "Reino" são os mesmos que Jesus
fez. Ao apresentar a missão dos discípulos em paralelo e em absoluta
continuidade com a missão de Jesus, o evangelho convida a Igreja (os
discípulos) a continuar na história a obra libertadora que Jesus começou em
favor da humanidade.
https://diocesedesaomateus.org.br/wpcontent/uploads/2024/06/14_07_24.pdf
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