XI- CATEQUESE
REFLEXÕES SOBRE A CATEQUESE
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
(RJ)
O
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, em 25 de junho de
2020, tornou público o novo Diretório para a Catequese. Na apresentação, o
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, o
Arcebispo Dom Rino (Salvatore) Fisichella, assim se manifestou: “Na era
digital, vinte anos podem ser comparados, sem exageros, a pelo menos meio
século”.
Considerar
o que está surgindo: O documento nasceu da necessidade de levar em consideração
“com grande realismo o novo que está surgindo, com a tentativa de propor uma
leitura que envolvesse a catequese”. É por essa razão que o Diretório apresenta
“não apenas os problemas inerentes à cultura digital, mas também sugere
caminhos a serem tomados para que a catequese se torne uma proposta que
encontre o interlocutor capaz de compreendê-la e ver sua adequação com seu
próprio mundo”.
Recordar
os Sínodos: “Viver cada vez mais a dimensão sinodal faz com que não esqueçamos
os últimos Sínodos que a Igreja viveu”, explicou Fisichella. O presidente do
Dicastério mencionou em particular o Sínodo sobre a Nova Evangelização e
transmissão da fé de 2012, com a consequente Exortação Apostólica do Papa
Francisco Evangelii gaudium, e o 25º aniversário da publicação do Catecismo da
Igreja Católica, que diz respeito diretamente a competência do Pontifício
Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
Conversão
pastoral: “A evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no
ensinamento diário do Papa Francisco”, observou o prelado: “Portanto, a
catequese deve estar intimamente ligada à obra de evangelização e não pode ser
separada dela. Ela precisa assumir em si mesma as próprias características da
evangelização, sem cair na tentação de se tornar um substitutivo para ela ou de
querer impor-lhe suas próprias premissas pedagógicas”. A partir disso podemos
ver o primado do “primeiro anúncio” e o vínculo entre a evangelização e o
catecumenato, “como experiência do perdão oferecido e da nova vida de comunhão
com Deus”. De conformidade com D. Fisichella, “é urgente realizar uma
‘conversão pastoral’ a fim de liberar a catequese de certos laços que a impedem
de ser eficaz”. O primeiro ponto pode ser identificado no esquema escolar,
segundo o qual a catequese de Iniciação Cristã é vivida no paradigma da escola.
O segundo é a mentalidade com a qual a catequese é feita a fim de receber um
Sacramento. Um terceiro é a instrumentalização do Sacramento por causa da
pastoral, desse modo os tempos do Sacramento da Confirmação são estabelecidos
pela estratégia pastoral para não perder o pequeno rebanho de jovens que não
abandonou a paróquia e não pelo significado que o Sacramento possui em si mesmo
na economia da vida cristã”.
A
catequese e a ação evangelizadora sempre estiveram no cerne da missão da
Igreja, todo batizado é chamado a ser discípulo missionário de Jesus Cristo e
anunciar a boa nova do Evangelho a todas as pessoas que a queiram ouvir. O
querigma que é o anúncio de Jesus Cristo, é apresentá-lo para aquele que será
batizado.
Por
isso, o caminho catecumenal tem três fases, aquela que nos prepara para o
Batismo, que na maioria das vezes são os pais e padrinhos que participam. A
catequese da primeira Eucaristia, em que é apresentada a Missão e vida pública
de Jesus e Catequese da Crisma, que apresenta as verdades de fé da Igreja e os
demais Sacramentos instituídos por Jesus.
No
caminho catecumenal é transmitido, sobretudo, as bases da fé, desde a criação
do mundo por Deus até a revelação de seu Filho Jesus Cristo. É transmitido o
desígnio providencial de Deus, que escolheu assumir a forma humana para nos
transmitir o seu amor. Deus ao se revelar quis se manifestar pessoalmente aos
homens. Foi um ato da bondade de Deus se revelar aos homens e dessa maneira deu
a possibilidade dos homens participarem da sua natureza.
A
catequese deve ser mistagógica, ou seja, adentrar nos mistérios de Cristo e da
Igreja e de tudo que os envolve. Aprofundar os Sacramentos em sua essência e
observar juntos que os Sacramentos são um sinal de amor deixado por Deus para
nós. Explanar sobretudo na catequese batismal que os Sacramentos sobretudo o
batismo são a porta de entrada dos Sacramentos (ianua Sacramentorum) da entrada
na Igreja e um sinal de reconciliação e aliança com Deus.
A
transmissão da revelação se dá por meio do Espírito Santo, foi por meio dele
que Deus revelou o seu Filho Jesus e é por meio do mesmo Espírito Santo que
Igreja revela a “verdade” da revelação transmitida por Jesus. Essa revelação
começou com Deus revelando o seu Filho Jesus, que ao mesmo tempo revela, no
Espírito Santo, o amor do Pai, passou pelos Apóstolos e segue até os dias de
hoje, graças a ação do mesmo Espírito. Por isso o Evangelho continua vivo e
atuante e conseguimos por em prática aquilo que nele está escrito.
A
evangelização deve fazer parte da nossa vida enquanto cristãos, devemos levar
adiante as palavras do Evangelho, praticá-las no dia a dia. Assim como Jesus
enviou os Apóstolos dizendo: “Ide por todo mundo e a todos pregai o Evangelho”,
ele nos diz isso hoje também, a todos batizados e batizadas, não deixar o
Evangelho morrer, mas atrair novos fiéis para a Igreja por meio da Palavra e da
experiencia de vida. Manter viva a tradição evangélica e os ensinamentos de
Jesus.
Que
os nossos catequizandos possam ser os futuros catequistas e anunciadores do
Evangelho, que eles levem adiante a missão dada por Jesus. Seremos “felizes” a
cada vez que o Senhor nos der a alegria de perceber a sua ação no coração que
se converte. Ir atrás sempre da “ovelha perdida” e ficarmos felizes ao cuidar
das suas feridas e fazendo com que ela novamente faça parte do rebanho. O
processo de conversão é permanente, sempre a cada dia devemos pedir a Deus que
nos dê o dom da fé, de sempre acreditar em sua Palavra. A adesão a Jesus Cristo
deve se consolidar a cada dia.
A
catequese está no cerne da missão evangelizadora da Igreja, por meio dela é que
a Igreja faz o primeiro anúncio aos catecúmenos que receberão o batismo e na
Igreja a catequese permanece durante toda a vida de fé da pessoa, partindo do
batismo até a vida adulta. Uma catequese bem-feita permanece enraizada na
pessoa até a sua vida adulta e ela transmite isso as demais pessoas de sua
família de sua comunidade, do seu trabalho.
A
catequese é um elemento fundamental da iniciação cristã, ela está estritamente
ligada ao Sacramento do Batismo, que é o Sacramento da fé e por meio dele o
cristão expressa a sua fé pela primeira vez publicamente, sendo inserido na
Igreja. O Sacramento do Batismo é a porta de entrada nos Sacramentos e na
Igreja. A catequese está presente desde o Batismo até a vida adulta de cada
fiel. E cabe àquele que recebeu o primeiro anúncio levar aquilo que ele recebeu
adiante, não guardar jamais para si mesmo. Aquele que recebeu a formação
catequética pode vir a ser no futuro um catequista e evangelizar novas pessoas
para que a catequese seja um processo contínuo de recepção e de entrega.
A
catequese tem a finalidade de nos colocar em comunhão com Jesus Cristo, pois
nos colocamos na intimidade com ele, conhecendo com mais afinco o mistério
escondido, seus ensinamentos, palavras e ações e a comunhão de intimidade que
ele mantém com o Pai. A finalidade por excelência da catequese é professar a Fé
na Santíssima Trindade que é o Pai, Filho e o Espírito Santo. O processo
catecumenal só será completo quando eu professar a Fé em Jesus Cristo e por
meio da minha fé nele, fruto de um encontro pessoal com a sua Pessoa, professar
a fé no Pai e no Espírito Santo.
A
catequese nos ensina a participar da vida comunitária junto com os demais
membros da comunidade, formando assim uma comunidade de fé. Aqueles que já são
batizados acolhem aqueles novos membros que chegam. Por isso no Sábado Santo,
na celebração da Vigília Pascal são sempre acolhidos novos fiéis que após um
caminho catecumenal recebem os Sacramentos do Batismo, da Crisma e da
Eucaristia, e são convidados a fazer parte daquela comunidade de fé. A
comunidade paroquial é uma comunhão de fiéis, que juntos professam a mesma fé
em Deus.
A
Palavra de Deus deve estar no cerne da catequese em todas as suas etapas, pois
a Palavra de Deus tem um lugar primordial na vida da Igreja. É uma tradição
oral que recebemos através dos profetas, de Jesus e dos apóstolos e que depois
por meio do Magistério da Igreja a temos escrita.
Portanto,
a transmissão do Evangelho que se dá por meio da catequese é um anúncio de
salvação. A palavra que salva e que da vida e que transforma a pessoa. Muitas
vezes a pessoa se encontrava perdida e desamparada e sem acreditar na salvação,
mas o anúncio evangélico que fazemos a essa pessoa por meio da catequese pode
indubitavelmente salvá-la. O anúncio da Palavra de Deus é para todos e aqueles
que a ouvem e acreditam que por meio dela podem alcançar a salvação.
Por
isso faz parte da vida do catequista ser um “anunciador da Palavra” propagando
a transmissão do Evangelho da vida em cada canto que essa palavra for
anunciada, fazendo com que ela chegue a mais pessoas, cooperam para que
“salvação” dada por Deus por meio da Palavra chegue a mais pessoas.
Cabe
aos pastores da Igreja serem os transmissores da Palavra de Deus por
excelência, são os sucessores dos Apóstolos e os sacerdotes a frente de suas
paróquias são os catequistas por excelência. Aos diáconos que têm o ministério
da Palavra, são instruídos a levar essa “Palavra da Salvação” aos doentes e
marginalizados. Essa é a missão da Igreja desde a sua origem, levar adiante a
Palavra de Deus a todos os cantos e fazer com que o nome de Jesus seja
conhecido por todos.
Portanto,
muita coragem e empenho a todos os catequistas e aqueles que trabalham com a
Palavra de Deus, para que esta Palavra tenha o poder de chegar a mais pessoas.
E que a catequese seja sempre o cerne da ação evangelizadora da Igreja, desde o
batismo até a vida adulta das pessoas.
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