iii-Liturgia do 17.º
Domingo do Tempo Comum– Ano B
- Na primeira leitura, o milagre de Eliseu é
uma prefiguração do sinal realizado por Jesus: a multiplicação dos pães. Esse
sinal aponta para uma realidade maior, a Eucaristia. Nutridos por um só pão, o
Corpo do Senhor, formamos um só corpo místico de Cristo. Essa realidade é o
fundamento da comunhão e da prática cristã mencionada aos Efésios, quando Paulo
exorta os fiéis a "conservar a unidade do espírito no vínculo da
paz". Essa comunhão é ação de Deus em nós e se traduz em serviço que
ultrapassa as fronteiras da Igreja como instituição. Estamos a serviço da
construção do mundo fraterno, não importa quão pequenos sejamos ou com quão
pouco tenhamos a contribuir.
- No Evangelho,
Jesus realiza o sinal do pão, muito significativo para a compreensão de sua
identidade e missão. O ambiente em que a cena se desenrola é importante para a
compreensão da importância e do alcance da mensagem veiculada por esse sinal. A
Páscoa estava próxima, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Estes três elementos
mostram Jesus como o Mestre. A montanha é o lugar da revelação divina, onde
Moisés recebeu a Lei, a instrução para o povo. O sentar-se é atitude própria do
mestre quando vai ensinar seus discípulos. A menção à Páscoa indica o
ensinamento novo de Jesus por meio do sinal do pão.
- Jesus
instrui os discípulos sobre como resolver o problema de alimentar a multidão.
Primeiramente, o que Jesus ressalta é o reconhecimento do que é ofertado: é
pouco, mas há docilidade para a oferta. O ofertante é anônimo, o que pressupõe
que qualquer pessoa pode ofertar algo a Deus e, assim, mediar a ação de Deus em
prol da salvação do mundo. O sinal apresentado é a Eucaristia, retratada nas
palavras da tradição: "tomou os pães e, depois de ter dado graças, os
distribuiu".
- A
distribuição do pão feita pelos discípulos significa que eles devem difundir o
que receberam do Senhor: o Batismo, representado pelo "peixe", e a
Eucaristia, "os pães". Essas realidades sacramentais são a fonte da
pertença à comunidade e da vida cristã. Após se fartarem, os discípulos
juntaram 12 cestos, o suficiente para alimentar todo o Israel, a quem deveria
ser primeiramente anunciado o Evangelho. E nada poderia se perder, ou seja, a
vontade de Deus é que ninguém se perca.
- Ainda hoje
se faz necessário entender esse sinal para compreender a vida e missão de
Jesus, que condensou a sua vida no sinal do pão. Como o trigo é triturado para
fazer o pão, Jesus é o trigo triturado que gera vida plena. Sua oferta de vida,
sua entrega plena na cruz, é sinal do amor de Deus pela humanidade. Por isso,
Batismo e Eucaristia são oferecidos a todos como caminho para a salvação. Por
eles, somos inseridos no mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus. Somos
feitos participantes dessa entrega por amor que gera vida plena. Jesus triturou
sua vida, ofertando-a no pão. Somos chamados, pela participação na Eucaristia,
a fazer o mesmo: ofertar nossa vida para que ninguém se perca, mas que todos
ressuscitem no último dia.
- Na primeira leitura vimos que os pães que
o homem trouxe para Eliseu eram uma oferenda a Deus a ser entregue pelas mãos
do profeta. Eram pães feitos com as primícias, isto é, com os primeiros e
melhores grãos da colheita. O profeta ordena que o ofertante distribua os pães.
O homem reconhece que tem tão pouco para ofertar e há tanta gente para
alimentar. O profeta reitera a ordem assegurando que Deus fará com que todos
sejam saciados e ainda sobrará. A palavra dita pelo profeta foi cumprida quando
o ofertante mudou o foco dos próprios pensamentos: deixou de centralizar-se na
consideração do pouco que tinha e passou a confiar na ação de Deus. Os sábios
de Israel viram nessa passagem bíblica não apenas a providência de Deus, mas a
importância da participação humana na obra conjunta com Ele. A partilha é a
efetivação da vocação humana à comunhão fraterna. Todo gesto de partilha não
passará sem uma resposta de Deus.
- No capítulo 4 da carta aos Efésios
encontramos a exortação sobre a vida cristã na prática. Os cristãos devem levar
uma vida digna da vocação que receberam: serem outro Cristo. "Suportai-vos
uns aos outros no amor" significa que o amor ao próximo deve ser vivido
para que ninguém venha a cair. "Pelo vínculo da paz" quer dizer que o
Shalom é o elo no mesmo ideal, pois formamos um só corpo. O egoísmo sequestra a
dignidade da vocação à comunhão, que se efetiva em gestos concretos no dia a
dia.
- Aquele que
faz autêntica experiência com Deus torna-se mais preocupado com o ser humano e
mais dócil à ação divina. Quem tem verdadeiro encontro com Ele põe-se a seu
serviço em favor do próximo. A mesquinharia, o egoísmo e o indiferentismo são
sinais de que a pessoa está longe de ser religiosa, ou seja, de estar ligada a
Deus. Aproximar-se da Mesa Eucarística com um coração indiferente às
necessidades alheias é uma ofensa à misericórdia de Deus
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