IX-REFLEXÃO
DOMINICAL III:
"BEM
AVENTURADOS OS POBRES"
Há sempre quem veja a predileção de Deus pelos pobres, neste
evangelho, apenas como uma forma de consolo aos pobres que sofrem neste
mundo.Uma espécie de slogan “Sofra agora e goze depois”. Esse pensamento
reforça o sistema explorador e opressor e ao mesmo tempo acalma e acomoda o
pobre, tirando dele a vontade de lutar pelos seus direitos. Não é preciso lutar
para mudar a situação pois é Deus que quer assim.
Embora neste evangelho Lucas fale literalmente da pobreza e
riqueza material, é preciso prestar atenção em um detalhe: Jesus proclama as
Bem Aventuranças olhando para os seus discípulos, que naquele momento era um
grupo numeroso em meio à multidão. O evangelho não compactua com a pobreza,
conseqüência da ganância e egoísmo do homem, a Igreja de Jesus Cristo terá
sempre de ter uma palavra de ajuda e de esperança a favor da massa empobrecida,
principalmente dos países da América Latina, onde de maneira vergonhosa e
pecaminosa ainda temos uma massa de miseráveis ao lado de grandes conglomerados
econômicos e latifundiários, que com seu poder coloca os governantes e
legisladores a seu serviço.
No evangelho de Lucas o sermão das Bem aventuranças é situado em
uma planície, após Jesus e seus discípulos terem descido da montanha
assinalando assim, que Deus vem ao encontro do homem, como resposta ao seu
sofrimento, como proposta de uma vida nova em uma sociedade onde não haja mais
divisões entre classes sociais. Mas quem dará atenção e acolhimento a este
projeto?
A primeira leitura responde que o homem tem duas alternativas:
poderá ser feliz e bendito se souber fazer a escolha certa para viver bem esta
vida, confiando no Senhor e no plano de Salvação, ou então será maldito se
confiar em outro homem, não na pessoa, mas nos projetos humanos que sempre são
falhos, porque atribuem um valor absoluto a coisas que passam e que são
transitórias. O Diretor proprietário de um grande império econômico que a vida
inteira acumulou sua fortuna de maneira egoísta, nunca se importando com o
projeto de Deus e muito menos com as pessoas, na hora derradeira de sua vida
mergulhará em uma crise profunda, extremamente dolorosa porque irá constatar
aterrorizado que fez a escolha errada ao colocar toda sua confiança e esperança
de felicidade nos bens materiais, dos quais não levará consigo um único centavo
para a outra vida.
Não foi Deus que dividiu a humanidade entre ricos e pobres, essa
divisão é conseqüência do pecado, a desgraça que há de cair na vida de um rico
que nunca se importou em conhecer Deus e o seu projeto de Salvação, não é castigo
divino mas apenas conseqüência de sua escolha.
A referência do evangelista é sempre o Reino de Deus onde se
fazer pobre pelo reino não significa ser masoquista, passando fome e toda sorte
de privações pois isso, com toda certeza Deus nunca desejou, como também ele
não faz de suas bênção uma varinha mágica que enriquece e dá prosperidade a
algumas pessoas transformando pobres em ricos e ricos em milionárias, como
tenta ensinar certa corrente religiosa defensora da teologia da prosperidade.
Nada na vida de fé acontece em um passe de mágica pois este não é o método de
Deus.
Portanto, ser bem aventurado e feliz diante do evangelho, não é
apenas uma questão de ter ou não ter muitos bens materiais, mas sim de ter se
tornado discípulo do Senhor, vivendo a vida de acordo com os valores do seu
reino que é a justiça e a paz, conseqüência da igualdade, partilha e
fraternidade. Quem trilha este caminho, sem se desviar para os tentadores
atalhos que o mundo nos coloca, será feliz e bendito porque confiou e colocou
toda sua esperança, não naquilo que o mundo oferece mas sim na vida nova que
vem da graça de Deus, e que se estende para muito além dos limites da nossa
vida biológica.
É para estes benditos e benditas que o evangelho traz a boa
nova, pessoas que não estarão isentas de sofrimentos, privações e até
perseguições, por terem optado pelo evangelho de Cristo, que desafia e põe em
cheque o conceito de felicidade que o mundo nos ensina, porque mostra-nos no
Senhor Ressuscitado, que esta vida terrena é apenas caminho para se chegar na
verdadeira vida, sonhada, desejada e construída ainda nesta nossa peregrinação
por este mundo.
Nossas comunidades cristãs nas quais participamos, já aderiram
com fidelidade a proposta que Deus nos faz em Jesus Cristo, ou pelo contrário,
acabamos trazendo para dentro da comunidade certos valores sedutores que o
mundo nos apresenta? A resposta a essa pergunta nos indicará se pertencemos ou
não ao grupo dos Bem Aventurados...
José da Cruz é Diácono da
Paróquia
Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0302.htm#msg01
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