sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

VII= REFLEXÃO DOMINICAL I- O AUTOCONHECIMENTO À LUZ DA FÉ CRISTÃ

 

VII= REFLEXÃO DOMINICAL I-

O AUTOCONHECIMENTO À LUZ DA FÉ CRISTÃ

 

Com o exemplo dos odres novos, Jesus fala da necessidade de mudar o nosso coração para receber o vinho novo da sua Palavra, da sua Graça, da vida nova de cristãos. Também nos adverte do erro de querer corrigir os outros, sem reconhecer que nós precisamos mudar. Com a comparação do “cisco no olho do outro e a trave no próprio”, Jesus nos previne contra esta manifestação de falta de humildade. Um cisco no olho irrita muito, impede de ver e só pode ser removido com a ajuda de outros. Porém muito mais cegueira e incômodo seria uma palha; isso nos faria parecer ridículos diante dos outros, que apontariam a evidência de nossos próprios defeitos. Essas palavras de Jesus podem servir para refletirmos sobre o tema do conhecimento próprio. Será que eu sei quem eu realmente sou? Será que eu me conheço com realismo? Eu aceito os comentários e as correções que as pessoas que me conhecem me fazem? Precisamos coragem e determinação para chegar ao conhecimento próprio. Em um de seus sermões, o Pe. Antônio Vieira ensinava que, para uma pessoa se conhecer, são necessárias três coisas, tal como para alguém ver o próprio rosto: sãos necessários olhos, luz e espelho. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos. Se tem espelho e olhos e é de noite, não pode ver por falta de luz. Se tem olhos e luz, mas não um espelho, não se pode ver. O espelho, onde refletem-se realmente as nossas ações, são os outros e os fatos. Não devemos descartar os comentários dos nossos pais, irmãos, amigos: atrasos, esquecimentos, desatenções. Assim, nós precisamos aprender das pessoas que convivem conosco: não somos a pessoa mais indicada para resolver as nossas próprias carências e perplexidades, porque temos a tendência à autojustificação, a achar que não somos tão errados como os outros. Aqui entram a confissão e a direção espiritual: vamos à Confissão porque estamos arrependidos dos nossos pecados e devemos reconhecê-los sinceramente. O diretor espiritual conhece as nossas deficiências e aptidões e nos estimula a lutar de maneira concreta para adquirir as virtudes de que necessitamos. Em segundo lugar, os fatos reais: você gritou e esbravejou com a sua irmã e ela foi dormir sem jantar. O fato foi que você de novo se comportou de modo vulgar naquela noite. O fato é que a sua nota de matemática, ou de bioquímica foi baixa. O fato é que o seu quarto está uma bagunça. O fato é que você não escuta as pessoas. Em terceiro lugar, a luz de Deus: quem nos conhece perfeitamente é Deus, porque Ele nos vê por dentro. Quem se aproxima sinceramente de Deus, vai sabendo melhor quem realmente é. Quem procura viver os mandamentos, assumir a sua fé, ser coerente com aquilo em que acredita, vai percebendo melhor os seus erros e sabendo com realismo como é. Manter uma conversa a sós com Deus, refletir nesta oração pessoal e espontânea sobre o modo como Deus vê nossa vida. Descobrir a causa das nossas tristezas e abatimentos. Por último, os olhos, a consciência: aquela voz que sentimos dentro de nós. Não podemos calar a voz da consciência, arranjando justificativas, desculpas, explicações: “Eu não pensei que a pessoa fosse se chatear tanto por uma brincadeirinha... Eu achei que não tinha problema deixar para amanhã...” Como é difícil dizer: “Eu errei... A culpa foi minha... Eu me enganei.”. Precisamos cultivar o hábito diário do exame de consciência. Chegar ao fim do dia e por-nos diante do espelho da consciência: “O que eu fiz de bom hoje?” E buscar os fatos do dia. “O que eu fiz de mau hoje?” E não fugir dos fatos. “O que eu poderia ter feito melhor?” E examinar-se com realismo. Terminamos o exame com um arrependimento sincero: o ato de contrição, além de tomar umas providências práticas para evitar a recaída e se corrigir: são os propósitos de mudança.

 Dom Carlos Lema Garcia Bispo Auxiliar de São Paulo Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade

 

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