HOMILIA I
PENITÊNCIA, ORAÇÃO E AMOR FRATERNO
Com o rito da
imposição das cinzas, iniciamos a Quaresma deste ano. Este “tempo favorável”
nos é dado para que nos preparemos bem para a celebração da Páscoa, mediante as
práticas que a Igreja recomenda especialmente para este tempo: o jejum, a
esmola e a oração. Mediante a prática voluntária do jejum, lembramos que “não
só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. Nossa
vida neste mundo não se reduz a buscar as satisfações para nossos sentidos e os
prazeres da vida. Temos fome e sede de coisas maiores, que Deus nos prepara e
promete. Por isso, a Quaresma nos coloca estes questionamentos: afinal, o que
pretendo para minha vida? Quais são minhas preocupações principais nesta vida?
Busco a Deus, sinceramente? Dou atenção suficiente ao “alimento que dura para a
vida eterna”, que mantém viva minha fé e orientada minha vida para o bem?
Mediante a “esmola”, somos convidados à prática intensa da caridade e das obras
de misericórdia, a superar nosso egocentrismo e a sermos sensíveis às necessidades
do próximo. Amor verdadeiro a Deus vai sempre acompanhado de amor sincero ao
próximo. Nossa tendência é fechar-nos em nós mesmos para cuidar apenas do que é
nosso e dos nossos interesses. Ao nosso redor, há muito sofrimento e
necessidade de todo tipo. Junto com a caridade, deve crescer em nós o senso da
honestidade e da justiça em todas as nossas decisões e ações. A oração é o
terceiro conjunto de práticas da Quaresma. Jesus ensinou que é preciso rezar
sempre e rezar bem: oração com fé, humildade sincera e confiança. O exercício
da oração também é escuta atenta e acolhida da Palavra de Deus e cumprimento
dos nossos deveres de religião. Como está a prática das orações diárias, da
missa dominical, da observância dos mandamentos de Deus? Somos filhos e filhas
de Deus e a vida cristã se expressa na relação filial com Deus, nosso Pai, e
com as demais pessoas, que são nossos irmãos e irmãs. Nesta Quaresma, a
Campanha da Fraternidade traz novamente o tema crucial da fome para nossa
reflexão, conversão e ação quaresmal. Infelizmente, ao nosso redor, muitas
pessoas não têm alimento suficiente e isso é muito grave e não pode nos deixar
indiferentes. A partilha fraterna e a prática pessoal e social da justiça podem
ajudar a diminuir o sofrimento das pessoas que passam fome. Trata-se também de
refletir sobre o desperdício de alimentos e, talvez, mudar algumas práticas que
levam a isso. Desejo a todos que esta Quaresma seja realmente um “tempo de
conversão”, como ouvimos nesta Quarta-Feira de Cinzas: “convertei-vos e crede
no Evangelho”. Conversão significa mudar atitudes e práticas que não estejam de
acordo com o Evangelho e os ensinamentos da fé cristã. Desta forma, poderemos
chegar, com o coração renovado e aberto, às celebrações da Páscoa. Que a
Palavra de Deus nos oriente todos os dias em nosso caminho quaresmal.
Cardeal Odilo P. Scherer Arcebispo de São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-47a-18-4-feira-de-cinzas.pdf
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