REFLEXÃO DOMINICAL I
O
AMOR É MAIS FORTE QUE A LEI
No trecho do Evangelho de hoje
encontramos outra página do Sermão da montanha e percebemos Jesus que nos
ensina a fazer uma releitura da lei mosaica conduzindo-nos à pratica de uma justiça
maior em relação à dos escribas e dos fariseus. Uma justiça que é pautada pelo
amor, pela caridade e pela misericórdia, capaz de realizar substancialmente os
mandamentos, desconsiderando totalmente o mero formalismo. Seguir a lei sempre
foi, para nós, católicos, indispensável para alcançar a salvação. Entretanto, a
lei não é uma imposição ou um peso que tornam nossa vida difícil, mas uma
dádiva da misericórdia de Deus por nós. Para percebermos Jesus que veio dar
cumprimento da lei misericordiosa de Deus, o Evangelho nos propõe que
examinemos três dos dez mandamentos: o homicídio, o adultério e o juramento. Ao
mandamento “não matar”, Jesus nos convida a pensar em outras maneira pelas
quais podemos “matar” alguém: “Todo aquele que se encoleriza com seu irmão será
réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’será condenado pelo tribunal”
(Mt 5,22). Isso significa que este mandamento não diz respeito apenas ao ato
efetivo, mas aos comportamentos que ofendem a dignidade da pessoa humana,
inclusive as pala- vras injuriosas, pois quem insulta o irmão, o mata no
próprio coração. Ao tratar sobre o adultério, Jesus nos propõe a irmos à raiz
deste mal que não se restringe apenas ao ato sexual extraconjungal, mas que se
estende a olhares, intenções e pensamentos: “Todo aquele que olhar para uma
mulher, com desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”
(Mt 5,28). O adultério, como o furto, a corrupção e todos os outros pecados,
são concebidos primeiro no íntimo do coração dos homens; por isso, o convite de
Jesus hoje é, também, o de pensarmos sobre os nossos maus pensamentos e
arrancarmos, ou, “cortarmos o mal pela raiz”. Por fim, Jesus diz aos seus
discípulos para não jurar, afinal o juramento é sinal de insegurança e daquele
que instrumentaliza a autoridade de Deus para dar garantia às suas
vicissitudes. Ao contrário desta realidade de pecado, somos convidados a
instaurar em nós, nas nossas comunidades, a clareza e a confiança recíproca.
Portanto, Jesus que não veio para abolir a lei, mas para dar cumprimento dela,
faz com que O olhemos como a própria lei. Assim, a lei não é apenas feita,
proclamada e cumprida por Jesus, mas a aliança é Jesus de Nazaré, o filho de
Deus; Ele é a síntese de toda a fé do Novo Testamento, pois Nele e com Ele, na
solidariedade do amor libertador que se cumpre a sua lei, a lei do amor. Esta
nova lei, é, essencialmente, uma lei interna, que toca o coração e nele se
escreve (Jr 31,33). É, portanto, uma lei entre amigos, que nos oferece uma
grande liberdade porque queremos segui-la em vez de apenas achar que é nosso
dever obedecê-la. Diante do amor de Cristo, irmãos e irmãs, jamais poderemos
estar em dia e tranquilos, achando que merecemos um prêmio por cumprirmos a
lei. Diante Dele a verdadeira lei, seremos sempre tão pequenos, tão devedores,
tão deficitários ao ponto de sempre nos lembrarmos que sem nos deixarmos guiar
pelo Espírito o amor não será mais forte que a lei. Que Deus venha amar em nós
e nos fazer sentir como Jesus, pensar como Ele, falar como Ele e agir como Ele.
Esta é a Lei e os profetas.
Dom Cicero Alves de França Bispo Auxiliar de
São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-47a-16-6-domingo-do-tempo-comum.pdf
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