REFLEXÃO
DOMINICAL II
A
LEI DE DEUS
- A liturgia deste domingo nos fala
sobre a Lei de Deus. No início do Evangelho de hoje, somos impressionados pela
afirmação de Jesus: "Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não
vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, Eu vos digo:
antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão
tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra" (v. 17,18).
- Enquanto cristãos, deveríamos ficar
inquietos com tais palavras, afinal nós não mais observamos a Lei de Moisés:
não nos deixamos circuncidar, não guardamos o sábado, não somos contrários às
imagens sagradas, não fazemos restrições alimentares, distinguindo entre
alimento puro e impuro. E agora: como lidar com essa palavra tão clara de nosso
Senhor?
- Cristo afirma, por essas palavras,
que não vem abolir a Lei, vem cumpri-la. Mas, cumprir aqui não significa
obedecer a Lei, senão realizá-la, dar cumprimento ao que ela anunciou e
prometeu! Assim, cumprindo a Lei, Jesus realiza o que ela anunciou e a supera.
Ele não a despreza; cumpre-a plenamente e, cumprindo-a, supera-a
definitivamente!
- Com o seu nascimento, morte e
ressurreição, nem uma letra, nem uma vírgula da Lei ficou em vão: tudo se
cumpriu n'Ele, a plenitude da Lei e dos profetas. Eis porque, no Tabor, Moisés
e Elias, a Lei e os profetas, apareceram envoltos na glória de Jesus (cf. Lc
9,29-32). É Cristo quem leva a Lei e os profetas à plenitude do cumprimento. É
Ele, e só Ele, que tudo realiza em comunhão com o Pai e o Espírito Santo.
- Poderíamos perguntar: Então não há
mais lei alguma no cristianismo? Os cristãos são livres para fazerem como bem
desejarem, para viverem como bem imaginarem, tudo em nome da bondade e da
misericórdia de Deus revelada em Jesus? Não. Esse pensamento seria totalmente
falso. Não nos enganemos! O apóstolo Paulo nos previne contra esta ideia
errada: "Iremos pecar porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De
modo algum!" (Rm 6,15). Ele mesmo responde. A Lei de Moisés foi superada,
mas o cristão vive sob uma nova Lei, muito mais santa, profunda e exigente,
dada no Espírito Santo de Amor. Por isso, o Espírito foi derramado sobre a
Igreja no dia de Pentecostes. Para os discípulos de Cristo, a Lei é essa ação
do Espírito de Amor que no Batismo foi derramado em nossos corações (Rm 5,5). O
cristão vive agora debaixo dessa Lei do Espírito. O Apóstolo diz: "Vós não
viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus
habita em vós". E continua: "Se alguém não tem o Espírito de Cristo,
não pertence a Cristo!" (Rm 8,9). Portanto, é esse Santo Espírito, que nos
dá a Vida de Cristo, seus sentimentos e sua sabedoria, tão diferente daquela do
mundo, para vivermos segundo o Mestre.
- É o que Paulo nos fala na segunda
leitura: quem pode compreender os preceitos do Senhor? Somente os que são
sábios segundo Deus. Mas, essa sabedoria é escondida aos olhos do mundo, à
lógica da nossa sociedade. Nenhum dos poderosos deste mundo conheceu tal
sabedoria. E Paulo adverte: "Se a tivessem conhecido não teriam crucificado
o Senhor da glória" (v 8b).
- Ora, a sabedoria do mundo, fechada
para o Espírito de Cristo, mata o Senhor em nosso coração. A verdadeira
sabedoria, da verdadeira Lei, somente pode ser revelada através do Espírito,
que "esquadrinha as profundezas de Deus" (v 10b). Ficai atentos,
irmãos: é o Espírito que Cristo nos deu no Batismo e nos dá sempre de novo nos
sacramentos da Igreja, quem imprime em nós a nova Lei, a Lei do Amor!
- Para os cristãos, a Lei, os
mandamentos, resumem-se nisto: amar a Deus e amar os irmãos como Cristo nos
amou. E amou até entregar-se na Cruz! Eis a Lei e a medida, eis o desafio e o
consolo, eis a nossa desolação. Sigamos o conselho do Eclesiástico: guardemos o
preceito de amor do Senhor e viveremos nele, graças à presença do seu Espírito
em nós. Deixemo-nos conduzir por ele e obedeçamos a sua voz em nós, pois
"o Senhor não mandou ninguém agir como ímpio e a ninguém deu licença de
pecar" (Eclo 15,21), muito menos pecar contra o Espírito Santo de Amor,
que nos impele a amar como Jesus amou.
- Coragem, pois o que é impossível ao
homem não é impossível ao Senhor. Por isso, ele nos deu o seu próprio Espírito,
para que impulsionados por ele, tenhamos em nós os seus sentimentos, suas
atitudes, cumprindo o preceito do Apóstolo: "Tende em vós os mesmos
sentimentos do Cristo Jesus" (Fl 2,5).
- Agora sim, podemos compreender a
Palavra do Senhor Jesus: "Eu vos digo: se a vossa justiça não for maior
que a justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos
Céus" (Mt 5,26). Para o cristão, a Lei é o Espírito de Cristo, Espírito de
Amor, que nos imprime no coração os sentimentos de Cristo Jesus. A justiça do
cristão, sua prática religiosa é impulsionada pelo Espírito de Jesus imolado e
ressuscitado. Assim, no Evangelho de hoje, o Senhor dá três exemplos da Lei
mosaica e os radicaliza, indo direto ao mais profundo contido neles. São
exemplos que nos mostram que o Espírito de Amor em nós, leva-nos a amar na
medida de Cristo, que nos amou sem medida. Que mistério, que desafio: diante do
amor de Cristo, jamais poderemos estar em dia, tranquilos, achando que
merecemos um prêmio por cumprirmos o testemunho da Lei do amor. - Pensemos em
tudo isso e deixemo-nos guiar pelo Espírito de Cristo. Que ele mesmo venha amar
em nós e nos fazer sentir, pensar, falar, agir e viver como Jesus Cristo, nosso
Senhor. A ele a glória pelos séculos eternos. Amém
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