10 frases dos Padres da Igreja sobre o cristão e a riqueza
Volta
e meia aparecem em nossas comunidades perguntas como: o cristão pode
enriquecer? O que a Bíblia diz sobre as riquezas? A coisa pega fogo quando se
cita aquele versículo em que Jesus, logo depois de conversar com o jovem rico,
diz: “Como é difícil para os ricos entrar no reino de Deus! É mais fácil um
camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus”
(Mt 19, 23-24; Mc 10, 23-24; Lc 18, 24-25). A expressão é tão forte que os
discípulos reagiram dizendo: “Quem então poderá salvar-se?”
É
claro que, como em toda a visão cristã da ética, a questão aqui não é “pode” ou
“não pode”. Cada cristão precisa, a partir dos olhos novos que a experiência do
encontro com Jesus Cristo lhe dá, discernir de que maneira desenvolverá a sua
relação com o dinheiro e com os bens materiais em geral. Como uma forma de
apoio a esse discernimento, é bom dar uma olhada nos testemunhos que a
experiência cristã deixou ao longo da história.
Os
Padres da Igreja – isto é, os grandes
autores cristãos dos primeiros séculos do cristianismo, que tinham diante de si
a tarefa de explicitar e sistematizar a doutrina cristã aos fiéis – se
detiveram bastante sobre esse assunto. Os seus ensinamentos sobre a relação
entre o cristão e o dinheiro eram muito claros e bastante unânimes – estão bem
longe daquele discurso meio raso que muitas vezes se ouve nas comunidades, de
que a única coisa que importa é não ser apegado aos bens materiais. Confira
abaixo dez trechos de textos dos Padres da Igreja sobre o cristão e a riqueza:
Como
pode ser bom aquele que possui riqueza? Não é bom, exceto quando dá aos outros.
Enquanto ele a guardar para si não pode ser bom. Entretanto, como algo pode ser
bom se, guardado, mostra que somos maus e, distribuído, mostra que somos bons?
O que nos torna bons não é o ter, mas o não ter riquezas.
–
São João Crisóstomo, +407 (Homilia
13 sobre a I Carta a Timóteo)
O
uso dos bens é determinado pela necessidade, que pode ser satisfeita com muito
pouco. Deus nos deu a possibilidade do uso, mas apenas dentro dos limites do
necessário. É, portanto, um absurdo que apenas uns poucos vivam entre delícias,
enquanto muitos se acham na miséria.
– São Clemente de Alexandria,
+215 (O pedagogo)
Aquele
que despoja um homem de suas vestes recebe o nome de saqueador. E aquele que,
podendo fazê-lo, não veste a nudez do mendigo, merece por acaso outro nome? Ao
faminto pertence o pão que você retém. Ao homem nu, o manto que você guarda até
nos seus cofres. Ao que anda descalço, o calçado que apodrece em sua casa. Ao
miserável, o dinheiro que você guarda escondido.
– São Basílio Magno,
+379 (Homilia 6, 6-8)
Aqueles
que não compartilham o que receberam causam cruelmente a morte de seus
próximos, porque todos os dias matam todos os que morrem de pobreza,
negando-lhes socorro e apenas acumulando riquezas para si próprios. Quando
damos aos pobres algo de que necessitam, não estamos dando o que é nosso, mas
estamos desenvolvendo o que lhes pertence. Estamos pagando uma dívida de
justiça, e não realizando uma obra de misericórdia.
– São Gregório Magno,
+604 (Regra Pastoral)
Quem
quiser dar lugar ao Senhor em suas vidas deve se alegrar não com a posse de
bens materiais, mas em compartilhar bens comuns. Os primeiros cristãos
transformaram em bens comuns seus bens individuais. Por acaso perderam o que
consideravam seus bens? Não. Se seus bens continuassem como propriedades
exclusivas, cada um teria apenas o que era seu. Mas, quando transformaram em
bens comuns seus bens individuais, cada um passou a ter como seus os bens que
eram dos demais.
– Santo Agostinho,
+430 (Comentário ao Salmo 131)
Deus
conduziu o ser humano à comunhão, dando primeiramente as suas coisas e
colocando à disposição de todos os homens, como ajuda, o seu Verbo. Fez tudo
para todos. Todas as coisas são, por isso, um bem comum, e os ricos não devem
pretender mais do que os outros. Dizer: “Tenho até de sobra, por que não
desfrutaria?” não é nem humano nem social. Eis, ao contrário, a prova do amor:
“tenho, então por que não dar aos pobres?”
– São Clemente de Alexandria,
+215 (O pedagogo).
O
verdadeiro bem-estar não está na posse de muitos bens, mas no fato de não se
sentir nem mesmo a necessidade de possuí-los.
– São João Crisóstomo,
+407 (Homilia sobre a II Carta aos Coríntios, 12, 5-6)
Como
uma fonte fornece água sempre mais pura quanto mais pessoas dela se servem,
enquanto a água parada apodrece se dela não se faz uso, assim também acontece
com a riqueza que jaz inútil. Se ela, porém, for movimentada, então torna-se
frutuosa, útil para a comunidade.
– São Basílio Magno, +379
(Homilia sobre a avareza, 4-5)
Vocês
acham que a humanidade para com o próximo não é necessidade, mas um ato
opcional? Que não é uma lei, mas apenas um conselho? Eu mesmo desejaria que
assim fosse e assim eu passaria a pensar. Mas temo o lado esquerdo, os cabritos
e as imprecações do Juiz (cf. Mt 25, 31-46). Isso mesmo: não foi porque
roubaram, cometeram sacrilégios ou adulteraram, nem porque cometeram qualquer
outro ato proibido que esses pecadores foram condenados. Foi porque não
cuidaram de Cristo na pessoa dos pobres.
– São Gregório de Nazianzo,
+390 (Homilia 24 sobre o amor aos pobres)
Nós
construímos casas para morar, não para trazer-nos glória. O que ultrapassa a
necessidade é supérfluo e inútil. Experimente calçar um sapato maior que o pé:
você não o suportará, porque ele o impede de caminhar! Assim também uma casa
maior do que você precisa vai atrapalhá-lo na sua caminhada para o céu.
– São João Crisóstomo,
+407 (Homilia sobre as estátuas, 2, 5-6)
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