Mensagem ao povo brasileiro é
divulgada no último dia da Assembleia Geral dos Bispos, reunidos em Aparecida
(SP)
Da Redação, com CNBB
Os bispos reunidos na 59ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgaram nesta sexta-feira, 2, uma
mensagem ao povo brasileiro sobre o momento atual. A Conferência está reunida
em Aparecida (SP) desde o último domingo, 28, e encerra hoje os trabalhos da
Assembleia.
No
texto, os bispos reafirmam o compromisso com a defesa da vida – desde o início
até o término natural – da família, da ecologia integral e da democracia.
Também reconhecem as dificuldades atuais que o povo brasileiro enfrenta,
recordam o bicentenário da independência do Brasil e a proximidade do processo
eleitoral. Leia a mensagem na íntegra:
MENSAGEM DA CNBB
AO POVO BRASILEIRO SOBRE O
MOMENTO ATUAL
“Se nos esforçamos e
lutamos, é porque pusemos a nossa esperança no Deus vivo, que é o
salvador de todos” (1 Tm 4,10).
Reunidos no Santuário
Nacional de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, de 28 de agosto a 2
de setembro, para a etapa presencial da 59ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nós, bispos católicos, em colegialidade e
comunhão, nos dirigimos a todos os homens e mulheres de boa vontade.
Como pastores, temos
presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente,
marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e
esperanças, tristezas e angústias (cf. Gaudium et Spes, 1) são as mesmas de
cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de
todos.
Nossa fé comporta
exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas. O
compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até
o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado
democrático de direito estão intrinsicamente vinculado à nossa missão apostólica.
Todas as vezes que esses compromissos têm sido abalados, não nos furtamos em
levantar nossa voz. “A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, exatamente
por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido”
(Bento XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida).
Com a esperança que
nos vem do Senhor e que não nos decepciona (Cf Rm 5,5), reconhecemos o tempo
difícil em que vivemos. Nosso País está envolto numa complexa e sistêmica
crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na
sociedade brasileira. Constatamos os alarmantes descuidos com a Terra, a
violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da
posse e porte de armas que ameaçam o convívio humano harmonioso e pacífico na
sociedade. Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de
acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e
criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável (cf. Papa
Francisco, Fratelli Tutti, 189). Segundo relatório da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2022), a quantidade de
brasileiras e brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar
ultrapassou a marca de 60 milhões.
Como se não bastassem
todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge
reafirmar o óbvio: Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de
amplo pacto nacional. Isso não significa somente “um respeito formal de regras,
mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os
procedimentos democráticos […] se não há um consenso sobre tais valores,
se perde o significado da democracia e se compromete a sua
estabilidade” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).
Ao comemorarmos o
bicentenário da Independência do Brasil, é fundamental ter presente que somos
uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um
projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma
economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência
conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um
grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a
promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a
diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso
a teto, trabalho e terra. Comprometidos com essas conquistas e inspirados pela
cultura do diálogo e do encontro, podemos ser uma nação realmente independente
e soberana.
É motivo de
preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fake News que têm o
poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em
risco a democracia. A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e
religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas
que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um
compromisso autêntico com o Evangelho e com a verdade.
A corrupção,
histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres. A
Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados por órgãos colegiados possam se
candidatar a cargos políticos é uma conquista popular e democrática, que deve
ser promovida, juntamente com outros mecanismos de controle que garantam a
ética na política.
Mesmo com todos esses
desafios, a dinâmica da democracia nos coloca, mais uma vez, num processo
eleitoral. Tentativas de ruptura da ordem institucional, veladas ou explícitas,
buscam colocar em xeque a lisura desse processo, bem como, a conquista
irrevogável do voto. Pelo seu exercício responsável e consciente, a população
tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores.
Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis
pela legitimação do processo e dos resultados das eleições.
Assim, conclamamos,
mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e pacificamente
das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo (presidente
e governadores) e o legislativo (senadores e deputados federais, estaduais e
distritais), que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça
social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum.
Nossa Senhora
Aparecida, Padroeira do Brasil, nos ajude a buscar sempre a melhor
política, uma das formas mais eminentes da caridade.
Aparecida – SP, 31 de agosto de 2022
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre – RS
1º Vice-Presidente
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá – MT
2º Vice-Presidente
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro – RJ
Secretário-Geral
https://noticias.cancaonova.com/igreja/cnbb-divulga-mensagem-ao-povo-brasileiro/
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