O
EXIGENTE CAMINHO DO REINO
A
liturgia deste domingo convida-nos a tomar consciência de quanto é exigente o
caminho do "Reino". Optar pelo "Reino" não é escolher um
caminho de facilidade, mas sim aceitar percorrer um caminho de renúncia e de
dom da vida.
É,
sobretudo, o Evangelho que traça as coordenadas do "caminho do
discípulo": é um caminho em que o "Reino" deve ter a primazia
sobre as pessoas que amamos, sobre os nossos bens, sobre os nossos próprios
interesses e esquemas pessoais. Quem tomar contacto com esta proposta tem de
pensar seriamente se a quer acolher, se tem forças para a acolher... Jesus não
admite meios-termos: ou se aceita o "Reino" e se embarca nessa
aventura a tempo inteiro e "a fundo perdido", ou não vale a pena
começar algo que não vai levar a lado nenhum (porque não é um caminho que se
percorra com hesitações e com "meias tintas").
Jesus
não é um demagogo que faz promessas fáceis e cuja preocupação é juntar adeptos
ou atrair multidões a qualquer preço. Ele é o Deus que veio ao nosso encontro
com uma proposta de salvação, de vida plena; no entanto, essa proposta implica
uma adesão séria, exigente, radical, sem "paninhos quentes" ou
"meias tintas". O caminho que Jesus propõe não é um caminho de
"massas", mas um caminho de "discípulos": implica uma adesão
incondicional ao "Reino", à sua dinâmica, à sua lógica; e isso não é
para todos, mas apenas para os discípulos que fazem séria e conscientemente
essa opção. Como é que eu me situo face a isto? O projeto de Jesus é, para mim,
uma opção radical, que eu abracei com convicção e a tempo inteiro ou um projeto
em que eu vou estando, sem grande esforço ou compromisso, por inércia, por
comodismo, por tradição?
A
forma exigente como Jesus põe a questão da adesão ao "Reino" e à sua
dinâmica faz-nos pensar na nossa pastoral - vocacionada para ser uma pastoral
de massas - e na tentação que sentem os agentes da pastoral no sentido de
facilitar as coisas, de não serem exigentes... Às vezes, interessa mais que as
estatísticas da paróquia apresentem um grande número de batizados, de
casamentos, de crismas, de comunhões, do que propor, com exigência, a
radicalidade do Evangelho e dos valores de Jesus... O caminho cristão é um
caminho de facilidade, onde cabe tudo, ou é um caminho verdadeiramente
exigente, onde só cabem aqueles que aceitam a radicalidade de Jesus? A nossa
pastoral deve facilitar tudo, ou ir pelo caminho da exigência?
Às
vezes, as pessoas procuram a comunidade cristã por tradição, por influências do
meio social ou familiar, porque "a cerimônia religiosa fica bonita nas
fotografias"... Sem recusarmos nada, devemos, contudo, fazê-las perceber
que a opção pelo batismo ou pelo casamento religioso é uma opção séria e
exigente, que só faz sentido no quadro de um compromisso com o
"Reino" e com a proposta de Jesus.
Dentro
do quadro de exigências que Jesus apresenta aos discípulos, sobressai a
exigência de preferir Jesus à própria família. Isso não significa,
evidentemente, que devamos rejeitar os laços que nos unem àqueles que amamos...
No entanto, significa que os laços afetivos, por mais sagrados que sejam, não
devem afastar-nos dos valores do "Reino". As pessoas têm mais
importância para mim do que o "Reino"? Já me aconteceu renunciar aos
valores do "Reino" por causa de alguém?
Outra
exigência que Jesus faz aos discípulos é a renúncia à própria vida e o tomar a
cruz do amor, do serviço, do dom da vida. O que é mais importante para mim: os
meus interesses, os meus valores egoístas, ou o serviço dos irmãos e o dom da
vida?
Uma
terceira exigência de Jesus pede aos candidatos a discípulos a renúncia aos
bens. Os bens, a procura da riqueza são, para mim, uma prioridade fundamental?
O que é mais importante: a partilha, a solidariedade, a fraternidade, o amor
aos outros, ou o ter mais, o juntar mais?
Nenhum comentário:
Postar um comentário