A VIDA
ECONÔMICA
O
homem, pobreza e riqueza segundo os aspectos bíblicos
O homem colocado a serviço da humanidade e
seguindo a Deus
324 No
antigo Testamento, se percebe uma dupla postura em relação aos bens econômicos
e a riqueza. Por um lado, apreço em relação a disponibilidade dos bens
materiais considerados
necessários para a vida: por vezes a abundância – mas não a riqueza e o luxo –
é vista como uma bênção de Deus. Na literatura sapiencial, a pobreza é descrita
como uma consequência negativa do ócio e da falta de laboriosidade (cf. Prov
10,4), mas também, como fato natural (cf. Prov 22,2). Por outro lado, os bens
econômicos e a riqueza não são condenados por si mesmos, mas pelo o mau uso
deles. A tradição profética estigmatiza as fraudes, a usura, a exploração, as
injustiças manifestas, frequentes em relação aos mais pobres (cf. Is 58,3-11;
Jr 7,4-7; Os 4,1-2; Am 2,6-7; Mq 2,1-2). Tais tradições, mesmo considerando um
mal a pobreza dos oprimidos, dos fracos, dos indigentes, neles vê também um
símbolo da situação do homem diante de Deus; d’Ele provêm todos os bens como
dom a ser administrado e a ser partilhado.
325
Aquele que reconhece a própria pobreza diante de Deus, qualquer que seja a situação que
esteja vivendo, é objeto de particular atenção da parte de Deus: quando o pobre
O procura, o Senhor responde; quando grita, Ele o escuta. Aos pobres se dirigem
as promessas divinas: eles serão os herdeiros da aliança entre Deus e o seu
povo. A intervenção salvífica de Deus, se atenuará através de um novo David
(cf. Ez 34,22-31), o qual, como e mais que o Rei David, será defensor dos
pobres e promotor da justiça; ele estabelecerá uma nova aliança e escreverá uma
nova lei no coração dos fiéis (cf. Jr 31,31-34).
A pobreza, quando é aceita ou
procurada com espírito religioso, predispõem ao reconhecimento e à aceitação da
ordem criatural; o -rico- nesta perspectiva, é aquele que repõem a sua
confiança nas coisas que possui, mais que em Deus, é o homem que se faz forte
pela obra de suas mãos e que confia somente nesta força. A pobreza assume o
valor moral, quando se manifesta como humilde disponibilidade e abertura para
com Deus, confiança n’Ele. Estas atitudes tornam o homem capaz de reconhecer a
relatividade dos bens econômicos e dos tratados como dons divinos da
administração e da partilha, porque a propriedade originária de todos os bens
pertence a Deus. (…)
Vocação
326 À
luz da Revelação, a atividade econômica deve ser considerada e
desenvolvida como resposta reconhecida à vocação que Deus reserva a cada homem.
Ela é colocada no jardim para cultivá-la e guardá-la, usando-a dentro de
limites bem precisos (cf. Gn 2,16-17), no esforço de aperfeiçoamento (cf. Gn
1,26-30; 2,15-16; Sab 9,2-3). Fazendo-se testemunha da grandeza e da bondade do
Criador, o homem caminha para a plenitude da liberdade em que Deus o chama. Uma
boa administração dos dons recebidos, também dos dons materiais, é obra de
justiça para consigo mesmo e para com os outros homens: aquilo que se recebe
deve ser bem utilizado, conservado, acrescido, tal como ensina a parábola dos
talentos (cf. Mt 25,14-31; Lc 19,12-27).
A
atividade econômica e o progresso material devem ser colocados a serviço do
homem e da sociedade; se a eles nos dedicarmos com a fé, a esperança e a
caridade dos discípulos de Cristo, a própria economia e o progresso podem ser
transformados em lugares de salvação e de santificação; nestes âmbitos também é
possível dar expressão a um amor e a uma solidariedade mais que humanas e contribuir
para o crescimento de uma humanidade nova, que prefigure o mundo dos últimos
tempos. Jesus sintetiza toda a Revelação pedindo ao crente enriquecer diante de
Deus (cf. Lc 12,21): também a economia é útil para este fito, quando não trai a
sua função de instrumento para o crescimento global do homem e das sociedades,
da qualidade humana da vida.
As
riquezas existem para ser partilhadas
329 (…) As riquezas realizam a sua
função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os
outros e a sociedade: ”Como poderíamos fazer o bem ao próximo – interroga-se
Clemente de Alexandria – se todos não possuíssem nada”? Na visão de São João
Crisóstomo, as riquezas pertencem a alguns, para que estes possam adquirir
mérito partilhando com os outros. Elas são um bem que vem de Deus: quem o possuir,
deve usá-lo e faze-lo circular, de sorte que também os necessitados possam
fruir; o mal está no apego desmedido às riquezas, no desejo de açambarcá-las.
São Basílio Magno convida os ricos a abrirem as portas de seus armazéns e
exclama: ”Um grande rio se derrama, em mil canais, sobre o terreno fértil: de
igual modo, por mil vias, tu faze chegar a riqueza à habitação dos pobres”. A
riqueza, explica São Basílio, é como a água que flui mais pura da fonte na
medida em que dela se haure com mais frequência, mas que apodrece se a fonte
permanece inutilizada. O rico, dirá mais tarde São Gregório Magno, não é mais
que um administrador daquilo que possui; dar o necessário a quem necessita é
obra a ser cumprida com humildade, porque os bens não pertencem a quem os
distribui. Quem tem as riquezas somente para si não é inocente; dar a quem tem
necessidade significa pagar um débito.
Fonte: Compêndio
da Doutrina Social da Igreja
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