DOMINGO, 10 de JULHO DE 2022
DOMINGO, 10 DE
JULHO DE 2022
No amor, ser próximo
de todos, especialmente dos marginalizados, caminho para a vida eterna
“E quem é o meu próximo?”(Lc 10,29).
15.º DOMNGO DO TEMPO COMUM – ANO C
OLÁ! PRA COMEÇO DE CONVERSA...
1-
Liturgia do 15.º Domingo
do Tempo Comum- Ano C
Numa cultura de muitos preconceitos,
numa sociedade excludente, a Palavra de Deus, sempre ao nosso alcance, nos
indica a compaixão para relações de proximidade e serviço a todos,
especialmente em relação a quem está à beira do caminho da vida, a exemplo de
Cristo, o Divino Samaritano que se fez um de nós, veio para servir e viveu
pobre com os pobres.
2-
Textos bíblicos: Dt 30,10-14; Sl 68 ou Sl 18B; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37
A Palavra de Deus proposta neste Domingo é surpreendente.
Tudo começa com uma pergunta que, apesar de mal intencionada, é válida,
necessária, sempre urgente; pergunta que brota do mais profundo da nossa
angústia: “Que devo fazer para receber a vida? Como devo viver para viver de
verdade, para que minha vida valha a pena e não seja uma paixão inútil?” Apesar
de um mundo que procura nos distrair dessa pergunta, não há como sufocá-la,
como fazer de conta que ela não perturba nosso coração! Pelo amor de Deus, responda
o mundo tão animado e cheio de distrações: onde está a felicidade duradoura?
Onde está a vida, a realização da existência? Que caminho seguir, para ser
feliz de verdade?
Jesus indica o caminho: “O que está escrito na Torah?
Como lês?” – Aqui, há algo importantíssimo. Jesus está falando com um escriba
judeu; por isso, manda-o à Lei de Moisés. Uma coisa ele quer deixar clara: a
vida não está no homem, mas na vontade de Deus! O homem somente será feliz,
somente encontrará a vida se procurar lealmente a vontade de Deus. Por isso, no
Salmo 118, o Salmista pede, de modo comovente: “Sou apenas peregrino sobre a
terra; de mim não oculteis vossos preceitos!” Perder de vista o projeto de Deus
para nós, é perder de vista a própria vida, o sentido da existência! Não
esqueçamos, para não sermos enganados: fechados para a vontade do Senhor, não
encontraremos a realização verdadeira! E este é o drama do mundo atual, que se
julga maior de idade e, portanto, independente de Deus. Na verdade, é um mundo
ateu, porque é um mundo auto-suficiente, que só confia de verdade na sua
filosofia, na sua tecnologia, na sua racionalidade pagã e na sua moral fechada
para o Infinito!
Ao invés, Jesus nos força a abrir o coração para o Alto,
para o Altíssimo; convida-nos a respirar fundo o ar novo e puro, que brota das
narinas de Deus e dá novo alento ao ser humano cansado e envelhecido pelo
pecado! “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua
alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência”. Esta abertura para
Deus dilata e realiza o coração humano, que foi criado para dar e receber amor,
amor na relação com Deus, que desemboca, generoso, no amor em relação aos
outros: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. – “Faze isto e viverás!” Os
filósofos ateus dos séculos XIX e XX – de Feuerbach a Sartre – gostavam de
insistir que Deus escraviza o homem, desumaniza a humanidade, impedindo-a de
ser ela própria, de ser feliz. É mentira! É um triste mal-entendido! A
verdadeira abertura para Deus nos faz crescer, nos faz superar nossos estreitos
limites, nos lança de verdade em relação a Deus e nos compromete com os outros!
Os mandamentos de Deus realizam o mais profundo anseio do nosso coração, que é
a vida: “Converte-te ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a
tua alma! Na verdade, o mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem
está fora do teu alcance!” O próprio Deus – acreditem – nos deu o desejo e a
capacidade de amar ao nos criar à sua imagem!
Jesus insiste ainda em algo muito importante: nossa
relação com Deus, se é verdadeira, deve abrir-nos aos irmãos: “Quem é o meu
próximo?” – A resposta de Jesus é clara: nosso próximo são aqueles que a vida
fez próximos de nós. Nosso próximo são os próximos! Ou os amamos de verdade, ou
não há próximo para amar. O próximo viraria uma idéia abstrata e sem valor
algum. Não esqueçamos: o próximo tem rosto, tem cheiro, tem problemas e, às
vezes, nos incomoda, nos atrapalha, nos desafia, nos causa raiva e contradição.
É a este próximo, concreto como uma rocha, que eu devo amar! Mas, atenção: um
judeu deve amar o próximo como a si mesmo: é isto que está escrito na Lei. Um
cristão, não! Ele deve amar o próximo como Jesus: até dar a vida: “Amai-vos
como eu vos amei. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, façais vós
também!” (Jo 13,34.15).
Recordemos que o próprio Senhor nos deu o exemplo; ele
mesmo se fez próximo de nós: sendo Deus se fez homem, veio viver a nossa
aventura, partilhar a nossa sorte, para nos dar a sua vida: “Cristo é a imagem
do Deus invisível… porque Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude”. Ele
não viu nossa miséria de longe, não nos amou à distância: desceu e veio viver a
nossa vida, fazendo-se Deus-conosco! Por isso, ele é o verdadeiro Bom
Samaritano, o verdadeiro modelo daquele que “se faz próximo” do próximo:
viu-nos à margem do caminho da vida; viu-nos roubados e despojados de nossa
dignidade de imagem de Deus; viu-nos totalmente perdidos… Ele se compadeceu de
nós, desceu à nossa miséria, fez-se homem, para nos curar e elevar. Nele, se
revela a plenitude do amor a Deus e aos outros: “Deus quis por ele reconciliar
consigo todos os seres que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo
sangue da sua cruz”. Então, somente em Cristo, encontramos a vida verdadeira e
a realização pela qual tanto almejamos. Só ele nos reconcilia com Deus e no
abre uns para os outros, aproximando-nos no seu amor!
Quando os cristãos não conseguem viver isso, quando não
conseguem deixar que essa realidade maravilhosa transpareça, é porque estão
sendo infiéis, estão sendo uma caricatura de discípulos do Senhor Jesus. Que
responsabilidade a nossa! Saiamos daqui, hoje, com essa pergunta: quem são os
meus próximos? Que tenho feito com eles? Pensemos em Jesus que veio ser
próximo, e ainda se faz próximo hoje, em cada Eucaristia. Pensemos nele: “Vai,
tu também, e faze o mesmo!” Amém.
Dom Henrique Soares da Costa
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