REFLEXÃO DOMINICAL III
Hospedar ou acolher, eis a questão...!
Há uma grande diferença entre hospedar e
acolher . Quando Jesus chegou na casa de Marta, ela mal teve tempo de saudá-lo
e já se entregou às tarefas domésticas, limpar e organizar toda casa, preparar
o quarto para o hóspede ilustre e ainda fazer a refeição. Jesus era um hóspede
e foi assim que Marta o tratou, de maneira formal tendo como lema, primeiro o
serviço e depois a amizade. É mais ou menos assim, quando chegamos de surpresa
na casa de alguém, e que não tendo quem nos faça sala, a pessoa diz “Olha,
estou ocupada, mas pode falar que estou ouvindo”. Acho que se Maria não estivesse
em casa, era isso que Marta iria acabar fazendo: “Olha Senhor sinta-se a
vontade, daqui a pouco minha irmã chega para lhe fazer sala, não repare se
estou trabalhando, pois hoje é dia de faxina e ainda tenho de preparar a
refeição”. Maria ao contrário, sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo, sem
pressa ou nenhuma outra preocupação.
E que diferença, quando a pessoa nos acolhe
de maneira fraterna, carinhosa, dando-nos toda atenção, e faz o clássico
convite “olha, você já é de casa, vamos lá prá cozinha bater um bom papo que
vou passar um café fresquinho”. E a conversa vai longe, e o cheirinho bom do
café sendo coado, quem sabe um biscoitinho, um docinho caseiro, isso é mais que
uma simples hospedagem, é acolhimento e faz uma diferença enorme porque é um
tratamento personalizado.
Parece-me que esse evangelho está querendo
nos perguntar, se em relação a Jesus Cristo e o seu Santo Evangelho, sua
palavra cheia de sabedoria e seu ensinamento, a nossa atitude é de quem recebe
um hóspede, por algumas horas ou dias, ou o acolhemos realmente, como alguém
que faz parte da nossa vida? É muito importante respondermos a essa pergunta,
mesmo porque, a casa onde acolhemos ou simplesmente hospedamos Jesus, é
exatamente a nossa vida. Será que ele é nosso íntimo e pode adentrar em nossa
“cozinha”, isso é, dentro do nosso coração, ou o recebemos com pressa, no
portão da casa, e nem o convidamos para entrar...
Maria o acolheu, não apenas como alguém
importante e ilustre, mas como seu Senhor e Mestre, um amigo querido, que com
suas palavras sábias lhe conquistava o coração, ouvi-lo não era tarefa
cansativa, mas algo edificante, extremamente gratificante e prazeroso, com ele
Maria aprendia e sentia, pois as palavras lhe tocavam o coração. Notem que
Maria nada diz e nem se revolta ou reclama da atitude grosseira da irmã, não
faz ares de santinha, que está com a razão, ao contrário, Lucas não narra essa
parte, mas provavelmente Maria, com palavras suaves se desculpou com Jesus,
pela má educação da outra.
Maria não é vaquinha de presépio que só diz
“amém”, mas sabe relacionar-se com as pessoas, com respeito, ternura,
delicadeza, com toda certeza, pensamento meu, ela chamou Marta de lado e
pediu-lhe calma, que depois ela a ajudaria em todas as tarefas. Já Marta andava
bastante estressada, provavelmente não tinha planejado as tarefas, e Jesus
chegara meio sem aviso, e agora tinha de dar conta do recado, “assoviar e
chupar cana”, limpar a casa, preparar o quarto de hóspedes e ainda por cima,
preparar a refeição. Gostava de Jesus, mas não tinha tempo para ficar
ouvindo-o, ou porque já sabia tudo de cor, ou porque achava que aquilo nada
tinha a ver com sua vida, como muitos cristãos fazem quando vão a missa ou
celebração do domingo, muitos saem até sem receber a bênção final, vivem com pressa
e falta-lhes paciência para ouvir.
Vivemos em uma sociedade onde as pessoas
estão sempre apressadas, em um ativismo doentio, fazendo um monte de coisa ao
mesmo tempo, às vezes sem planejamento e organização (não é assim em nossas
comunidades?) tem que se produzir para consumir, ninguém tem tempo para mais
nada, fala-se muito e ouve-se pouco, ou quase nada, escuta-se o outro, já
pensando no que vamos responder, o que o outro fala não é tão importante como
aquilo que temos a dizer (ah... Nossas reuniões pastorais...).
Nas celebrações onde o Senhor nos fala, nas
orações, nos cantos, nas leituras e na Eucaristia, até o ouvimos, mas não nos
colocamos como discípulos que querem apreender cada vez mais, para poder
segui-lo. Nem nos sentamos para ouvir, ficamos em pé, com uma pressa danada de
que ele termine logo, pois outras tarefas mais importantes nos aguardam. Como
Marta, colocamos a Palavra de Deus em um segundo plano.
As conseqüências disso estão na relação com
as pessoas, começamos a achar que estamos fazendo sozinhos, que ninguém
colabora, ninguém ajuda, e despejamos o nosso amargor, destilamos o nosso
veneno “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todas
essas tarefas? “ Maria escolheu a melhor parte, porque bebeu das palavras de
Jesus, abriu-lhe o coração e a mente, deixou que Ele entrasse em sua vida e
certamente aprendeu com o Mestre, como servir as pessoas, com alegria e
humildade, de maneira gratuita e incondicional.
Quanto a parte que Marta escolheu, além de
dor nas costas, irritação e palavras amargas ditas a Jesus e a irmã, em tom de
cobrança, nada restou, nada se aproveitou. Se o mesmo acontece em nossos
trabalhos pastorais, está na hora de sentarmo-nos aos pés de Jesus, sem pressa
nem correria, para saborearmos cada momento da celebração, e depois sentirmos
no coração esta incontida alegria que nos leva a amar e a servir, com
qualidade, eficiência, alegria e ternura... Essa é sem dúvida a melhor parte, o
resto não passa de “choramingos e resmungos”, que geram desconfiança e inimizades
no seio da comunidade. Que parte nós escolhemos?
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário