REFLEXÃO DOMINICAL I
O
IMPORTANTE É SER RICO PARA DEUS
Padre
Wagner Augusto Portugal
Meus queridos Irmãos, Neste domingo do
tempo quotidiano, chamado 18o Domingo do Tempo Comum, celebramos
a clausura do mês de julho, coincidindo com o encerramento da Jornada Mundial
da Juventude, na Cracóvia, terra natal de São João Paulo II e berço irradiador
da Divina Misericórdia.
Assim, hoje junto com a dignidade do trabalho humano, onde o
importante é SER RICO PARA DEUS, tema central de nossa reflexão.
A liturgia de hoje nos lembra que basta uma crise financeira
para que os homens e mulheres se lembrarem da precariedade dos tesouros deste
mundo. O Evangelho de hoje nos fala de atitudes comezinhas na vida familiar: A
briga de irmãos sobre uma herança; querem que Jesus resolva o impasse. Jesus
não se interessa: sua missão é outra. Que adiantaria, para o Reino de Deus,
impor a esses dois irmãos uma solução que, provavelmente, não os reconciliaria?
Para Jesus interessa que a pessoa se converta para os valores do Reino de Deus.
Jesus, no seu modo simples de colocar os tesouros eternos, conta à parábola do
rico insensato, que depois de uma boa safra achou que poderia descansar para o
resto de sua vida e viver daquilo que guardara em toda a sua vida. Coitado, na
mesma noite Deus viria reclamar sua vida… Jesus não quis denunciar o desejo de
viver decentemente, mas a mania de colocar sua esperança nas riquezas e poderes
deste mundo, esquecendo reunir tesouros junto a Deus. As riquezas não são um
mal em si, mas desviam a nossa atenção da verdadeira riqueza, a amizade com
Deus, que alcançamos pela dedicação a seus filhos.
A Primeira Leitura(cf. Ecl 1,2; 2,21-23) nos interpela com a seguinte
pergunta: Para que a riqueza e o saber? O Antigo Testamento gosta geralmente da
vida. O Livro do Eclesiastes, porém, dedica-se ao ceticismo. Ataca o leitor com
perguntas inoportunas. Que é o homem? Por que existe? Aonde vai? Para que
servem a riqueza e o saber, dificilmente alcançados e tão facilmente perdidos
na hora da morte? É como um vento que passa. Que sobra? Estas perguntas nos
preparam para valorizar o “tesouro junto de Deus” que nos aponta Lucas na missa
de hoje.
A grande
lição que o “qohélet” nos deixa é a demonstração da incapacidade de o homem,
por si só, encontrar uma saída, um sentido para a sua vida. O pessimismo do
“qohélet” leva-nos a reconhecer a nossa impotência, o sem sentido de uma vida
voltada apenas para o humano e para o material. Constatando que em si próprio e
apenas por si próprio o homem não pode encontrar o sentido da vida, a reflexão
deste livro força-nos a olhar para o mais além. Para onde? O “qohélet” não vai
tão longe; mas nós, iluminados pela fé, já podemos concluir: para Deus. Só em
Deus e com Deus seremos capazes de encontrar o sentido da vida e preencher a
nossa existência.
As conclusões, quer do “qohélet” seriam desesperantes se
não existisse a fé. Para nós, os crentes, a vida não é absurda porque ela não
termina nem se encerra neste mundo. A nossa caminhada nesta terra está, na
verdade, cheia de limitações, de desilusões, de imperfeições; mas nós sabemos
que esta vida caminha para a sua realização plena, para a vida eterna: só aí
encontraremos o sentido pleno do nosso ser e da nossa existência.
Caros irmãos,
A Segunda Leitura(cf. Cl. 3,1-5.9-11) nos
apresenta uma nova vida em Cristo. No final de sua epístola, São Paulo mostra
aos colossenses as exigências que coloca ao cristão a vida nova, que é: morrer
e corressuscitar com Cristo. A comunhão com Cristo não é só para a vida futura;
já somos nova criação em Cristo, embora esteja ainda escondida em Deus, como o
próprio Cristo. Mas já age, já tem a sua forma definida. Para isso, o velho
homem deve morrer, não por uma mortificação que diminui o homem, mas pela vida
nova na comunhão, isto é que nos garante um tesouro junto a Deus.
Na
perspectiva de São Paulo ser batizado é identificar-se com Cristo e, portanto,
renunciar aos mecanismos que geram egoísmo, ambição, injustiça, orgulho, morte
– os mesmos que Jesus rejeitou como diabólicos; e é, em contrapartida, escolher
uma vida de doação, de entrega, de serviço, de amor – os mecanismos que levaram
Jesus à cruz, mas que também o levaram à ressurreição. O objetivo da nossa vida
é, de acordo com São Paulo, a renovação contínua da nossa vida, a fim de que
nos tornemos “imagem de Deus”.
A cobiça
deve, também, ser considerada nesta liturgia. Junto da cobiça a ganância. A
cobiça é a irmã gêmea da avareza que Santo Antônio chamou de “comida do
diabo”. Tudo isso porque os bens que amealhamos aqui neste mundo são
transitórios e precários. Não se trata de condenar a riqueza em si mesma,
criatura boa de Deus ou da inteligência humana. Trata-se de examinar o
comportamento em sua dimensão horizontal – para o mundo e para a sociedade – e
vertical – para Deus e a eternidade.
Assim o
Evangelho de hoje(cf. Lc. 12,13-21) é atualíssimo. Vivemos uma sociedade
voltada para o bem estar absoluto, para o hedonismo, para uma vida totalmente
sem sofrimento, com a busca desenfreada do ter, do prazer e do consumismo
desvairado. As famílias não querem mais filhos. O que se busca é o prazer pelo
prazer, um consumismo terrível e um bem-estar eterno.
O Evangelho vai na contra-mão: a
felicidade humana não está nem no muito possuir e nem no prazer de dominar.
A
ganância é precária e os bens deste mundo somente servem se estiverem a serviço
dos irmãos e da edificação de uma vida comunitária. Segundo a lei mosaica para
os camponeses, o filho mais velho, além de herdar a casa e o terreno sozinho,
herdava ainda dois terços dos bens móveis. É provável que a briga estivesse em
torno do terço sobrante. Nesses casos, recorria-se ao doutor da lei, uma
espécie de advogado, teólogo e juiz. Vemos, então, que Jesus era considerado
pelo povo como um advogado, ou como uma pessoa justa. Mas Jesus, evitando tomar
o lugar dos juristas, para que ninguém pudesse acusá-lo de usurpar poderes,
fala da cobiça e da avareza. O episódio de hoje é fascinante: alguém herdara
todos os bens, menos uma pequena parte, que devia ser repartida entre os
irmãos, e negava-se a fazê-lo, porque queria a herança inteira para si. Uma
ganância forte, que não só feria os direitos dos outros, mas também, e,
sobretudo, o amor fraterno, sobre o qual Jesus queria construir o novo povo de
Deus.
Irmãos e
Irmãs,
A
ganância sempre deixa o homem desassossegado. Santo Agostinho disse que a
ganância não respeita nem Deus, nem o homem, não perdoa nem o pai nem o amigo,
não considera nem a viúva e nem o órfão. Em torno de nós está a confirmação.
Para se compreender e viver o Evangelho temos que ser desapegados. Deus
primeiro nos criou. Depois do direito a vida nos deu a liberdade. A vida
pertence a Deus. Ele a dará e ele a tirará. Os grandes mestres da vida, quando
falam da precariedade dos bens, costumam apontar o dedo para o mistério da
morte, que nos quer nus, como nus saímos do ventre de nossa mãe. Mas do que
riquezas neste mundo devemos ser ricos diante de Deus, sempre procurando a
misericórdia e a caridade.
Assim,
para levar a sério à advertência do Evangelho e necessário rever os critérios
de nossas vidas. Precisamos acreditar que nossa vida é diferente daquilo que o
materialismo nos propõe. A Segunda Leitura, retirada da carta aos Colossenses,
nos fornece uma base sólida para tal fé. Co-ressuscitados com Cristo devemos
procurar as coisas do alto: o que é de valor definitivo, junto de Deus. E isso
não está muito longe de nós. Nossa verdadeira vida é Cristo, que está escondido
junto a Deus, na glória que se há de manifestar no dia sem fim.
Vamos,
pois, usar os bens que Deus nos concede com liberdade e liberalidade, colocando
tudo em benefício do próximo, na partilha e na solidariedade. Com os bens materiais
as pessoas podem fazer o bem. Para isso é preciso que elas vivam em atitude de
jejum, numa atitude de respeito e de liberdade diante dos bens, sem a eles se
escravizar e partilhando-os com o próximo.
Irmãos e
Irmãs
O que
Jesus denuncia aqui não é a riqueza, mas a deificação da riqueza. Até alguém
que fez “voto de pobreza” pode deixar-se tentar pelo apelo dos bens e colocar
neles o seu interesse fundamental… A todos Jesus recomenda: “cuidado com os
falsos deuses; não deixem que o acessório vos distraia do fundamenta
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