REFLEXÃO DOMINICAL II
QUE
A GANÂNCIA NÃO ENDUREÇA O CORAÇÃO
Referências bíblicas
1ª Leitura - Eclo 1,2;
2,21-23
Salmo - Sl
89,3-4.5-6.12-13.14.17 (R.1)
2ª Leitura - Cl
3,1-5.9-11
Evangelho - Lc 12,13-21
A
palavra de Jesus no Evangelho de hoje e a liturgia desse 18° Domingo do Tempo
Comum não podem ser reduzidas apenas à necessidade individual de conversão da
ganância. Sabemos que tanto o pecado como as virtudes podem ser pessoais, mas
também sociais e estruturais. Por isso, é necessário aplicar o Evangelho também
ao contexto sócio, político, econômico e planetário, a fim de que ele nos ajude
a iluminar as situações em que a ganância gera morte.o coração
A
liturgia deste domingo traz na primeira
leitura (Ecl 1,2;2,21-23) um texto bastante conhecido e,
ao mesmo tempo, desconcertante do livro do Esclesiastes que pertence ao grupo
dos livros sapienciais. O sábio Qohéleth dirá: “Vaidade das vaidades, tudo é
vaidade! (1,2)”.
Nesta
leitura, temos uma reflexão sobre as grandes questões da existência humana, na
qual o autor nos confronta sobre onde colocamos a nossa esperança. Diz o texto:
“Um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado
a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou... Que proveito tira o
homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?" (2,21-22).
Neste
momento histórico em que cresce de forma absurda o número de desempregados, não
podemos pensar que o texto faz uma apologia ao desemprego. Como diz a canção de
Gonzaguinha: “O homem se humilha se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida e
vida é o trabalho. E sem o seu trabalho, o homem não tem honra. E sem a sua
honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz”.
O que o
autor bíblico quer nos ajudar a perceber, apesar de seu tom cético e um tanto
pessimista sobre o cotidiano da vida, é que trabalho, bens, inteligência,
competência, sucesso se tornam vazios e sem sentido quando deixam de ser meios
para sermos felizes e ajudar outras pessoas a serem, e se tornam fins em si
mesmos na busca da plena satisfação dos próprios desejos.
O Salmo 89 reforça
essa mensagem lembrando-nos de que somos seres contingentes, frágeis e passageiros:
“iguais à erva verde pelos campos que de manhã floresce vicejante, mas à
tarde é cortada e logo seca”. Só o Senhor é capaz de saciar nossos anseios,
dirá o salmista, e dar sentido ao trabalho humano.
Na segunda leitura tirada
da Carta de São Paulo aos Colossenses (3,1-5.9-11), presenciamos um texto cheio
do que chamamos de dialética paulina, na qual o Apóstolo contrapõe o mundo
celestial, perfeito, permanente ao mundo terreno, frágil e corruptível.
No
entanto, mais do que uma tensão entre o agora e um futuro escatológico, o que
temos é um apelo do autor bíblico que se embasa na certeza de que a vida
cristã, pautada pelas coisas do alto, pode e deve, já, aqui na terra, mesmo que
de forma imperfeita, desenrolar-se na plena identificação com o Ressuscitado.
As
expressões “coisas do alto, celestes, coisas terrestres”, mais do que lugar,
quer expressar situações internas do ser humano. Ou seja, em sintonia com as
leituras anteriores dessa liturgia, a segunda leitura denuncia o pecado da
idolatria que podemos chamar de cobiça e ganância, e anuncia que os verdadeiros
bens se encontram em Cristo que é tudo em todos (3,11).
Por
fim, no Evangelho
de Lucas 12,13-21, Jesus é abordado por alguém que lhe pede
para ser juiz na divisão dos bens entre irmãos. Indo até a raiz dos problemas,
na mesma linha sapiencial da primeira leitura, Jesus chama a atenção para a
ganância que leva a acumulação dos bens como busca da felicidade: “Tomai
cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas
coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (12,15).
Jesus
não está nos convidando ao conformismo. A busca pela justiça na forma de
moradia, pão, segurança e educação para todos é desejada por Deus e pregada por
Jesus. O que o Evangelho nos pede é atenção para que a ganância não endureça o
nosso coração, levando-nos a agir como o homem da parábola que ajuntou um
tesouro para si e esqueceu-se de compartilhar com seu irmão (12,19).
A
palavra de Jesus no Evangelho de hoje e a liturgia desse 18° Domingo do Tempo
Comum não podem ser reduzidas apenas à necessidade individual de conversão da
ganância. Sabemos que tanto o pecado como as virtudes podem ser pessoais, mas
também sociais e estruturais. Por isso, é necessário aplicar o Evangelho também
ao contexto sócio, político, econômico e planetário a fim de que ele nos ajude
a iluminar as situações em que a ganância gera morte.
Podemos
deixar ressoar em nossa mente e coração: qual a finalidade dos bens que tenho
ou busco? A quem esses bens servem?
E não
podemos esquecer-nos de agradecer a Deus pela vocação sacerdotal. Peçamos por
todos os sacerdotes para que Deus confirme sempre mais sua opção de servir a
Deus e ao povo com simplicidade de vida e de coração, ajudando-nos a construir
o Reino de Deus.
A reflexão é de Cristiane Rodrigues de Melo, fsp,
membro da Congregação
Pia Sociedade Filhas de São Paulo – Irmãs Paulinas. Ela é
licenciada em Filosofia pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005), bacharel
em Teologia pela
Universidade Católica de Pernambuco - UNICAP/PE (2015) e
possui pós-graduação em Psicopedagogia pela UNOESC-SC (2016).
Nenhum comentário:
Postar um comentário