REFLEXÃO DOMINICAL I
O BOM SAMARITANO
“Certo homem descia
de Jerusalém para Jericó”. Assim começa a parábola do Bom Samaritano contada
por Jesus para esclarecer um especialista da Lei que lhe perguntou “Quem é o
meu próximo”. É uma parábola sem palavras, mas rica em gestos que revelam pessoas
marcando posição diante de um fato. Na estrada está um homem caído, sem roupa,
ferido, semimorto, vítima de assaltantes. Primeiro surgem dois homens que
pertencem à religião oficial de Jerusalém, um sacerdote e um levita. Eles viram
o homem no chão, mas muda- ram de calçada e seguiram o caminho. O mais
importante era chegar “puro” no templo para tomar parte da liturgia do culto.
São pessoas piedosas, praticam o culto e a liturgia, mas se mostram insensíveis
e indiferentes às pessoas vulneráveis e necessitadas encontradas pelo caminho.
Para estes, Deus está trancado no templo e basta este lugar para viver a
religião. O terceiro personagem está viajando e, diferente dos dois primeiros,
aproximou-se do homem caído, encheu-se de compaixão, tratou as feridas,
colocou-o no seu animal e confiou aos cuidados de outra pessoa que tinha
condições de oferecer um tratamento melhor. Não tinha as credenciais religiosas
do sacerdote e levita, muito pelo contrário, era um samaritano considerado
herege pelos religiosos da época. Segundo ele Deus, está no caminho e se
identifica com um homem machucado que precisa ser cuidado. Diante da posição de
cada personagem, o especialista em Lei é convidado a dar a sua opinião sobre
quem foi próximo do homem caído na estrada: “Aquele que o tratou com
misericórdia”. O foco mudou não mais sobre quem está caído, mas sobre o que
fazem as pessoas que passam. No caminho da vida, em diversas ocasiões, éramos
nós que estávamos caídos, feridos e machucados e quantos não foram os que derramaram
óleo e vinho em nossas feridas e nos encheram de afeto, tiveram compaixão de
nós. No caminho de Jerusalém para Jericó e no caminho de toda humanidade é Jesus
o samaritano que desce do céu para curar nossas feridas, aliviar nossas dores e
nos carregar nos ombros com peso de Cruz. Ter o conhecimento da Sagrada
Escritura que alimentou o coração do especialista em Leis é necessário, mas não
o suficiente. Zelar pelo culto e celebrar com a devida dignidade como
costumavam fazer os sacerdotes e levitas também é importante, mas também
insuficiente. Palavra, ritos litúrgicos, sacramentos devem provocar em nós
sentimentos de compaixão diante de tantas pessoas submetidas a uma vida
desumana. E compaixão foi o que sentiu Jesus quando viu pessoas famintas e
alimentou-as, cegas e devolveu-lhes a visão, angustiadas e abandonadas e
começou a ensinar muitas coisas. “Vai e faça o mesmo”, diz Jesus ao
especialista em Leis e a cada um de nós. Recebemos de Jesus a missão de tomar
nos ombros a humanidade machucada e de Francisco de sermos uma “Igreja em
saída” renunciando à própria comodidade para alcançar todas as periferias que
precisam da luz do Evangelho, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Por
fim lembro do dono da pensão que aceitou dois denários e viabilizou a
continuação da viagem do samaritano, que soube chegar e desaparecer na hora
oportuna sem deixar nome e endereço. Não fosse isso, tudo não passaria de uma
“solidariedade paliativa” que não resolve o problema e pode criar dependências.
Mais denários (investimentos) para o SUS, pois essa “pensão” tem sido a
salvação de milhões de feridos encontrados nas sarjetas do nosso país, também
“ferido”.
Dom José Benedito Bispo Auxiliar de São Paulo
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