REFLEXÃO DOMINICAL I
ACOLHER HOJE
A acolhida se
caracteriza, certamente, pela capacidade de receber aquele que chega e que
sempre traz alguma novidade. Muitas vezes, aquele que chega é desconhecido e
nos encontra despreparados. Entretanto, é neste cenário que se encontra o
mistério da acolhida: saber reconhecer a presença de Deus no outro. Sim, a
mística da acolhida é desconcertante, pois revela nosso grau de comprometimento
com Cristo e, por conseguinte, com o próximo. Afinal de contas, a acolhida é a
expressão maior da autêntica fraternidade, capaz de transformar tanto aquele
que acolhe, quanto aquele que é acolhido, através da superação das mais
variadas diferenças sociais, políticas, econômicas e, inclusive, religiosas.
Nesta perspectiva, podemos nos voltar para a primeira leitura e contemplar a
figura de Abraão. Diante dos três homens que passam, Abraão aplica toda sua
atenção para que eles sejam acolhidos. O patriarca oferece abrigo, água, pão e
até mesmo manda providenciar um belo bezerro para receber os passantes. Um
leitor desavisado poderia facilmente pensar que acolher implica em gastar tempo
e dinheiro com um desconhecido, porém, a lógica da acolhida não observa as leis
e teorias da economia, pois aqui aquele que acolhe não perde, mas ganha! E será
através da experiência da acolhida que Abraão verá se concretizar seu sonho de
ser pai. Seguramente, a acolhida nos faz sair de nossa comodidade. Abrir nossas
portas para quem passa é uma oportunidade de crescimento que nos permite mudar
o itinerário de nossos caminhos com uma atenção cada vez mais crescente à
realidade do outro. O evangelho também nos fala da acolhida. Tudo se desenvolve
em uma casa que é visitada por Jesus. A dona da casa, Marta, está com sua irmã,
Maria. Quando se fala de acolher, não basta abrir as portas, mas é fundamental
que se dê atenção. Marta se encontra atarefada e diante do visitante, não dá
toda atenção devida. Ela abre sua casa, recebe Jesus, mas não O acolhe, está
muito ocupada. Maria, por sua vez, suspende suas tarefas, reorganiza sua
programação e parte ao encontro do Senhor, escuta-O. Interessante observar que
em dado momento, a própria Marta pede que Jesus chame a atenção de sua irmã,
talvez por se sentir abandonada nos afazeres da casa. No entanto, a atitude de
Jesus a surpreende, pois é Marta a corrigida, precisamente aquela que não
acolhera o Senhor com a atenção própria. A liturgia deste domingo nos chama
atenção para que priorizemos a vida em todas as circunstâncias e o façamos
plenamente através da acolhida. Papa Francisco nos recorda que acolher é testemunhar
o amor de Jesus. A acolhida se dá com o pobre, o migrante, a criança, o
excluído, o necessitado, mas também com aqueles que convivemos de mais perto,
seja em nossas famílias, trabalho ou lazer. A acolhida verdadeira é sempre uma
oportunidade de transformarmos e de sermos transformados.
Dom Carlos Silva,
OFMcap.
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