ORAÇÃO
Senhor, ensina-nos a orar! (Lc 11,
1-13)
A Igreja hoje nos
oferece uma narrativa do Evangelho de Lucas. Jesus continua seu caminho a
Jerusalém e Lucas nos apresenta o interesse de um dos discípulos de aprender a
orar como Jesus.
Podemos perguntar-nos
que terá visto esse discípulo, ao longo do tempo que conhece a Jesus, que fica
com desejo de rezar como ele e por isso pede-lhe que lhe ensine a rezar.
Em vários momentos
Lucas apresenta Jesus orante. Como disse Gilvander Luis Moreira,
frei e padre carmelita, assessor de CEBs, CEBI, SAB, CPT e Via Campesina, “O Evangelho de Lucas revela um Jesus orante que
cultiva a intimidade
com o Pai pela oração. Jesus se prepara, por meio da oração,
para um encontro face a face, olho a olho, com o Pai, com os outros e consigo
mesmo. Uma oração libertadora mergulha-nos no mais profundo da nossa
subjetividade, lá onde as palavras se calam e a voz de Deus se faz ouvir como
apelo e desafio.
Jesus responde ao
pedido de seus amigos/as. Num primeiro momento apresenta-lhes a relação que ele tem com Deus, seu Pai
e como ele se relaciona. Ele se reconhece filho e seu Pai
não é individual, por isso rezará Pai nosso.
Jesus ensina a orar
aos discípulos a caminho de Jerusalém. Possivelmente ele quer dizer que rezar é caminhar, não
é uma realidade fixa, estática, é realizar um projeto que leva toda a vida do
cristão. Considerando as leituras que lemos nos dois domingos anteriores, esta
conhecida oração que Jesus nos ensina que orar é um compromisso com o próximo,
com aqueles/as que estamos chamados a amar se desejarmos viver realmente a
Boa Notícia.
Neles expressa-se
nossa contínua luta por um bem comum, pela solidariedade, pela justa
distribuição de todo aquilo que toda pessoa precisa para viver.
Para isto Jesus
orienta seus discípulos a olhar para Deus Pai, reconhecendo seu Amor que nos
gera constantemente como filhos/as seus e irmãos/ãs entre si.
Na oração do Pai
Nosso Jesus fala da ação de Deus: é quem faz vir o reino, dá o pão de cada dia,
perdoa os pecados, não nos deixa cair em tentação.
Fica claro que o
sujeito da oração do Pai Nosso é Deus mesmo, somos convidados a nos relacionar
com um Deus vivo,
atuante, participar de sua vida e deixar que ela tome conta de
nós e nos transforme. Isso é orar.
No Primeiro Século,
quando foi redigido pela comunidade lucana, o texto não falava de um Pai que
está "nos céus". Foi séculos mais tarde que isso foi anexado e logo
até foram interpretadas com uma progressiva distância da terra. Entendido
geralmente como um Deus que fica distante, nos céus, fora da realidade terrena,
além da dificuldade que se tem de entender o que é o céu!
Esta ideia é
contrária à imagem de Deus que Jesus nos revela, é um Deus próximo,
como disse Jose Antonio Pagola, presente na vida, na história. Os mesmos verbos usados
para expressar a ação de Deus nessa oração conduzem a descobrir a sua presença,
em nosso coração, no/a outro/a, na realidade.
Na passagem seguinte
à oração do Pai Nosso em que Lucas apresenta a metáfora do amigo inoportuno, a
intenção é mostrar uma atitude importante da pessoa orante, que é a confiança
em Deus.
Devemos ter cuidado
em não buscar nela uma imagem de Deus, porque senão "construiremos"
novamente uma ideia de um Deus distante a quem se precisa trazer à nossa
realidade, senão ele não ouve, não vê, não sente!
Não vai por aí o
ensinamento de Jesus! O que ele quer passar é a importância de nos apresentar a
Deus como somos, mesmo quando nos sentimos longe dele, como com a "porta
fechada"!
Somos nós quem
precisamos acudir a Ele e expressar-lhe o que nos acontece, não porque ele não
o saiba, senão para assim abrir-lhe espaço em nós mesmos/as, nessa situação
concreta para que seu Espírito se mova com liberdade, libertando-nos.
Não precisamos
convencer Deus para que nos ame e salve, porque Ele é o primeiro em estar
interessado na nossa felicidade e lutando por ela na força do Espírito que age
em nós. A "compaixão" que Deus sente pela "miséria humana"
é comparável à reação de uma mãe "diante da dor dos filhos". "Assim Deus
nos ama", afirma Francisco.
E mais ainda é Deus
mesmo quem nos chama e "suplica" para que colaboremos com Ele na
construção de um mundo justo, solidário, livre.
O Deus Pai de Jesus
Cristo que ama todos os seres humanos incondicionalmente é um Deus solidário
conosco até a entrega total de seu Filho, mas na morte o ressuscita, nos
ressuscita na força do seu Espírito.
E esse Espírito que
oferece a todos/as como grande dom, só requer nossa disponibilidade para
acolhê-lo, deixar-nos conduzir por ele.
O Deus de Jesus
Cristo não quer "marionetes", e sim seres humanos livres que entregam
suas vidas à obra de salvação que o Espírito realiza no coração da humanidade.
De mesmo modo como os
primeiros/as amigos/as de Jesus, deixemo-nos possuir pelo Amor do Pai, entremos
em sintonia com sua ação salvadora no mundo e, reconhecendo nossa pequenez,
confiemos na força do Espírito que nos habita e nos encoraja a nos unir cada
vez mais ao "trabalho" do Pai, do Filho, do Espírito Santo: a
felicidade de toda a humanidade!
Oração
Junto
com toda a Igreja dispersa pelo mundo inteiro, rezemos hoje esta oração ao Pai,
Nosso Pai deixando que ela nos ensine a viver como discípulos de Jesus com um
coração semelhante ao seu
Pai
Nosso (versão ecumênica)
Pai
nosso que estás nos céus,
Santificado seja o teu
nome,
venha a nós o teu Reino,
Seja feita a tua
vontade,
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos
dá hoje,
perdoa-nos as nossas
ofensas,
assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido.
E não nos deixes cair em
tentação,
mas livra-nos do mal,
pois teu é o Reino,
o poder e a glória para
sempre.
Amém.
Referências
KONINGS,
Johan. Espírito e
mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de
Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
MONLOUBOU,
Louis. Leer y predicar
el evangelio de Lucas. Santander: Sal Terrae, 1982.
QUEIRUGA,
Andrés Torres. Um Deus
para os dias de hoje. São Paulo: Paulus, 1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário