CATEQUESE
SANTO AGOSTINHO E A PRIMEIRA CATEQUESE AOS NÃO CRISTÃOS
Santo Agostinho nos presenteou com uma obra rara,
possivelmente única em seu gênero, o De
Catechizandis Rudibus, traduzido e publicado no Brasil como Primeira Catequese
aos não Cristãos. É o primeiro manual para catequistas que chegou até nós. O
nosso interesse por ele é mais que justificado. É uma primeira catequese a quem
pensa em se fazer cristão. Anterior, portanto, ao catecumenato, e nos dá uma
boa ideia de como se ingressava nele, no século IV, no Norte da África. Pode
ser datada entre 399 e 405.
O primeiro desafio desta obra já está na tradução de seu
título. Literalmente, poderia ser Catequese aos rudes. Mas isso poderia nos
fazer pensar em pessoas ignorantes ou grosseiras. Agostinho usa, no entanto,
este termo para indicar aos pagãos que se aproximam pela primeira vez de
catequistas cristãos para se informarem sobre o cristianismo, e recebem, assim,
os primeiros rudimentos da fé cristã. Em outras palavras, recebem as
informações essenciais sobre o cristianismo, para saber se de fato querem se
tornar membros da Igreja. Daí a opção por traduzir como primeira catequese, uma
espécie de pré-catecumenato.
O termo catequese procede do grego katechein, que comumente
indicava fazer ressoar, instruir alguém oralmente sobre alguma coisa. Entre os
cristãos, este termo foi aplicado em um contexto religioso e assumiu, muito
cedo, um sentido técnico. Já o encontramos em Gal 6,6. Enquanto tal, katechesis
(catequese) indica uma instrução feita a quem manifestou a intenção de saber
mais sobre o cristianismo e quer receber o batismo, distinguindo-se do Kerigma
(primeiro anúncio), apresentado a quem quer que seja, sem mesmo ter pedido.
A ocasião para este escrito foi o pedido de um diácono da
Igreja de Cartago, Deogratias, que andava insatisfeito com suas catequeses:
“Deogratias, meu irmão, tu me pediste que escrevesse
alguma coisa que te servisse para a primeira catequese a não cristãos. De fato,
contaste que, em Cartago, onde exerces o diaconado, muitas vezes, conduzem a ti
pessoas a serem iniciadas na fé cristã (...) te questionas sobre a maneira mais
fácil de transmitir aquilo que nos torna cristãos pela fé (...) admitiste
também já ter acontecido, muitas vezes, que tu mesmo ficaste abatido e
entediado com teu discurso longo e sem vida... “ (I,1)
Agostinho irá analisar seis razões que podem causar a
insatisfação tanto do catequista quanto do seu ouvinte e para cada uma delas
apresenta uma solução. É uma verdadeira pedagogia catequética, mas que não vem
ao caso para nós nesse momento.
“Uma coisa é verdade: os outros nos ouvem com muito mais
prazer quando nós mesmos estamos contentes com o que fazemos. Pois a nossa
alegria afeta a própria qualidade da nossa fala, que sai mais fácil e
aceitável. (...) O mais importante é que a pessoa catequize com alegria, seja
qual for a maneira que usar (de fato, quanto mais alegre ela for, mais será
agradável). O máximo de empenho deve ser colocado nisso. A regra está aí: ‘Deus
ama quem dá com alegria’; se isso vale para os bens materiais, mais ainda vale
para os bens espirituais” (II,4)
Essa primeira catequese é personalizada e deve partir das
expectativas e circunstâncias de quem está sendo instruído. Já estamos
distantes daquele clima de perseguição imperial, quando se faziam cristãos os
verdadeiramente convertidos. Agora o cristianismo é a religião oficial e única
permitida. Muitos querem se fazer cristãos por motivos nem sempre justos: “Se
alguém quer ser cristão, visando alcançar vantagens das pessoas que pensa
desagradar se não o fizer, ou pretendendo evitar prejuízos daqueles de cuja
ofensa ou inimizade têm medo, de fato, não está querendo ser cristão, mas
somente fingir ser cristão. Pois a fé não é uma questão de ter uma aparência
que agrade aos outros, mas de um coração que crê” (V,9). Daí a importância de
uma investigação prévia sobre o candidato. Aparece aqui o papel do “introdutor”
que era bem delimitado nos séculos anteriores e que agora nem sempre está
presente.
“Na verdade, seria útil, se fosse possível, aqueles que o
conhecessem informar-nos antes, em que estado de ânimo ele se encontra ou quais
os motivos que o levaram a aceitar a religião. Se não houver ninguém que nos
informe, ele mesmo deve ser interrogado, a fim de podermos começar a instrução
a partir daquilo que ele responder” (V,9)
Agostinho sabe que se o candidato se apresentou com falsa
intenção, buscando vantagens humanas, ele irá mentir. Não deverá, no entanto,
ser rejeitado, neste momento, por isso: “... devemos assumir a regra de não
rejeitar a mentira como se já fosse coisa certa, mas fazer com que ele goste de
ser aquilo que deseja parecer. (...) De tua parte, te esforçarás para que ele
acabe por desejar, de própria vontade, aquilo que ainda não estava querendo por
engano ou por fingimento” (V,9). Não é demais lembrarmos que este exame prévio
é apenas para o ingresso no grupo dos catecúmenos. Para receber os sacramentos
da iniciação cristã ainda terá uma longa caminhada e outros exames.
“É verdade que, muitas vezes, a misericórdia de Deus
interfere, através do ministério do catequista, fazendo com que, tocada pela
palavra, a pessoa queira se tornar aquilo que tinha decidido fingir. Quando, de
verdade, começar a querer ser cristão, consideremo-lo como admitido à catequese.
Nunca sabemos quando aquele que já vemos presente de corpo, estará deveras de
coração; mas devemos tratá-lo de tal maneira que nasça nele essa vontade, se é
que ainda não existe” (V,9)
Alegria e
persistência! Eis as duas grandes virtudes que, juntas à fé e à prática de
vida, animam o/a catequista e o/a ajudam na conversão do catequizando.
Pe. Luiz Antônio Belini
Colunista do Jornal Servindo
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