"A VISITA SURPRESA DO MESTRE À
TERRA: COMO SERÁ ELE RECEBIDO!?"
Por Lindolivo Soares Moura (*)
"Nas favelas, no Senado, sujeira
prá todo
lado, ninguém respeita a Constituição Mas todos acreditam
no futuro da nação" (Legião Urbana).
Desceu
um dia o Mestre à terra a observar, se depois de tudo que lhes ensinara, os
homens seus irmãos haviam aprendido a se amar. Como já houvera cumprido sua
missão na Judéia, e tendo ouvido falar que Deus era brasileiro, concluiu que
não haveria melhor lugar para "aterrissar" que aqui, nessas terras de
além-mar. Ouvira também, que segundo dissera alguém, nesta terra de Cruz Santa
desde que aqui se plante com certeza tudo dá. Pelo sim e pelo não - ser humano,
Ele já sabia, é sempre uma interrogação! - optou por chegar em silêncio, na
calada da noite e sem "Hosanas" prá cá e prá lá. Mal porém seus pés
tocaram a terra foi surpreendido com dois pequenos grupos, bandeiras verde
amarelas de um lado e branco e vermelhas do outro, que gritavam, xingavam e se
agrediam mutuamente. A princípio imaginou que se tratasse de algum carnaval
fora de época. Ensaiou dois passinhos prá cá, dois passinhos prá lá, mas
percebendo-se muito fora do compasso, e esquecendo-se de que não estava na
Judéia e sim no Brasil, julgou que aquilo seria querela simples, coisa de pequena
monta entre judeus e samaritanos. Quando a brisa serena e a voz calma do
Espírito sopraram aos seus ouvidos, lembrando-O de que estava no Brasil e não
na Judéia, e que os tempos que aqui se vivia eram tempos de eleição, ficou um
tanto ressabiado com o Pai, que antes d'Ele sair não lhe havia passado essa
informação. Observou pela última vez a cena e concluiu: "então é isso,
coisa da política", e seguiu em frente sem maiores transtornos ou
preocupações. Alugou quarto numa pensão e foi logo repousar, visto que já era
noite e precisava descansar. Fizera longa viagem - sem paradas, imagine! - sem
contar as turbulências que tivera que enfrentar. Deixaria para o dia seguinte,
aí sim com tranquilidade, a tarefa de observar.
Nem
bem o sol nascera e lá estava Ele novamente de pé. Aprontou-se, tomou um rápido
café, saindo então a caminhar pelas ruas e praças, templos e sinagogas, do
centro à periferia, de um lado ao outro das guias. E lá se foi o primeiro dia.
Mal retornou à casa foi direto para o quarto, preocupado em dar início ao seu
relatório. E assim Ele escreveu: "primeiro dia: só vejo e ouço gritos e
berros, confusão e gritaria. Por vezes desentendimentos, brigas, não aquelas
aceitáveis e corriqueiras, fruto da humana natureza que é instinto e paixão;
não, não estou falando destas. Estou falando de brigas estúpidas, sem sentido e
sem razão perceptível, mentes exacerbadas, fora de controle, motivadas por nada
mais que uma aparente antipatia. De irmão pra cima de irmão sem nenhuma
explicação, sem nenhuma outra razão que uma razão desguarnecida, dominada pela
emoção. 'ELES ESTÃO EM PERÍODO DE ELEIÇÃO'", ele se lembrou e fez questão
de anotar com letras pequenas mas garrafais no cantinho da página daquele
primeiro dia.
E
assim foi. Dia após dia, no silêncio e no anonimato, Ele observava e ouvia tudo
com calma, sem correria, e com diligente atenção. Em casa fazia questão de não
perder o noticiário, em especial um horário para com o qual lhe haviam sugerido
especial atenção: "horário eleitoral gratuito", ele registraria em
seu relatório, onde políticos e candidatos a governo e governança apresentariam
suas idéias, seus programas e suas propostas, assim como suas credenciais e
realizações eventuais. Por dias a fio Ele assistiu, esperou, mudou de canal,
mas nada disso adiantou. Pela tela desfilavam apenas brigas, ataques mútuos,
mentiras, e por isso ele cochilou... Cochilou e dormiu, até que por fim se
cansou. Cansado e decepcionado passou noites em oração, até que numa delas foi
arrebatado pelo Espírito a um alto monte. Eis o que aos seus ouvidos o Espírito
lhe soprou
-
ou, melhor dizendo, a "dura" que Ele levou: "Nada de cair em
tentação hein! Você aqui veio como 'observador', e não mais como Messias!Seu
tempo já se cumpriu, e nada de nova chance, terceiro tempo ou prorrogação.
Chega de teimosia: terminou sua missão!".
De
volta à planície Ele até que "tentou" segurar as pontas por um tempo.
Mas a serpente, que de boba não nada, e já havia aprontado das suas no paraíso,
resolveu entrar em cena e aprontar também aqui na terra. Induziu-O a um sono
profundo, e com astúcia e lábia mortífera destilou seu veneno: "Não és
mais o Filho de Deus!? Ahhh, coitado! Vais ficar aqui quieto, parado e sem
fazer nada, enquanto os lobos e as raposas lá fora fazem pequenique, banquete,
sacrificando as ovelhas e os bois mais tenros, comendo alcatra, maminha,
picanha e filet Mignon!? Vais jogar a toalha quando teu rebanho nunca esteve
tão disperso, perdido e disseminado, indo direto para o abatedouro sem esboçar
reação, sem que ninguém o impeça, defenda e lhe estenda a mão?". Acordou
de sobressalto, suado, frio, quase congelado! "Jurou" pelo céu e a
terra que daquele dia em diante as coisas seriam diferentes. Pensou e disse de
si para si mesmo, baixinho, esperando que o Pai e o Espírito estivessem tirando
uma sesta, ou quando não passeando juntos pelos jardins do paraíso: "Se
mainha estivesse aqui - ouvira esse diminutivo carinhoso em algum lugar certa
vez - certeza que ela aprovaria!". Tomou coragem, respirou fundo, e disse
de si para si mesmo: "Agora é
comigo! Não vou fazer como fez Pilatos, lavar as mãos, tirar o corpo fora e
deixar o circo pegando fogo! Ele é ele, uma raposa igual às outras, Eu sou Eu,
o Messias e Filho de Deus!".
O
fato é que no dia seguinte lá estava Ele nas escadarias de um grande templo,
calças apertadas, mangas arregaçadas, cabelos ao vento e barba cerrada,
e...surpresa! Uma voz que de mansa não tinha nada! Pelo contrário, parecia
haver "encarnado" novamente aquele homem irado e contrariado com o
que vira certa vez fazerem no templo os vendilhões. Rosto transfigurado - não
de luz e beleza, como ocorrera um certo dia, mas de indignação e braveza -
encarou os que ali se encontravam e disse baixinho, de si para si mesmo:
"é agora! Seja o que Deus quiser!".
Aos
poucos as pessoas foram se achegando: uns por pura curiosidade, outros por não
ter o que fazer, outros por ver naquele barbudo e cabeludo uma estranha
semelhança com um certo Galileu, outros ainda por querer saber se o seu discurso seria de esquerda ou de direita, e
outros simplesmente porque dormiam sempre ali mesmo, nos altos e baixos daquela
mais do que nunca santa e abençoada escadaria. Elevou os olhos aos céus e
tratou de não perder tempo: "Pai - Ele disse - eu te agradeço porque me
ouvis! Sempre me ouves! Sei que minha missão era outra, mas as coisas mudaram!
O circo está literalmente pegando fogo aqui em baixo! Permanecer em silêncio,
quieto e sem fazer nada, seria no mínimo conspirador! Aqueles que me confiaste, Pai, estão
perdidos, se perdendo ou em vias de se perderem de vez! E queres saber por
quê!? Porque lhes faltam líderes e lideranças de verdade, homens e mulheres
dignos, sábios, probos e provados, pastores confiáveis e bem treinados"! O
rebanho está todo disperso, inseguro, 'sem eira e nem beira' como dizem por
aqui, sem ter para onde ir e tampouco a quem seguir! Resumindo e para ser
breve, e para usar de mais uma expressão bem a gosto que aprendi, está tudo e estão todos num "verdadeiro
balaio de gatos!". Ah! Só mais uma coisa: por favor: não esqueças de pedir
para o mano Espírito dar uma força extra e aparecer mais vezes aqui embaixo. E
se não for pedir muito, peça pra Ele atender os pedidos que chegarem para Mim
até a minha volta".
Baixou
por um momento a cabeça em atitude de escuta, silencioso, como se conversasse
com alguém que só Ele podia ouvir. Depois
arremeteu novamente a cabeça para o alto, transfigurou-se de todo e de
vez, e como se desejasse que sua voz alcançasse os quatro ventos pôs-se a
proclamar solenemente: "Aí de vós, políticos e lideranças de toda sorte e
de todos os partidos, aí de vós! Fazeis prosélitos e mais prosélitos, e os
tornais tão dignos de pena quanto vós mesmos! Cegos e hipócritas, como podereis
guiá-los e orientá-los se vós mesmos não sabeis
como e nem direção!? Caireis todos no mesmo buraco, e não haverá quem de
lá vos tire! Latis como cães, enquanto a caravana passa desgovernada rumo ao
abismo, e não sois capazes sequer de corrigir-lhe o rumo! Apontais erros e
defeitos nos demais, ciscos e "cisquilhos" nos olhos dos outros, e
não enxergais a sujeira e a lama que contaminam os vossos!
Vossos
discursos e vossas falas são como sepulcros caiados, bonitos e atraentes por
fora, mas por dentro repletos de mentira e podridão! Ouvidos limpos e puros não
mais vos podem suportar, tamanha a indecência e a baixaria que saem de vossas
bocas! Pensais que estais em um circo, teatro ou picadeiro!? Quem vos outorgou
permissão para abusar da mentira, manipular os números e agir como se vivêsseis
numa terra sem lei e de ninguém!? Apontais o dedo sem apontar propostas,
programas, caminhos e alternativas de solução! Incitais o ódio, a vingança e a
intolerância, enquanto zombais da justiça e praticais o mal e a perversão!
Basta de tanta sujeira, jogo sujo, roubalheira, enquanto vos proclamais santos
e salvadores da nação! Hipócritas! Não podeis servir ao mesmo tempo dois
senhores, num dia sujando vossas mãos com a rapina do ouro e da prata, e no
outro tentando purificar vossos pés seguindo a marcha das romarias e
procissões! Aí de vós se não vos revestirdes de sacos e cobrirdes de cinza o
vosso rosto! Aí de vós!".
Inclinou
levemente o rosto para o lado como se quisesse se dirigir diretamente a algum
grupo em especial. Fixou-lhe os olhos e continuou: "Ai também de vós
Escribas e Fariseus, Diáconos, Bispos, Presbíteros e Saduceus! Fazeis dos
altares palanques, de onde proferis discursos distorcidos e falas tendenciosas,
comprometidos com o reino dos homens e não com o Reino de Deus! Colocais mais
esmero em fazer prosélitos e adeptos para vossos escolhidos, do que em seguidores e discípulos meus! Escutai-me, e
não vireis para o lado o vosso rosto, vós que de dia vestis a túnica e a estola
e na calada da noite marcais presença em reuniões de seitas infiéis e facções
criminosas! Vós que vos revestis do hábito, da túnica e da correia, e depois
vos sentais à mesa com confrarias enganosas e suspeitosas, a quem chamais de
viramos', mas que não temem em pronunciar o nome de Deus em vão! Ai de vós que
descurais do rebanho e o deixais vulnerável e à mercê das investidas de lobos,
predadores e animais de rapina. Vossa desgraça será ainda maior no juízo
oportuno que sobre vós há de recair. Cobrais do órfão e da viúva cada centavo
do dízimo e dizeis: 'é corban!', e depois saqueais as ofertas e as desviais
para vossos cofres a fim de levantardes celeiro sobre celeiro sem que ninguém o
saiba! Ai de vós todos, se também não vos revestirdes de sacos e cobrirdes com
cinza o vosso rosto! Grande será o vosso castigo e maior ainda a vossa
ruína!".
Virou-se
uma vez mais, agora para o lado oposto, e como se desejasse apontar com os
dedos certa gente, continuou a bradar ainda mais veemente: "Que direi de
vós, Juízes e tribunais iníquos, a vós a quem foi outorgada a missão de
praticar o Direito e distribuir a justiça! Não está escrito que a vós vos cabe
por função tão somente interpretar e aplicar as leis!? No entanto vós o fazeis
de forma tão elástica e distorcida que acabais vos tornando verdadeiros
legisladores! E o que é ainda pior, em causa própria e para servir vossos senhores!
O grito dos inocentes tem chegado até mim, e Eu bem sei com que força e vigor!
Tratais e julgais com rigor extremo aqueles que por vezes tomam para comer,
saciar seus filhos e sobreviver, enquanto fazeis vista grossa para com aqueles
que roubam milhões, expoliam meu povo e o mantém cada vez mais pobre e
miserável! Não fazeis o mesmo também vós!? Ou acreditais que vossos crimes e
delitos a mim hão de passar despercebidos!?Manipulais os códigos, as leis e as
constituições, e por causa de vossas maculadas e distorcidas interpretações o
criminoso anda à solta e o inocente é mantido nas prisões! Juro por mim mesmo
que não havereis de ficar impunes! E quanto menos impunes permanecerdes em meio
aos homens, maior serão a pena e o castigo que recebereis! Bebereis do vosso
próprio veneno: não foi dito de vós que "seríeis como deuses"!? Se
sois das alturas tanto maior será a vossa queda, e pior ainda há de ser a vossa
ruína! Das profundezas clamareis, mas não haverá quem vos ouça! Devereis antes
pagar por vossos crimes e vos penitenciar por vossos pecados! E antes que cada
uma das minhas palavras se cumpra, não vos enganeis: de lá não saireis! Pobres
também de vós se não vos converterdes e deixardes de praticar o quanto antes
vossas deliberações injustas e vossas iníquas ações! Pobres de vós!".
Desviou
ainda o olhar como se quisesse falar a todos por igual e a ninguém em
particular. Tomou fôlego e prosseguiu: "E vós que semeais joio, cizânia, e
todo tipo de erva daninha, escutai com atenção o que vos tenho a dizer!
Esperais a calada da noite para esparramar em meio ao trigo a vossa má semente,
enquanto durante o dia fazeis uso criminoso e nefasto de vossa inteligência
para municiar complexas máquinas com mentiras, calúnias e falsidades! Por vossa
maldade o justo e o reto agora incorrem no erro e na enganação, escolhendo mal
quando gostariam de se decidir pelo bem! Dizei-me, Eu vos pergunto: a quem
deverei imputar tão grande culpa, a eles ou a vós? Se não me respondeis vos
respondo Eu: não a eles, mas a vós! A parte que a eles cabe, a vós
acrescentarei!Pagareis por eles e por vós mesmos, Eu o Justo assim o decretei!
A verdade que ocultastes, a mentira que semeastes, assim como cada calúnia,
falsidade, injúria e difamação, delas uma por uma tereis que prestar conta! Esquecestes-vos do que foi dito:
"conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"!? Ignorais os meus
preceitos como faz o ladrão, que escarnece da justiça e zomba da punição! Por
terdes semeado em meio à boa semente, semente má, é que já não se distingue mais
com clareza o trigo do joio, a verdade da mentira, o cordeiro do lobo e a boa
da má intenção. Por causa disso deturpou-se a visão do justo e tornou-se
confusa e embaralhada sua percepção. E assim ele acaba sofrendo ainda mais, em
razão de suas equivocadas escolhas e comprometedoras decisões.
E
não vos iludais: junto com meu povo vós também sofrereis! Oxalá vos arrependais
a tempo, e quem sabe Eu não vos poupe do castigo que mereceis! Aí também de
vós, se não renunciardes a tempo às vossas práticas iníquas que induzem ao erro
e atraem danação! Ai de vós!".
Por
fim dirigiu fixamente o olhar para aqueles que agora pareciam ouvi-lo com mais
atenção. Sua voz se mantinha ainda firme, mas seu rosto sugeria afeto e
predileção: "E vós, filhos e filhas desta geração! Não vos esqueçais -
bradou bem alto - que esta grande nação, hoje prostituída, grande dama já foi
um dia! Por qual razão vos perseguis mutuamente, e por bem pouco nãos vos
matais uns aos outros, irmão contra o próprio irmão!? Enquanto fazeis isso aqueles
que vos enganam se riem, zombam de vós e se banqueteiam! Pobres também de vós!
Desejaria Eu reunir-vos novamente como um só povo e uma grande nação! Mas por
agora vossas mentes e vossos corações estão abarrotados de ódio, intolerância,
vingança e retaliação! Não por vossa própria culpa, bem o sei, mas porque
fostes e continuais sendo orientados por guias falsos, pastores cegos, líderes inescrupulosos que desconhecem
princípios e violam as leis, desdenham da justiça e compram sentenças, agindo
com perfídia e má intenção. Aí de vós, eu vos digo, por largo tempo sofrereis
ainda em suas mãos! Eu porém vos asseguro: não vos desespereis, pois no tempo
certo conhecereis a vossa libertação! Pela hora, não me pergunteis, pois
tampouco a mim foi dado conhecê-la. Gerações e gerações talvez sejam
necessárias para que essa raça de serpentes venenosas e víboras peçonhentas
desapareça de vez! Quando sobrevier esse tempo sereis então aliviados do pesado
jugo que carregais sobre os ombros, e definitivamente libertados da escravidão.
Escravizaram os pais e agora escravizam os filhos, uma a uma, geração após
geração! Enquanto aguardais que o tempo se cumpra Eu vos advirto: guardai-vos
de todos aqueles que vos impõem pesados fardos e não são capazes de levantar um
dedo sequer para diminuir vosso sofrimento e minimizar vossa servidão!
Cuidai-vos de não vos deixar enganar por suas palavras e seduzir por suas
promessas! São mestres da retórica e da eloquência, do convencimento e da
persuasão! Proferem discursos arrebatadores mas igualmente enganadores, e de
suas bocas saem juras que jamais cumprirão! Acautelai-vos deles como a serpente
se mantém precavida para com seus predadores! Cedo ou tarde eles tentarão
entrar em vossas casas, arrombar vossas portas, violentar vossos filhos e
filhas e sair de mansinho, às escondidas, como faz o ladrão!".
Nesse
momento um burburinho nascido não se podia saber de onde começou a emergir em
meio à multidão. Fez silêncio como se desejasse ouvir melhor, e o que pôde
discernir foram duas ou três palavras que deixaram inquieto seu coração:
"vamo-nos daqui - disse alguém a outro alguém - não tarda para que logo tudo isso se
transforme em confusão!". Três ou quatro ao seu lado, que a princípio Lhe
pareciam os mais atentos, foram saindo juntos, de mansinho, numa atitude que
Lhe soou suspeita e estranha. A imagem do antigo traidor povoou por alguns
segundos sua imaginação. Ainda um pequeno grupo que mal chegara, aparentemente
de ministros sagrados, mantenedores da ordem e alguns engravatados, cochichavam
entre si buscando acordo sobre o que fazer com Ele. Como já haviam presenciado
palavras e atitudes parecidas, estranhas mas não ameaçadoras, de um certo Pokemon que como Ele aparecera de
imprevisto pela região, resolveram deixá-Lo em paz. Decidiu entretanto que
seria melhor não realizar nenhum milagre ou sinal à vista deles. Uma jovem
porém, que segundo diziam há anos era de tal forma consumida pelas drogas e a
prostituição, que mais parecia estar "possuída" que desmilinguida,
aproximou-se discretamente por trás e Lhe tocou as vestes, pondo-se a correr em
seguida sem rumo e sem direção. "Alguém me tocou!", disse Ele,
tentando identificar com o olhar quem o fizera, mas foi em vão. "Acabarão
por prender ou matar esse homem!", foram as últimas palavras que conseguira
ouvir.
Quando
uma branca pomba voou rasante por sobre Ele, e a lembrança de uma antiga cruz
passou velozmente por sua cabeça, decidiu que talvez fosse ora de deixar aquele
lugar. Abrindo alas e passando solenemente no meio deles, como se de autoridade
para isso tivesse sido revestido, atravessou toda a praça e seguiu direto para
casa. Antes mesmo que se jogasse à cama, exausto que estava e carente de
recobrar as forças para enfrentar o amanhã de um novo dia, a campainha do
quarto tocou. "Quem é?", perguntou enquanto à porta se dirigia.
"Pizza, pizzaria", foi a resposta. Tinha certeza de não haver feito
pedido algum. "Não só de pão vive o homem!", sussurrou com um sorriso
maroto para si mesmo. Ato continuo, acossado pela fome acrescentou: "mas
também!". Abriu a porta, saiu, e dele nunca mais falar se ouviu!
L.S.M. Outubro,Eleições 2022
(*) Enviado
por whatsapp
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