ANÁLISES E AVALIAÇÕES DAS ELEIÇÕES BRASILEIRAS
Resultado do 1º turno das eleições
e impactos esperados na política, mercados e economia
No domingo, 02 de
outubro, 1º turno das outubro, eleições ocorreu no Brasil, com votações para
Presidente, Governadores estaduais, Senado e Deputados Federais e Estaduais. No
total, 122 milhões de eleitores compareceram às urnas, e o nível de abstenção
ficou em 20,9%, similar a eleições passadas.
Trazemos, nesse
relatório, o comentário das nossas equipes de análise Política, Economia e
Estratégia, sobre os resultados e o que esperar para os preços de ativos e
mercados.
O segundo turno entre
Lula e Bolsonaro
Equipe XP Política
Em que pese nosso
cenário já contemplasse uma dianteira de Lula sobre Jair Bolsonaro menor que os
13 pontos anotados pelas pesquisas de véspera, o resultado do primeiro turno da
disputa presidencial, com uma vantagem de 5 pontos a favor do petista, reduz a
probabilidade de vitória do ex-presidente em segundo turno, embora, em um
primeiro momento, não lhe subtraia seguir com ainda um certo favoritismo no 2º
turno.
Isso porque, com 99,4%
das urnas apuradas, havia cerca de 8,4 pontos em disputa — Bolsonaro precisaria
conquistar pelo menos 79% deles para ser vitorioso daqui quatro semanas.
E, nas últimas
semanas, a migração potencial estimada não parecia o favorecer: dos cerca de 6%
que Ciro Gomes registrava em pesquisas, algo entre 3 e 4 pontos migravam para
Lula no segundo e cerca de 1 ponto ia para Bolsonaro. Dos cerca de 4% de
Simone, 2 pontos iam para Lula e 1 ponto para Bolsonaro no segundo turno — em
que pese o estudo sobre migração de votos tenha limitações, seja pelos
movimentos de reta final, seja pela pequena amostra oriunda dos votos já magros
de antes.
Em termos absolutos,
fez muita diferença para o resultado deste domingo a discrepância nos estados
do Sudeste: em São Paulo, pesquisas davam perto de 10 pontos de vantagem de
Lula sobre o presidente, enquanto Bolsonaro teve 7 pontos de dianteira sobre o
petista. Minas Gerais e Rio de Janeiro tiveram resultados na mesma direção.
A distância menor, por
óbvio, dá fôlego à narrativa da campanha de Bolsonaro — ainda mais porque o
comitê petista chegou à reta final falando em “onda” que poderia lhe dar a
vitória em primeiro turno. Embora atrás, Bolonaro sai do primeiro
turno com cara de vitorioso.
Para o segundo turno, ele
contará também com relevantes aliados em estados populosos. Em Minas, Romeu
Zema, reeleito, ganha incentivos a fazer campanha para Bolsonaro, e a dianteira
de Tarcísio de Freitas em São Paulo lhe dá importante palanque no maior colégio
eleitoral do país. A ordem, portanto, é investir pesado nesses dois estados e
aproveitar a vantagem conquistada Brasil afora, como nas 18 vagas conquistadas
de um total de 27 para o Senado, para ter palanques fortes, capazes de inverter
a vantagem de Lula
A campanha de
Lula, que contava com um segundo turno em que apenas administraria a dianteira
por quatro semanas, precisará se reinventar para manter o fôlego. Lula buscará
ampliar a frente democrática com apoio dos partidos que não embarcaram no
primeiro turno, como o MDB de Simone Tebet — que acabou superando Ciro — com
expectativa de que a própria senadora declare seu voto no petista.
Impacto esperado para
preços de ativos nos mercados
Fernando Ferreira,
Jennie Li e equipe
O resultado das
eleições mostra uma eleição muito mais apertada do que era esperado
inicialmente. Isso trará possivelmente acenos mais ao centro por parte dos dois
candidatos, na tentativa de atrair o eleitor de centro e ainda indeciso. Para os preços de
ativos brasileiros, vemos esse cenário de uma eleição mais próxima possa ser
recebido positivamente pelos investidores.
Além disso, as
eleições do Congresso nacional também indicam uma força relevante dos partidos
de Centro e de Direita. Isso indica que o próximo presidente, seja ele Lula ou
Bolsonaro, terá que seguir negociando com a Câmara e o Senado nas pautas mais
importantes.
Porém, vale lembrar
que o cenário global e externo segue desafiador, o que pode também seguir
pesando nos ativos brasileiros nas próximas semanas, durante o 2º turno. Nos
últimos dias, notícias sobre possíveis dificuldades em alguns bancos Europeus
foram o destaque.
O pleito segue em
aberto para o 2º turno, e o mercado deve acompanhar de perto as próximas
evoluções dos candidatos e suas propostas. Isso pode vir a elevar um pouco a
volatilidade do mercado, que segue em um patamar baixo em relação ao histórico
durante períodos eleitorais, como
demonstramos nesse relatório.
Os papéis e setores
que tendem a ser mais sensíveis às eleições são as estatais (como Petrobras e Banco do Brasil), e setores
domésticos como educação, imobiliário e varejistas. Além disso, papéis
ligados às eleições estaduais também podem ter bom desempenho por conta da
eleição de candidatos da direita, como Sabesp (SBSP3), com o forte
resultado do candidato Tarcísio de Freitas no 1º turno, Cemig (CMIG4) com a reeleição do
governador Zema, e Banrisul (BRSR6) com o 2º turno
entre Onyx Lorenzoni e o ex-governador Eduardo Leite.
Nós continuamos
enxergando a Bolsa brasileira como atrativa, pois segue
negociando em um indicador de Preço/Lucro de 6,6x, 40% de desconto em relação à
média histórica. Em
nosso Raio-XP desse mês, mantemos o valor justo do Ibovespa em 130 mil pontos
inalterado esse mês. A queda dos juros futuros (DIs) de longo prazo no Brasil
segue sendo um suporte importante para o valor justo da Bolsa.
Política fiscal
adiante segue sendo a principal dúvida no âmbito econômico
Caio Megale e equipe
Do ponto de vista da
política econômica, o primeiro turno da campanha trouxe pouca novidade. Tanto o
presidente Bolsonaro quanto o ex-presidente Lula sinalizaram a intenção de
substituir o teto constitucional de gastos como principal âncora fiscal, mas
não está claro o que vem a seguir. Considerando que o Brasil ainda possui
dívida e serviço da dívida elevados, a diretriz da política
fiscal a partir de 2023 é fundamental para que as expectativas de inflação
continuem caindo,
abrindo espaço para o Banco Central reduzir juros adiante.
Além disso, muito
pouco se falou sobre reformas estruturais, como reforma tributária e reforma
administrativa.
Isso vai mudar nas
próximas semanas? Possivelmente sim, mas provavelmente não muito.
O resultado
relativamente apertado no primeiro turno pode pressionar Lula a dar mais
detalhes sobre seu plano econômico e equipe, para atrair os
eleitores mais moderados. O presidente Bolsonaro, por sua vez, tende a reforçar a
importância de seu programa de transferência de renda Auxílio-Brasil para reverter
parte da vantagem expressiva de Lula na região Nordeste.
Ainda assim, por ora não parece
provável que muitos detalhes dos planos para a política econômica sejam
divulgados.
Se for esse o caso, os mercados tendem a permanecer voláteis pelo menos até o
final do segundo turno. Os indicadores econômicos correntes devem permanecer
positivos, com crescimento sólido, inflação em queda e resultados fiscais e de
balanço de pagamentos saudáveis. Mas isso não importa muito, em meio a elevados
riscos globais e locais para 2023.
Cientistas políticos avaliam cenários
para o 2º turno da disputa presidencial
Professores da FGV e USP apontam que apoios aos
candidatos no segundo turno devem movimentar as campanhas
Em entrevista à CNN nesta
quarta-feira (5), cientistas políticos e professores da Fundação Getulio Vargas (FGV) e
da USP avaliaram o cenário eleitoral para o segundo turno da eleição
presidencial e como os apoios políticos podem fortalecer as campanhas.
Segundo Marco Antonio
Teixeira, professor da FGV, o governador de São Paulo, Rodrigo
Garcia (PSDB), “criou uma crise sem precedentes no PSDB” ao
declarar apoio a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na avaliação do
especialista, “parte do secretariado [de Garcia] pode abandonar o governo
inclusive”. Segundo Teixeira, “uma consequência da fragmentação partidária é a
individualização da política”.
“O único grande partido
que tomou uma posição partidária [em relação ao segundo turno] foi o PDT, que
trouxe Ciro
Gomes nessa posição”, disse à CNN.
Contudo, o professor
pontuou que “a impressão que se teve é que Ciro não veio muito confortável”
Movimentações
para ganhar voto
Eduardo Grin, cientista
político e professor da FGV-RJ, disse à CNN nesta quarta-feira (5) que os
candidatos à disputa no segundo turno das eleições precisarão fazer
“movimentações” para ganhar votos.
“Não adianta ter apoio se
o movimento junto ao eleitor não se modificar”, afirmou.
“Para que haja mudança de
voto, no caso de Bolsonaro, ele precisa reduzir a sua rejeição e aumentar a
rejeição de Lula”, afirmou.
No caso do apoio ao
ex-presidente Lula, Grin avalia que os apoios serão importantes para eleitores
que ainda têm rejeição ao PT.
“Esses apoios que estão
por vir [a Lula] têm muita relevância, porque significa, para uma ampla parcela
da sociedade que tinha, e ainda tem, uma rejeição ao PT, algum tipo de
credibilidade para emprestar apoio ao seu voto”.
Segundo ele, “o MDB vai para
esse segundo turno rachado”. O professor explica queu no Sul o apoio de mebros
do partido deve vir a Jair Bolsonaro e no Nordeste para Lula.
“O MDB não vai entrar
nessa eleição identificado, mas Simone Tebet tem um apoio importante porque
terminou o primeiro turno em alta. Isso pode ‘emprestar’ a Lula uma
credibilidade maior no sentido de olhar para o centro”, disse.
Avaliando o cenário
atual, Grin afirma que é “preciso verificar como esses apoios políticos vão se
desdobrar na campanha daqui para frente”.
No entanto, o professor
afirma que “na simbologia e na força política, os apoios destinados a Bolsonaro
fazem ele “arrancar na frente”.
Eleições 2022:
Bolsonaro e Lula miram rejeição e transferência de voto em campanha do 2º turno
Por Matheus
Caselato
Começou nesta sexta-feira (7) a divulgação
das propagandas eleitorais gratuitas na
televisão e no rádio para o segundo turno das eleições presidenciais.
Mas a campanha teve início ainda no domingo (2), minutos depois que os
candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) tiveram a
confirmação que a disputa será entre eles.
Já no discurso após a confirmação do
resultado do primeiro turno, tanto Lula quanto Bolsonaro iniciaram suas
narrativas pensando no próximo dia 30 de outubro, quando será realizado o
segundo turno das eleições. Nos dias que se
seguiram os dois candidatos também já começaram a buscar apoio de outros
candidatos e partidos.
“Claramente, são duas propostas diferentes.
Dois líderes de massa diferentes. Dois governos diferentes. Duas visões de
mundo diferentes. O eleitor não terá dificuldade de diferenciar uma coisa da
outra”, afirma Cleber Benvegnú, colunista do Money Times e
especialista em gestão de imagem.
“Lula está mais perto numericamente da
vitória, mas Bolsonaro avançou muitas casas politicamente – com o resultado do
primeiro turno, contrariando as pesquisas,
e já nos primeiros dias do segundo turno”, analisa o consultor político.
Foco é no aumento da rejeição
Para o cientista político Bruno Soller, a
campanha do segundo turno será negativa, visando o eleitor que não teve nenhum
dos dois candidatos como primeira escolha.
“Assim, as campanhas buscam atingir ao máximo
o adversário para que o eleitor, na hora da escolha, escolha aquela que menos
desagrada. Então, as campanhas acabam apelando muito pra isso”, explica.
Para Soller, o resultado do primeiro turno
deve ser visto como um fator determinante para o posicionamento das campanhas.
“Basicamente houve um segundo turno no primeiro já que o voto da terceira via
foi o mais insignificante dos últimos anos”, emenda.
Ele se refere aos candidatos derrotados
Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), que tiveram somados, 7% dos votos.
Benvegnú concorda que esse será o mote das
campanhas no segundo turno será negativo. “Não há outro caminho. Política é
sobre o que você aprova, mas também sobre o que você rejeita”, afirma.
Além disso, o colunista lembra que a rejeição
movimenta mais o eleitor do que eventual adesão.
Apoio e
transferência de voto
Apesar de
tanto Lula quanto Bolsonaro correrem para conseguiu o maior número de adesão às
suas candidaturas, Benvegnú não vê impacto desses apoios no número total de
votos.
“Político
não transmite votos como outrora, ao menos não automaticamente. O eleitor é
independente, está muito mais informado e muito mais politizado”, explica.
Ainda
assim, ele observa que os apoios geram uma percepção simbólica muito forte.
“Mas não é isso que decide, claro”, emenda.
Soller
também avalia que o simples apoio de um candidato não é certeza de
transferência de voto. “Os apoios mostram um pouco de pluralidade, mas no ponto
de vista de voto é uma outra circunstância”, diz.
Como
exemplo, ele cita que Simone teve, em São Paulo, um voto mais da classe média,
o que dificilmente deve ir para o Lula. Trata-se de algo diferente dos votos do
Nordeste em Ciro, que devem migrar para o petista.
“Mas é
muito difícil ter certeza desse movimento de votos de um candidato ao outro
pelo simples apoio que ele mostra”, ressalta o cientista político.
Não é bem
assim…
Apesar da
dificuldade de conquistar votos devido ao apoio, o cientista político Renato
Dolci acredita que Bolsonaro conseguiu sair na frente. Afinal, em termos de
proximidade com os eleitores, os governadores têm mais representatividade que
os candidatos à Presidência.
“É
difícil determinar se apoio traz migração de voto. Mostrar publicamente apoio é
sempre relevante, mas isso não significa que vai haver votos migrando,
principalmente nessas eleições”, destacou Dolci.
Nesse
sentido, Bolsonaro parece ter mais impacto. “Os apoios dos governadores acabam
sendo mais relevantes porque eles estão mais próximos dos seus estados, muitos
até em campanha”
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