REFLEXÃO DOMINICAL II
JUIZ
INJUSTO, PEDINTES INCRÉDULOS.
Um juiz que não teme
a Deus e não respeita homem algum. Pra que serve um juiz assim? Se seus critérios
não são ditados pela sua visão da existência e do ideal que deve permeá-la, se
suas decisões não se prestam a produzir o bem para os que o procuram; quais
seriam, então, as balizas da sua atividade de julgamento? Seria o seu estado de
humor? Quem sabe a simpatia dos que ele devia julgar? Juiz iníquo, não merece
esse posto, não é digno desse nome! Entretanto, em nome do sossego e do seu
próprio egocentrismo, ele é capaz de atender ao pedido de uma pessoa incômoda.
Mulher insistente, sem poder nenhum de pressão, sem qualquer força para obter o
que desejava de uma autoridade como o juiz e, por isso mesmo, alguém que não
tinha o que perder e, portanto, podia arriscar tudo. Essa pessoa foi capaz de
produzir uma reação imediata e benéfica, não em razão da bondade do juiz, mas
de sua própria teimosia. Sua determinação se transformou em força de pressão,
sua perseverança acabou produzindo o que não aconteceria pela bondade do homem
orgulhoso e prepotente, porque bondade não havia nele. Se se tratasse de um bom
juiz, de um homem justo, provavelmente a viúva teria sido atendida antes de
todos os outros que pleiteavam algum direito, porque sua extrema necessidade
conferiria urgência ao seu caso. Para um coração bom, quem precisa mais deve,
necessariamente, ser atendido antes. A pergunta para a nossa reflexão é: De que
tipo de Deus estamos falando quando lhe apresentamos nossas súplicas? De um
juiz iníquo ou de um pai amoroso? De alguém que não teme nem respeita ninguém
ou de um coração sensível e misericordioso? Se até o juiz iníquo sabe atender o
pedido de uma pessoa suplicante em razão de sua perseverança, o que não esperar
de alguém que se confunde com sua bondade? As razões de Jesus ao contar a
parábola estão claras na própria estória que contou: Queria mostrar a
necessidade de rezar sempre e de não desistir nunca. Porém, o seu
questionamento sobre a atitude de seus ouvintes também está expresso na
conclusão de seu ensinamento: O Filho do Homem, quando vier, ainda encontrará
fé sobre a terra? Isto é, os que dizem acreditar serão capazes de esperar o
tempo que for preciso sabendo que Deus tem seu tempo? Estão convictos de que
sua ação pode demorar, mas não faltará? Jesus provoca a reflexão daqueles
homens e dos de nosso tempo também. Deus não é um juiz iníquo, que não se
solidariza com ninguém. Deus é um Pai generoso que se compadece de todos. Mas
será que os que dizem acreditar nele são capazes de colocar à prova a própria
fé? Quanto dura sua confiança? Quanta contrariedade e silêncio de Deus são
capazes de suportar sem deixar de crer e de esperar Nele? Será que, pelo menos
de longe, parecemos com aquela viúva, sabendo que Deus não se parece em nada,
nem de longe, com aquele juiz?
Dom Rogério Augusto das Neves Bispo Auxiliar de São Paulo
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