REFLEXÃO DOMINICAL II
ANIQUILAR-SE EM FAVOR DO REINO
A Liturgia de hoje
está centrada no tema da humildade. Deus é Pai e ama igualmente a todos os
filhos. No entanto, se alguma vez manifestou preferência, foi pelos
desprotegidos: as viúvas, os órfãos, os pobres, os que se dirigem a Ele com
espírito contrito e humilde. Jesus opõe dois extremos: o fariseu, expressão
excelsa da piedade e da moralidade; e o publicano que, por sua profissão, é a
suprema expressão do pecador, apartado dos ideais religiosos. Os dois rezam: através
da oração, o ser humano demonstra como se relaciona com os outros e com Deus. O
fariseu é apresentado qual modelo de pessoa que se sente segura de si mesma,
pois cumpre metodicamente a observância religiosa. Ele apenas informa a Deus o
quanto é bom e dá graças por sua conduta exemplar. Estabelece um confronto de
igual para igual: nada suplica a Deus. Se ilude em ter linha direta com o
Criador, eliminando as distâncias com um palavreado enganador, que acaba por
engambelar a si mesmo. No publicano, Deus salva quem julga nada ter a
apresentar, quem sente necessidade de se converter. Conhecedor da própria
fragilidade, o publicano entrega-se a Deus sem reservas e espera em Sua
misericórdia: nossa fragilidade põe em movimento a força de Deus. O publicano sabe
que é pecador e não se arvora merecedor da misericórdia de Deus. Essa postura
nos recorda o Salmo 50: aguardar que Deus acolha um coração contrito; obter a
salvação, uma vez que é um dom de Deus. O fariseu não a conquista, pois se
pensa merecedor dela. Nas estradas da vida, encontramos pessoas que se julgam
merecedoras das graças de Deus mas, se puxarmos “a capivara”,... sai de baixo!
Eu sei que seria mais elegante dizer: “se olharmos o curriculum vitae mais a
fundo”, mas eu quis mesmo acenar com a possibilidade do riso. Quero dizer uma
palavra sobre o Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância
Missionária, que celebramos hoje. Na Carta a Timóteo, São Paulo mostra o cerne
do espírito missionário: em suas tribulações aprendeu a gloriar-se em Jesus -
que lhe deu forças e, então, espera confiante que o Justo Juiz lhe conceda a
coroa da justiça. Longe de gloriar-se pelo bem que fez, afirma ter sido
sustentado por Deus. E decidiu doar a vida! Certo cantor, desafiando nosso bom
senso, berrou: “Meus heróis morreram de overdose”. Que ninguém tenha tal pessoa
como modelo. Nossos heróis morreram de tanto doar a vida, de muito ofertar-se a
uma causa/ missão. Meu Herói deu a vida por mim, por nós! A verdadeira
humildade reconhece e glorifica a Deus por todos os bens recebidos. Se a
empáfia é a mãe de todo pecado, a humildade é a mãe de toda virtude. Dom Hélder
Câmara escreveu: “Sejamos como as canas: mesmo colocadas na moenda, esmagadas,
reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”. A exemplo de Nossa Senhora! A exemplo
de um incontável número de missionários e missionárias! Doemos orações e
recursos aos que doam a vida.
Dom Jorge Pierozan Bispo Auxiliar de São Paulo
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